Capítulo 22

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Lia

“Eu te amo, Lia, eu te amo.”, a voz é sussurrante no meu ouvido e a sensação me sufoca, me faz querer gritar, eu quero falar qualquer coisa em protesto, mas não consigo, quero fugir, mas é impossível pelas mãos que me seguram com força. Então eu acordo ensopada de suor gelado escorrendo pelo meu corpo. Eu odeio estes sonhos, odeio a sensação aterrorizante de estar paralisada.
Preciso me levantar e ir até o banheiro pegar um remédio para dormir, caso contrário não vou conseguir voltar a fechar os olhos sem reviver o pesadelo que me fez despertar gritando. Ao menos desta vez eu consegui acordar. Há dias que eu fico revivendo as mesmas imagens sem conseguir efetivamente sair do ciclo pavoroso.
Às vezes eu chego a duvidar da minha própria sanidade. Já acordei no meio da rua algumas vezes, completamente vestida e como se estivesse ciente do que estou fazendo. Isso melhorou depois dos remédios que Erin me deu para dormir. Ela atribui tudo isso a uma forte carga emocional reprimida, iniciada depois da faculdade, mais precisamente depois do bebê.
Caralho, tem dias que eu consigo não pensar nisso. Tem dias que parece que uma nuvem negra toma conta dos meus pensamentos, tão forte que eu mal consigo existir. Depois do interrogatório é só o que está me consumindo. O rosto da detetive Sanchez me perguntando se o bebê era de Mason. A revisão culposa de cada decisão que eu tomei na vida.
Eu ainda sinto o remédio cruzando a minha garganta quando lavo o rosto na pia e coloco a mão sobre a barriga, como quando o teste de farmácia deu positivo. Exceto que agora não há nada crescendo dentro de mim, muito menos vindo de Mason Chadwick. Bem, nada a não ser culpa e desalento.
Fiquei tão brava com Tyler por ter me feito reviver isso, mas minha cabeça quer considerar que ele de fato quer me ajudar. Ele chegou até mesmo a pensar que Mason poderia ser o assassino de Gavin. Fecho os olhos e lembro da voz no meu ouvido. “Eu te amo, Lia, eu te amo.”, e um arrepio percorre a minha espinha.
Se isso era amor, o que poderia ser desamor?
Pego meu celular e deito novamente na cama, certa de que em alguns minutos vou ter a paz que preciso. Há algumas mensagens não lidas e uma delas me faz dar um pulo da cama.
> Clark Dickens está morto. Alguma ideia do que dizer à polícia?
Meu coração dispara e meu corpo inteiro parece eletrizado, é como se eu parasse de respirar por alguns minutos. Nem mesmo os remédios serão capazes de me dar uma boa noite de sono agora.
Pela manhã Erin nota meu nervosismo assim que coloca os olhos em mim, eu chego atrasada, como sempre, em mais um treino de natação e ela já está na piscina. Mergulho na água aquecida e instantaneamente é como se meu corpo relaxasse. Eu nado tentando pensar em todas as perguntas que Tyler McKenzie e Rafaella Sanchez me farão sobre Clark. Quando o vi pela última vez, qual era nosso relacionamento, éramos próximos?
Mais uma vez eu não tenho boas respostas pra isso. Mais uma vez estarei soando mais culpada do que o diabo pelos males causados a Gavin e Clark.
Subo para buscar ar e Erin me agarra.
– Nem um oi decente eu mereço, Viúva? Estou me sentindo como os caras que você não repete. – ela ri e a abraço forte.
– Me desculpe, não quis atrapalhar seu treino. – digo nadando com ela até a borda da piscina.
– Está tudo bem, meu amor? – Erin tira os óculos de natação e vejo seus olhos meio vermelhos.
– Sim, está. – digo e ela me encara séria.
– Ontem tive que responder perguntas sobre Gavin Linden e Clark Dickens para a polícia. Tyler e a parceira dela. – Erin sussurra.
– Caralho. – bato na água nervosa.
– Você sabia que Clark Dickens também foi assassinado, Lia?
– Soube esta madrugada. – o assunto enjoa meu estômago e Erin acaricia meu rosto. – Eu sou suspeita por Gavin, Erin. – confesso finalmente.
– Isso é ridículo. Por que você mataria Gavin Linden? Ele é um idiota, mas se fosse realmente para você matar alguém, seria Mason e não Gavin. – ela tenta humorar a conversa, mas não consigo sorrir.
– Tyler está investigando se Mason teria motivos para matar Gavin, mas a morte de Clark agora parece deslocar essa teoria.
– Ele estava trabalhando com a possibilidade de Mason ter ciúmes de você e Gavin? Me perguntaram isso algumas vezes.
– A princípio sim, mas eu nunca cheguei perto de Clark. – minha memória tenta recobrar se esta afirmação é real.
– Meu amor, você não fez nada. Eu disse à polícia que você seria incapaz de matar qualquer um, ainda mais cruelmente. Tyler já te viu capaz de crueldades, mas ele acha que você é inocente. Já é uma boa ajuda.
– Estou só esperando ele e a detetive Shakira me chamarem novamente. – suspiro e Erin me abraça.
– Vai ficar tudo bem, meu amor. – ela aperta os braços ao meu redor.
Eu quero acreditar em Erin, mas as coisas parecem longe de “bem”.
– Perguntaram sobre você?
– Lia, eu estava com Victor no dia que Gavin morreu e em casa na madrugada de quinta. Você mesma me viu descer do táxi que nos tirou de Safeword.
– Eu sei. Só não quero Tyler atormentando você.
– A única tormenta que ele provoca em mim é dentro da minha calcinha, meu amor. – ela fala divertida.
Tyler é bom. Ele é muito bom e Erin realmente não o adularia se não fosse verdade. Meu corpo se aquece mesmo dentro da água, numa vontade quase incontrolável de estar com Tyler, sentir seu cheiro e seu gosto. Espremo as mãos na borda da piscina.
– Você e ele formam uma dupla e tanto, Lia. Ver vocês dois juntos é como assistir uma reação química perfeita, com efervescência, cores e calor.
Eu rio da comparação absurda de Erin, só uma cientista poderia comparar sexo devasso a uma reação química. Ela, Greg e Victor assistiram meu pequeno show com Tyler quando subimos ao quarto na casa de Gregory. Tenho dúvidas que o pirata de ébano se lembre exatamente de tudo que fizemos para a apreciação de terceiros, mas minha pele se arrepia em saudade e desejo da boca carnuda de Tyler em mim.
– Eu prometi a mim mesma que ficaria longe dele depois de quinta, Erin. – digo num suspiro.
– Entendo, Lia. Mas às vezes as coisas que pensamos e as que sentimos não são coincidentes. Ele é um homem e tanto e você faz qualquer coisa por ele, meu amor. Isso quer dizer algo.
– Eu? – levanto as sobrancelhas em surpresa e desdém. – É óbvio que essa percepção está meio distorcida.
– Lia, ele mexe com você como nenhum outro homem. Você ficou comigo e Greg por ele, para agradá-lo. – ela estende a mão para me fazer um carinho no rosto, mas suas palavras são como socos.
– Erin...
– Não foi ruim. Pelo contrário. – ela sorri antes que eu possa dizer qualquer coisa. – Mas eu acho que o Mamba Negra é o único capaz de dominar a Viúva Negra, Lia.
Eu rio, preocupada, mas rio. Eu sou realmente anuente com Tyler, eu gosto de agradá-lo e vê-lo ir além de seus limites, ocupando seus pensamentos de mim como eu ocupo os meus dele. É a pior idiotice que eu poderia fazer na vida, custando a Tyler mais do que algumas noites de auto avaliação e expiação de tormentas. Gostar de Tyler pode custar a ele seu emprego e escolhas bem mais difíceis.
– Ele precisa continuar investigando as mortes do “quarteto fantástico” e ele mesmo disse que não consegue acreditar em mim.
– Não foi o que pareceu pra mim, Lia. Ele está dividido, sobretudo porque ele gosta de você e quer acreditar que você não matou os dois.
– Ele gosta de mim? – sorrio maliciosamente e me aproximo de Erin.
– Quem não gosta?
– Você gosta dele, Erin? – coloco os braços ao redor dela e nossos corpos se encostam.
– Ele é incrível, Lia. Tem uma intensidade em Tyler que aumenta o mistério. O ar de insatisfação e tédio dele me intrigam, mas ao mesmo tempo ele se entrega às coisas com tanta curiosidade que me faz concluir que a vida dele antes de você era uma idiotice chata e monótona.
– Eu não descreveria melhor. – sorrio e ela encosta os lábios nos meus devagar. – Você é tão linda, Erin.
– Eu quero te ver feliz, meu amor. – ela sussurra com os olhos fechados e a testa encostada na minha. – Por favor, seja feliz.
Eu a abraço ainda mais forte.
Depois do treino eu tomo um banho quente e coloco roupas grossas para encarar o frio na rua. Entro no carro e uma inquietação me percorre. Eu sei que Tyler não consegue separar o que acontece entre nós de seu trabalho e por isso eu disse que não haveria mais encontros entre nós após a festa de Greg. Mas a conversa com Erin repassa na minha cabeça incessantemente. Dirijo para o caminho oposto da minha casa, até a lanchonete onde quase tomamos café juntos poucos dias atrás. Entro no lugar ainda duvidando se estou fazendo a coisa certa, com uma incerteza que me causa um desconforto na garganta. Pela risada de Annelise, a garçonete solícita com Tyler, ele está numa das mesas à esquerda, de costas para a porta.
É ele ou a garçonete abusada flerta com todos os clientes do lugar.
Me aproximo da mesa até parar do lado de Annelise. Tyler arregala os olhos em surpresa num breve susto com a minha figura, me encarando sem nenhuma palavra.
– Posso me sentar com você? – pergunto e sua cabeça faz um “sim” incerto.
– Gostaria de um café? – Annelise torce o nariz pra mim, sabendo que a atenção de Tyler não é mais dela.
– Preto, forte e sem açúcar. – digo olhando nos olhos dele.
– Já fui acusado disso uma vez. – ele dá meio sorriso. – O que você está fazendo aqui?
– Estava passando por perto e me lembrei que você disse que o café daqui é ótimo. – brinco e ele cruza os braços numa defensiva declarada.
Além de suas desconfianças sobre mim, ele ainda tem o risco de ser punido profissionalmente pelo envolvimento comigo. O que Tyler não sabe é que ele gosta de riscos tanto quanto eu, embora os dele sejam mais calculados. Isso o faz me querer tanto quanto eu o quero. Erin está errada, não é uma reação química, são várias, em cadeia, fazendo com que eu e Tyler tenhamos uma atração dolorosa e difícil de controlar.
– Italia, eu não posso mais te ver. Você me disse que depois da festa de quinta eu deveria seguir com a investigação e não te procurar mais. – ele racionaliza. – Estou fazendo o que você pediu.
Annelise serve meu café e me dá o cardápio, eu devolvo pra ela.
– Só quero isso. – falo pra ela, mas na verdade é pra ele. A garçonete vai embora.
– Lia, segunda feira eu vou te levar até a delegacia para mais um questionamento. Eu não posso impedir isso.
– Eu sei. – tomo o café.
– E você vai ficar brava por ter que expor sua vida e seus segredos, mas não há nada que eu possa fazer a respeito. É meu trabalho e você está até o pescoço metida nessa merda toda.
– Sei disso também.
– E você não pode se vingar de mim o tempo todo por eu estar cumprindo meu trabalho.
– Estou ciente de tudo isso, Tyler. Eu já disse que vou parar de brincar com sua cabeça, como você pediu.
– Então por que você está aqui? – ele me encara sério.
– Eu sei que fui eu que disse que não nos veríamos mais, mas quero só mais um dia. Acha que pode ficar comigo hoje sem considerar que eu sou suspeita na sua investigação? – é constrangedor ser honesta assim.
Tyler balança a cabeça fazendo um “não” contido, então tira algumas notas da carteira e coloca sobre a mesa. Fico sentada vendo-o levantar e dar alguns passos em direção da porta. Ele para de andar, como se estivesse numa batalha consigo mesmo.
Ele quer me deixar sozinha na lanchonete e voltar em paz para “sabe Deus o que” em seu final de semana. Uma parte de mim até se alivia ao vê-lo fazer isso, porque é o certo pra nós dois. Mas seu corpo se vira novamente de frente pra mim e nossos olhos se encontram.
Eu me levanto e o sigo para fora do lugar onde o frio congela meu rosto, destravo o alarme do carro e Tyler entra, em silêncio no banco do passageiro. Eu procuro resolver meus conflitos internos sobre isso em todo o caminho da minha casa e sei que ele faz o mesmo. Fui atrás de Tyler algumas vezes, o procurei para aliviar minha raiva, minha ansiedade, meus medos e espantar meus fantasmas. Eu só não esperava procurá-lo por saudade.
Estaciono o carro na garagem e mal o desligo quando Tyler solta meu cinto e me puxa para seu colo. Eu o beijo sofregamente, desesperadamente segurando sua cabeça entre minhas mãos e trazendo sua boca pra minha, mordendo seus lábios enquanto suas mãos percorrem meu corpo debaixo das roupas.
Eu disse que não ia mais provocá-lo, tentar contra sua sanidade, mas não sei exatamente onde minha ida até ele, praticamente implorando por algum tempo juntos, é um golpe em seu juízo. Deve ser, concluo quando ele passa a boca pelo meu queixo com a respiração arfante, é um puta golpe no MEU juízo, como não seria no dele?
A verdade é que Tyler realmente me faz sentir algo que eu não tenho há tempos, e isso me provoca, me mata, mas me deixa igualmente feliz.
– Eu e você, Italia. Sem joguinhos com a minha cabeça. – ele diz apertando meu corpo em suas mãos e concordo com a cabeça.
Abro a porta da minha casa para Tyler e ele já está familiarizado com o ambiente. Tiramos os casacos e meu impulso é pegar uma bebida, mas não são nem dez horas da manhã. Ele dá uma passada de olhos em tudo arrumado, nem sinal de que há poucos dias um maníaco entrou aqui bagunçando tudo.
– Você tem alguém? – ele parece falar com receio.
– Sem perguntas, pirata.
– Eu não vou embora, mesmo que a resposta seja ultrajante pra mim. – ele garante. – Greg disse que você tem alguém.
– Hoje eu tenho você. – afirmo defletindo uma resposta mais completa.
Vou até Tyler e abaixo em frente a ele, sua bunda se encosta na mesa de refeições atrás de si enquanto abaixo o elástico do moletom. Ele não precisa muito para estar pronto e adoro o gosto das pequenas gotas que lubrificam a ponta de seu pau em contato com a minha língua. Ele puxa o ar entre os dentes e segura meus cabelos com força.
– Lia, sua boca é incrível. – ele sussurra e sorrio sentindo-o entre os dentes. Uma mordida leve o faz meter fundo na minha garganta e encontro seus olhos nos meus.
Ele puxa meu corpo pro alto e me beija enquanto tira minhas roupas. Eu disse a Tyler uma vez que fazia sexo normal, mas que acabava não sentindo tanto prazer. Não é o que posso repetir quando ele me deita sobre a mesa e enfia a boca no meio das minhas pernas.
Sua língua me percorre, vinda úmida e macia de trás, passando pelas fendas do meu sexo até meu clitóris, onde ele se demora como se saboreasse uma iguaria. Então retorna um pouco mais para baixo, até me penetrar, estimulando meus pequenos lábios com a língua mais deliciosa que eu já senti.
Rebolo em seu rosto, rendida em sentir Tyler me lambendo. Ele segura minhas coxas que se fecham ao redor de sua cabeça conforme me retorço em gemidos longos e manhosos. Ele endireita o corpo e se posiciona, entrando pouco em mim. A antecipação em senti-lo inteiro me contrai todos os músculos.
– O que você quer, Lia? – ele dá uma leve mexida, esfregando o pau para cima e para baixo em mim.
Eu gemo e tento impulsionar o corpo para baixo, mas Tyler se limita em sair de mim, apenas para me provocar denovo.
– Por favor, fala. Estou pedindo. Fala. – ele pede, sem nenhuma arrogância ou autoafirmação, se enfiando novamente devagar em mim, só a pontinha, só o suficiente para me fazer pulsar em um prazer frustrado enquanto seu corpo brinca com o meu.
Tyler só quer escutar o que ele já sabe. Mas é crucialmente delicioso quando ouvido em alto e bom som. Ele se esfrega novamente e sinto escorrer minha lubrificação, molhando-o inteiro e implorando pra que ele entre em mim. Eu me rendo em dizer o que ele quer.
– Eu quero você. – abro os olhos e o encaro ali, de pé na minha frente, com meu corpo servido a ele sobre a mesa como num banquete.
Ele se debruça sobre mim e beija minha boca, enquanto seu quadril o projeta para caber todo dentro de mim. Solto um gemido em sua língua e ele continua me beijando, entrando em mim de um jeito ritmado, lento e carregado de sensualidade. Ele acaricia meus seios e geme comigo, sem pressa alguma, me deixando sentir cada segundo em que seu corpo me delicia.
Seguro sua bunda e corro as unhas devagar em suas costas, sentindo-o se arrepiar sobre mim. Abro os olhos e Tyler segura meu queixo, me beijando e correndo a mão pela lateral do meu corpo, acariciando minha barriga, meu quadril, pernas e segurando meu pé na altura de seu traseiro redondo e impressionantemente lindo.
– Eu quero você. – sussurro completamente entregue a ele.
Me despi de todas as minhas ressalvas para deixar Tyler ficar comigo da forma que ele idealizou, sem minha ironia, nem minha dominância, ou minha defensiva.
– Você me deixa louco, Lia. – ele ofega e morde minha orelha devagar.
Meu corpo inteiro se enrijece e relaxa num êxtase tão intenso que meus gemidos viram um murmúrio longo, junto com as contrações do meu ventre ao redor dele. Ty ainda se demora mais um pouco, continuando seus movimentos, prolongando meu prazer, até que goza grudando a boca na minha.
Gosto da sensação do prazer sem nenhuma brutalidade. Gosto da sensação de “Eu e você, Italia. Sem joguinhos.”.

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