Capítulo 9

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Tyler

Eu não quero que Italia vá embora do meu quarto, ou do meu corpo, mesmo que ela me torture com sua mania nefasta de me causar dor. Eu acabei de ter uma catarse, sentindo como se a tivesse violentado e ela sobe em mim para mais, me cavalgando enlouquecidamente, gemendo de um jeito tão delicioso que eu queria que a foda durasse uma eternidade, só pra ouvir seus “hums” e “aahs” por mais tempo.
Minha boca se espreme sofregamente na dela e seu corpo a princípio tenso debaixo do meu, começa a relaxar. Eu abro o zíper de seu vestido assim que minha mão sobe suas costas, e tiro a roupa dela, como forma de garantir que ela não vá a lugar nenhum, embora eu não duvide que ela pode sair pelada daqui facilmente. Ela não usa nenhuma lingerie e se estica sem pudor algum na cama.
Continuo achando que ela é muito magra, mesmo que suas curvas sejam deliciosas. Continuo achando que conheço milhares de mulheres mais gostosas do que ela. Mas é seu cheiro não sai do meu nariz, é seu gosto que persiste na minha boca. Eu olho pra ela e meu corpo se acende de um jeito inexplicável. Minhas mãos parecem cobrir toda a extensão de sua barriga e ela parece ainda mais fina quando volto a me deitar sobre ela para beijá-la novamente.
Suas mãos delicadas terminam de tirar minha camisa, desta vez sem rasgar nada. E ela esfrega os pés nas minhas pernas, descendo minha calça até que que esteja nu. Italia observa minhas tatuagens e passa os dedos calmamente por elas. A única tatuagem que ela tem é uma palavra na parte externa do antebraço, próximo ao pulso: “joy”. É algo meigo pra alguém que parece uma força cega da natureza, como um tornado. Alegria. Me pergunto se ela precisou tatuar pra se lembrar de ser alegre. É o que parece.
Seu rosto infalivelmente lindo parece cansado. Talvez por isso ela aceitou facilmente que eu a prendesse aqui, usando a minha própria vontade como uma desculpa esfarrapada para fazer algo que ela queria, ficar mais um pouco.
– Por que Italia? – pergunto curioso.
Puta merda, o nome é tão exótico quanto ela. A deixa ainda mais intrigante e misteriosa.
– Meus pais são italianos. – ela me encara, enquanto me apoio nos cotovelos, suas pernas abertas se enlaçam ao meu redor.
– Só isso? – minha vontade de conhecê-la melhor esbarra em sua economia de palavras.
Reparo em seu rosto, a boca atraente está entreaberta e os olhos verdes meio nebulosos. Ela não é acostumada a este tipo de conversa, nem a este tipo de contato com o corpo de alguém a não ser que seja durante o sexo.
– Precisa mais? – sua feição fica vívida e ela arranca a camisinha que eu ainda uso, enfiando o braço entre nós.
A borracha faz um estalo na mão dela, provocando um riso honesto. Eu nem preciso que ela comece a me tocar pra ficar dolorosamente duro. Minha ereção encosta na coxa de Italia, e ela me empurra de cima de si. Suspiro meio frustrado sobre a cama. É uma merda que o que destruiu o momento que estávamos tendo seja justamente o que nos aproximou em primeiro lugar.
Ela acende um cigarro sem me perguntar se pode, e enche um copo de vodca, virando o conteúdo como se fosse água, então enche novamente. Seu cabelo está bagunçado de cama e ela parece extremamente à vontade na própria pele. É algo estarrecedor ver uma mulher agindo de forma tão autoconfiante. Ela volta para a cama e se encosta na cabeceira, tragando a fumaça com os olhos fechados.
Tenho uma visão privilegiada de seu sexo quando ela coloca os pés sobre a cama e apoia o braço sobre os joelhos.
– O que você faz? – pergunto e ela nem me olha.
– Obviamente tudo. Até a bunda. – ela ri ironicamente, como se eu estivesse dirigindo a pergunta a uma prostituta. – Pode me pagar em rum ou gin. Odeio vodca.
– Você odeia tanto responder perguntas, mais do que vodca?
– Por que você pergunta tanto? – ela finalmente abre os olhos e me oferece o cigarro.
– Eu parei há 2 anos. – informo e ela continua com o braço esticado. – Sasha odeia o cheiro de cigarro. – falo como se fosse pra mim mesmo.
– Você a convidou? – ela termina outro copo de vodca. Imagino o estrago que seria se de fato ela gostasse da bebida.
– Quem?
– Sasha. Ela está chegando pra nossa pequena festa? – ela se levanta e apaga o cigarro na pia do banheiro.
– Óbvio que não. – observo ela volta e ficar de pé ao lado da cama.
– Então repita comigo, pirata: Se foda a Sasha. – ela tem um sorriso cínico no rosto.
– Se foda a Sasha. – digo timidamente.
– Se foda a Sasha! – ela grita e me ajoelho na cama.
– SE FODA A SASHA! – grito a plenos pulmões. É libertador pra caralho e de alguma forma assustador. – SE FODA!!!!
– Que se foda! – ela grita comigo gargalhando e eu começo a rir descontroladamente esticando os braços para trás, fechando os olhos e erguendo o rosto pro teto. Me sinto estranhamente livre. – Agora ME foda, Ty.
Ela morde meu pescoço e enrolo ela nos braços que estavam para trás até pouco tempo. Italia é incapaz de beijar meu corpo. Em vez disso ela me lambe e morde, como a gata que é, arisca e selvagem. Eu a puxo para cima da cama e resolvo que ela não vai ficar por cima, não desta vez. Ela mesma se deita e espera eu colocar a camisinha. Me debruço sobre seu corpo, inebriado por seu cheiro misturado ao tabaco e ao álcool.
Eu beijo Italia e ela me morde. Entro nela e seu corpo se retorce me envolvendo quente e úmida. Seu gemido comprime minha habilidade de pensar em qualquer coisa que não seja trepar com ela até gozar insanamente. Me movo nela, sentindo seus músculos se contraírem ao redor de mim.
– Quer me chamar de Sasha? – ela sussurra e a olho indignado.
Que caralho eu fui fazer quando falei o nome da minha ex pra Viúva Negra? Eu já tenho clareza no fato de ela ser uma pessoa distorcida. Meu coração dá uma breve disparada.
– Você comia ela assim? – seu sorriso fica cada vez mais irônico enquanto continuo entrando e saindo dela.
Fico com raiva da forma que ela está falando de Sasha e da minha intimidade. Não é da conta dela. Sasha é uma mulher incrível, direita e eu a perdi para sempre. Começo a meter fundo, carregado de culpa e ódio e Italia ri satisfeita. A filha da puta não pode me machucar fisicamente, então está brincando com a minha cabeça. Eu tento me controlar, mas dou exatamente o que ela quer. Entro tão forte nela que nossos corpos chacoalham sobre a cama, os pés dela batem na minha bunda, me levando ainda mais fundo nela.
– Por que você faz isso? – pergunto atravessado de sentimentos malucos que me fazem sentir no limite da loucura, ao mesmo tempo, estou flutuando em um prazer tão absoluto que meu corpo inteiro continua sem que eu tenha controle.
– Você ainda quer a Sasha? – ela arranha minhas costas, em meio a gemidos animalescos.
– Cala a boca, vadia. – não sei de onde sai esse xingamento.
– Você quer. – ela afirma gargalhando.
– Fica quieta, sua piranha, eu odeio você. – digo alto, próximo ao orgasmo. Eu a seguro pelos ombros e meto forte, vendo Sasha, e não Italia, balançar debaixo de mim.
Eu percebo finalmente o quanto eu odeio Sasha, e o quanto eu a quero longe de mim. Ela me fez mal pra caralho e não importa o que eu tenha feito, nenhum ser humano que se dedicou a outro merece o tratamento que ela me deu.
Dou um grito meio alucinado e tenho um gozo fodidamente bom. Italia vibra debaixo de mim, se contraindo ao redor do meu pau e respirando com pequenos e roucos gemidos. Eu desabo sobre ela, exausto.
Minha cabeça é uma confusão, eu me dou conta que posso tê-la machucado novamente e não entendo como ela pode querer isso, ser tão assertiva em um prazer que dói assim. Estou um caco, física e psicologicamente. Dois dias em que eu deixei abertas as portas do meu inferno pessoal e Italia despertou meus demônios, na unha.
Rolo para o lado da cama. Ela tenta se levantar, mas não consegue. Em vez disso ela se vira para o lado e antes que eu consiga rever tudo que pensei nos minutos de loucura dessa noite, já estou adormecendo.
Acordo com uma ressaca que faz minha cabeça pesar toneladas. Mas não é necessariamente do álcool, é mais uma ressaca moral. Estou me dando a coisas que jamais imaginei. Descobrindo emoções com as quais eu nunca me conectei antes. Há dois dias eu me considerava assexuado e ainda apaixonado pela mulher que me mandou embora de casa.
Agora eu sei que sou capaz de muito sexo e que Sasha não é a mulher que eu amo. Eu só me sinto culpado demais pra admitir que já não a amava mesmo antes de terminar. Meu pai foi péssimo pra minha mãe e ela eventualmente acabou criando eu e meus irmãos sozinha. Sempre tive uma ideia rígida sobre como ser um bom marido e não cumprir estas expectativas acabou me torturando por anos.
Me tornar remotamente parecido com meu pai é algo inconcebível pra mim, então eu jurei fazer o que pudesse pelo meu casamento, por Sasha, pra que durássemos como casal. Logicamente eu falhei. O peso disso é esmagador. Ou pelo menos era, porque eu mesmo não entendia que nem tudo era minha culpa.
Eu tentei. Por Deus como eu tentei. Mas simplesmente não teve como ser.
“As coisas são como são.”
A voz de Italia falando a frase ecoa na minha cabeça. Eu tenho esta frase no meu corpo há tantos anos e nunca dei a ela o significado que ela merece. Eu sou como sou. As coisas são como são.
Viro na cama e dela sobrou apenas o cheiro impregnado nos lençóis e na minha própria pele. Essa mulher é quase uma psicóloga, me fazendo refletir mais sobre mim mesmo do que qualquer outra pessoa já conseguiu. Se seus métodos não fossem tão não ortodoxos, eu gostaria de vê-la denovo. Ela cutuca algo em mim até que eu sangre intensamente. E como numa sangria, os sintomas melhoram quando a hemorragia cessa.
É doloroso e é doente ao mesmo tempo.
Eu não sei como lidar com meu lado mais obscuro. Eu não sei como lidar com a mulher que desperta isso em mim e chego a ficar aliviado em ver que ela já foi embora. A parte de não repetir parceiros deve ser só sua fama no Safeword, porque ela não resistiu muito em transar denovo comigo, mas preciso ficar longe dela.
Levanto sonolento e me enfio num moletom pra correr, depois vou à academia. Eu perdi o horário do almoço dormindo, então como qualquer bobagem antes de voltar ao hotel. Gosto de tirar os sábados para descansar de toda a loucura dos meus dias no trabalho, mas tenho uma festa de aniversário de um colega do distrito e já prometi que iria. A camareira arrumou o quarto, e só então que eu vejo sobre a mesa um cigarro sobre um bilhete numa nota velha de pizza.
“Pra quando sua cabeça não aguentar o que se passar dentro dela, pirata. Com carinho. Lia.”
Com carinho? Essa mulher tem me dado qualquer coisa menos carinho. Eu rio sozinho e largo o bilhete sobre a mesa novamente. Ela me deixou com um cigarro e um monte de descobertas. Italia não é um país, é um mundo particular de loucura e devassidão.
Coloco uma camisa xadrez sobre a camiseta branca, jeans e botas. No casaco o distintivo e minha carteira. Pareço anos mais jovem do que quando a semana começou, eu quero pensar que é porque estou em roupas descontraídas em vez do terno e gravata. Mas no fundo eu sei que é por causa dela, pelos esqueletos que eu mesmo tirei do meu armário. Alguns que eu nem sabia que eu tinha.
Tomo algumas cervejas com o pessoal, dou risadas e vemos um pedaço de um jogo de futebol americano pela TV ligada, apesar de ser impossível escutar qualquer coisa pelo barulho do lugar abarrotado de gente. Rafaella me olha atentamente.
– Quer uma foto, Lella? – brinco com ela. – Assim pode me olhar à vontade sem que eu fique constrangido.
– Você está leve, Ty. – ela sorri.
– É a primeira vez em meses que eu me sinto leve.
– Isso é ótimo.
– Eu que o diga. – sorrio e bebo minha cerveja, virando a cabeça para a televisão.
Eu me sinto bem pra caralho, na verdade. Leve não é adjetivo suficiente. Chego meio bêbado em “casa” e o quarto ainda tem o aroma dela. É uma boa hora pra fumar o cigarro que ela deixou porque minha cabeça não aguenta pensar nela. Passo mal pra cacete com o enjoo da fumaça e deito tonto na cama com a certeza que não vou conseguir dormir.

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