Capítulo 31

254 33 0
                                    


Capítulo 31

Tyler

Não consigo formular uma frase inteira sequer enquanto vejo Italia tirar um plástico do bolso do casaco e guardar cuidadosamente os fios de cabelo de Giorgio que ficaram em sua mão quando ela o acariciou. Eu tenho tantas perguntas a fazer, mas observá-la interagindo de um jeito desajeitado com o garoto me roubou a capacidade de raciocinar claramente.

Ela fecha o plástico e estica na minha direção assim que o elevador chega no andar da suíte de Lenora Bianchi. Puta merda, ela chama a mãe de Lenora. Eu começo a entender que de fato a única família de Italia é Erin e sinto uma pena fodida que tenha que ser assim, porque minha mãe e meus irmãos são o mundo pra mim. Se eu ainda não a achasse uma vaca fria e calculista eu poderia até abraçar seu corpo magro e consolá-la mesmo que ela não demonstre estar triste pelo pouco contato com os parentes.

Eu pego o plástico e olho os fios de cabelo contra a luz, então olho pra Italia ainda boquiaberto.

– Quando você achar Mason, compare dos DNAs. – ela fala enfiando as mãos no bolso e seu rosto denuncia uma tristeza comedida. – Eu menti porque sempre disse que abortei, inclusive para Mason. Fiquei com medo de agora ele querer conhecer Giorgio. Isso ia destruir a cabeça do menino.

– Giorgio não sabe de nada?

– Meus pais o criam como se fosse deles.

– Por que você não abortou? – ela baixa o olhar diante da minha pergunta. Quem sabe ela não seja tão fria assim.

– Não foi porque eu tinha esperanças que Mason reconsiderasse. Eu não consegui. A culpa não era da criança, certo? Eu tomei todas as decisões erradas que culminaram na gestação, ou pelo menos quase todas. Mas ao mesmo tempo, eu não conseguia criar nenhum vínculo com o bebê. Eu tive até medo de odiá-lo, porque ele era de alguém que eu odiava na época.

– E você o odeia?

– Não. – ela limpa algumas lágrimas enquanto andamos pelo saguão do hotel para a rua. – Eu só não consigo amá-lo como eu deveria. E eu sei que isso faz de mim uma pessoa horrível. Mas a verdade nem sempre é bonita.

– Eu sinto muito.

– Tentei dá-lo pra adoção, quando fui pra casa dos meus pais eu estava certa de que era o melhor a fazer. Eles também. Meu pai deixou de falar comigo e minha mãe ficou feliz em ver a confirmação do que ela já sabia, eu realmente sou uma decepção, em todos os sentidos.

Pego o braço de Italia e a conduzo para dentro de uma cafeteria, embora essa história me dê vontade de tomar algo um pouco mais forte do que café. Sentamos de frente um pro outro e tento analisar os olhos de Italia, meio vermelhos e com marcas cinza de olheiras profundas. Ela é dissimulada, mas não conseguiria fingir uma história destas, ainda mais envolvendo o irmão, ou filho, ou o que quer que ele seja. Ela demonstrou carinho por ele, mesmo que eles não tenham intimidade.

Claramente o menino não foi dado para adoção. Peço dois cafés e espero até que sejamos servidos pra continuar ouvindo a história dela.

– Tentou abortar, não conseguiu. Tentou dá-lo para adoção e não conseguiu também? – tento não transparecer muito meus sentimentos, falando duramente.

– Não foi uma escolha minha, Tyler. Meu pai sempre quis um menino.

– Como assim? Eles não te perguntaram nada?

– Tente chegar numa família italiana sem marido, grávida de um imbecil qualquer e veja se sua opinião vale de qualquer coisa, Tyler. – ela ironiza e funga por causa do choro.

SafewordOnde histórias criam vida. Descubra agora