Capítulo 29

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Tyler

Estou convencido que a curiosidade que Rafaella e Italia têm uma pela outra é tão forte quanto a antipatia. Não é somente porque Lella considera que Italia pode ser uma pessoa fria e que ela possa ter matado dois (ou três) homens, é porque ela não consegue compreender Italia completamente, decifrar suas atitudes e seu comportamento. Como policial, Lella é excelente nisso, até esbarrar numa mulher tão inteligente quanto ela mesma.
A questão para minha parceira é ego. Ela finalmente se deparou com alguém que corre com ela, e não atrás, tentando alcançá-la inutilmente. Eu diria que Italia até corre um pouco à frente, e estaria ainda mais na liderança se não fosse toda confusão que ela tem em si e que acabam diminuindo sua autoconfiança.
Se Lia tivesse a mesma autoestima que Rafaella tem, a mulher seria o próprio diabo dominando o mundo.
Não fiz qualquer promessa a Rafaella sobre ficarmos juntos como ela me pediu, nem mesmo por uma noite. Eu já tinha decidido ver Italia mesmo que ela estivesse no purgatório, e disse a Lella que iria a Safeword.
– Você pode ir comigo. Só pra observar. Tenho certeza que você é perfeitamente capaz de se controlar, mesmo num ambiente como aquele. – digo com um sorriso no rosto.
– Você quer dizer ESPECIALMENTE num ambiente como aquele. Tenho certeza que nada lá pode me causar qualquer inclinação ao descontrole. – ela capricha no tom moralizador, como se fosse superior ao tipo vulgar de desejo que é incitado em Safeword.
Eu mesmo tinha este pensamento, então não consigo rebater sua argumentação, apenas relaxo na cadeira quando o telefone de Lella toca.
– Tem um homem pedindo pra falar com os responsáveis pela investigação da morte de Gavin. – ela endireita o corpo na cadeira e eu a imito inconscientemente.
De todas as pessoas que eu esperava ver quando entro na saleta de interrogatórios, a última seria Gregory. Ainda assim, ele está ali, sentado de forma relaxada, com a perna cruzada e as mãos sobre as coxas. Rafaella quase baba quando o enxerga e eu fico visivelmente incomodado com sua figura. Por Deus do céu, o homem é uma afronta aos meros mortais, eu mesmo não consigo negar que ele é bonito.
– Bom dia, Sr. Brass. – Rafaella olha a ficha que ele preencheu sobre a mesa. – Eu sou Rafaella Sanchez, este é Tyler McKenzie. Você queria falar conosco?
A voz de Sanchez é até macia, bem diferente do tom que ela usa pra falar com suspeitos. Eu dou um pequeno sorriso irônico. Quem é ela pra falar do efeito de Italia em mim, certo?
– Tem alguma informação sobre a morte de Gavin Linden que gostaria de dividir conosco? – pergunto esperando que ele não mencione a festa em sua casa, na qual Gavin saiu fugindo de Lia.
– Na verdade não sobre a morte. Eu não conheci o sujeito. – Greg passa a mão na barba e encara Rafaella com gentileza.
Os olhos azuis dele se fecham um pouco debaixo das sobrancelhas grossas e Lella chega a ficar corada. Ele já conquistou a simpatia dela, filho da puta esperto.
– Eu sei que Italia Bianchi é uma suspeita do assassinato deste rapaz, mas ela não poderia tê-lo matado. No dia que ele morreu, Italia estava comigo. – ele afirma.
– E que dia foi isso? – quero que ele informe a data, para dar credibilidade ao seu depoimento. Greg está fazendo uma idiotice sem tamanho, mas que eu e Erin já fizemos algumas vezes, está mentindo para proteger Lia.
– Do dia 25 para 26 de novembro.
– Sr. Brass, qual é a natureza do seu relacionamento com Italia Bianchi? – pergunto e ele dá um sorriso divertido pra mim. Eu já fiz esta pergunta a ele, em sua casa e ele gargalhou. É nitidamente a vontade que ele tem agora.
– Nós temos um relacionamento de natureza sexual. – sua formalidade não combina com o olhar descontraído. – Eu conheço Lia há pelo menos cinco anos, nos três primeiros estávamos frequentemente juntos, nos últimos dois anos menos, a cada semana ou duas.
– Você tem como provar que estava com ela? – Rafaella parece querer saber pouco sobre o envolvimento dos dois.
Eu não quero estressar a mentira de Greg até ela se tornar evidente, mas não posso demonstrar muita anuência a ele.
– Tenho os vídeos das câmeras de segurança dela chegando e saindo da minha casa. Infelizmente não tenho câmeras no quarto pra mostrar o que fizemos, mas garanto que durou bastante. – ele ri e Rafaella me olha atônita.
– Vamos precisar destes vídeos. Mais alguém a viu na sua casa ou estavam sozinhos? – digo cogitando que o tal “cara” pode ser uma mentira. Greg está tão certo do que está dizendo que pode até ser verdade. Minha confusão fica evidente.
– Todos os empregados da casa. Vocês podem falar com quem quiserem. – ele abre os braços como gesto de boa vontade. Nada na postura de Greg diz que ele está mentindo.
– Por que Italia não disse que estava com você, já que são íntimos?
– Italia negocia contratos de prestação de serviço para concorrências abertas das quais minhas empresas participam. Revelar nosso envolvimento coloca a credibilidade dela em jogo para isso, afinal, ela poderia ser acusada de me favorecer. É muito dinheiro envolvido e ela não poderia se relacionar comigo pelo seu contrato de confidencialidade.
– Faz sentido. – Rafaella espreme o rosto em nervosismo com a mão. – Vamos analisar os vídeos e entraremos em contato.
– Se eu puder ajudar em mais alguma coisa, estarei à disposição. – Greg sorri e se levanta da cadeira.
Apertamos a mão de Greg e ele vai embora depois de se despedir cordialmente.
Rafaella volta a se sentar comigo dentro da sala, incrédula com o que acabou de acontecer. Gregory foi convincente, até fornecendo vídeos da presença de Italia em sua casa, mas pela cara de Rafaella vejo que ela acha que algo parece fora de contexto, mesmo que a história seja bem amarrada.
– Um homem como ele mentiria para a polícia pra salvar uma mulher que ele vê esporadicamente? – ela divaga.
– Talvez, Lella. Mas ele tem provas. Vamos investigar a história dele como estamos fazendo com todas as que estão aparecendo nos dois casos.
– Até acharmos Mason, ela continua sendo uma suspeita. Todos são culpados de algo, resta definir quem é mais culpado que o outro. Metade da cidade parece disposta a proteger esta mulher, e a outra metade só não se dispôs porque não a conheceu. – Sanchez fica pensativa e após um longo suspiro me olha decidida. – Eu vou à Safeword com você, civilmente.
– Ok. – um arrepio me percorre e não estou mais tão certo que seja uma boa ideia. Mas eu provoquei, convidei e mesmo que tenha dito a Italia que falaria seriamente com Lella para sua ida ao clube, não pretendia de fato levá-la.
Sei como fato que a curiosidade de Rafaella pode ser grande, mas ela não está indo pelo lugar, para conhecer a motivação atrás de imobilizações eróticas e sexo descompromissado. Ela quer ir por Lia. Exclusivamente.
É difícil demover Lella de qualquer ideia que ela tenha enfiado na cabeça, então, quase meia noite, antes que as portas se fechem, estamos em Safeword. O lugar parece mais cheio do que nunca, completamente abarrotado. As pessoas parecem sedentas, meio enlouquecidas, deve ser o espírito natalino. Aliás, vermelho e branco parecem ser as cores de escolha pra noite. Rafaella está deliciosa em um vestido carmim justo, onde suas curvas aparecem atraentes, bem distintas de como ficam nas roupas do dia a dia.
Ela parece deslumbrada com a beleza do lugar, embora pareça com uma casa noturna comum, a decoração é elegante em preto e vermelho. Meus olhos me levam ao camarote de Lia assim que começamos a cruzar a pista de dança em direção ao bar e ela me encara. Sua boca exótica e bem desenhada tem um quase sorriso, e ela empina levemente o nariz.
É então que me ocorre que eu deixei de fazer o que uma mulher queria quando me separei de Sasha, pra fazer o que duas querem. E duas extremamente mais mandonas do que minha ex. Tenho prazer em agradá-las, em ver o brilho de seus rostos satisfeitos e francamente, Rafaella e Italia parecem inimigas extremamente felizes esta noite.
Quando encosto no bar com Lella um garçom traz dois copos de rum em uma bandeja. Eu sorrio mesmo antes que ele fale qualquer coisa.
– A Viúva Negra mandou uma gentileza dizendo que rum é para perdidos e piratas. – o garçom sorri e nos entrega os copos. – Ela também pediu para lhes oferecer um camarote privativo.
Fico inclinado a aceitar, mas espero que minha companheira se manifeste. Ela olha em direção ao camarote de Lia e ela levanta o copo, como se fizesse um brinde.
Caralho, Italia está mais linda do que nunca. Seus cabelos estão rebeldes, espalhados ao redor do rosto e seu corpo está vestido em renda preta e vermelha, com uma calcinha mínima e um corselet justo. Sua boca é vermelha como sangue e ela dança de um jeito hipnotizante, quase fazendo impossível que eu preste atenção em outra coisa que não seja ela.
Somos conduzidos ao camarote em frente ao de Lia, onde minha visão é ainda mais privilegiada. Rafaella observa tudo, as pessoas na pista, suas demonstrações de liberdade completa permitindo que mãos corram corpos sem distinção e até algumas cenas de sexo explícito. Ela cora levemente ao ser flagrada vigiando um casal que fode sobre o pequeno palco no centro da pista.
– Isso é uma selva. – ela grita para sobrepor a música quando me encosto no metal do parapeito ao seu lado.
– Sexo é algo a ser feito entre quatro paredes, por duas pessoas? – levanto as sobrancelhas e sorrio.
– Não sou tão careta assim, Tyler. Só acho que este exibicionismo mascara o objetivo real do sexo.
– E qual seria este?
– Criar intimidade entre as pessoas.
– Intimidade é relacionamento, Sanchez. O objetivo do sexo é prazer e não relacionamento. – falo aproximando a boca de seu ouvido e ela se arrepia e me olha nos olhos. – Sexo faz parte da intimidade, mas o contrário não é necessariamente verdade. É por isso que você pode gozar com um completo estranho, com um vibrador ou com um dedo. Prazer!!!
Termino a dose de rum e dou um suspiro. Olho pro outro lado da pista vendo a imagem fenomenal de Lia. Ela que me ensinou o que acabei de falar a Rafaella. Se não fosse pela Viúva com olhos de gata, eu não teria explorado nem metade da minha sexualidade, e ainda tenho que aprender. Eu entendo perfeitamente a horda que pede por ela incessantemente. Sou parte dela agora, ansioso pra ver como ela vai judiar alguém na multidão.
A música para e meu coração acelera, tento explicar brevemente a Rafaella o que vai acontecer, mas é impossível me concentrar em achar palavras com a Viúva se movimentando pelo salão. Ela parece concentrada e carrega a garrafa de rum numa mão e uma coleira na outra.
– O que ela está fazendo? – Lella sussurra no meu ouvido, agarrando meu braço.
– Escolhendo. – a sigo com os olhos e posso jurar sentir seu cheiro quando ela passa abaixo de nós.
A Viúva volta com um homem para o centro do palco, e as pessoas falam, a incentivam e pedem por ela. É insano que ela seja assim desejada por tantas pessoas. Ela fala algumas coisas em seu ouvido quando ele começa a se despir. A temperatura dentro de Safeword explode, muitos graus acima da neve que cai lá fora na cidade.
O pobre homem é preso aos postes metálicos como eu fui, mas Lia desta vez imobiliza também as pernas dele, deixando-o completamente vulnerável. Ela tem um sorriso malicioso no rosto, tão perfeito que chega a doer os olhos e se abaixa na frente dele, prendendo seu saco num grampo e seu pau com outro. Ele fecha a expressão e Lella aperta ainda mais forte meu braço.
Lia passa uma corrente ao redor da cintura do homem e deixa as parte delas engatadas nos grampos antes que as pontas arrastem ao chão. Ela então sobe nele, como se ele fosse parte de uma parede de escalada, até passar as pernas em seus ombros, deixando a boceta em sua cara, segurando-se nos postes com os braços abertos como ele.
É genial, se ele quiser encostar a boca nela vai balançar o corpo e as correntes vão pesar seus genitais numa dor lancinante. Por fim, a escolha é dele. A Viúva Negra é ardilosa e dá uma gargalhada quando a multidão grita “chupa”.
Caralho, ele vence o medo do puxão no saco para enfiar o rosto no meio das pernas da mulher mais sexy do lugar. Ele consegue, mas consegue gritando. Rafaella arregala os olhos enquanto Lia mexe o corpo sobre ele, propositalmente aumentando o balanço que o tortura. Paradoxalmente, ele ejacula mesmo sem conseguir uma ereção. Sei como é esta sensação. A mente trabalha mais rápido que o corpo, e Lella olha pra mim espantada, começando a entender o efeito de Italia.
Lia começa a descer dos ombros dele e ele a chama para cochichar algo. Sentindo-se provavelmente humilhado pelos comentários e ciente que não vai conseguir trepar com ninguém depois de gozar, ele cancela tudo dizendo a palavra de segurança combinada previamente.
As pessoas ao redor comemoram como se fosse um final de campeonato, gritando “Safeword”. O homem é solto por ela e deixa o palco cabisbaixo, recolhendo suas roupas. Lia pega a coleira do chão e toma rum no bico da garrafa, enchendo a boca de bebida, a música começa a tocar baixo mas ninguém dança, teoricamente isso indica que o show acabou e Lia não é mais razão de interesse, mas eles continuam a observando enquanto ela ignora as escadas e sobre pelo metal do parapeito do camarote até que seu rosto esteja no de Rafaella.
Lia despeja cuidadosamente o gole pequeno de bebida de sua boca na boca de Lella, que engole mais por ter ficado sem reação com o quase beijo do que qualquer outra coisa.
– Você quer duas coisas comigo: me prender e me foder. – Lia olha nos olhos de Lella, intimidando-a. – Hoje você pode fazer as duas coisas, detetive Sanchez.
O sorriso dela é puro deboche e Rafaella aperta os olhos, levando as mãos até o rosto de Lia, que levanta a coleira.
– O que eu faço com isso?
Lia levanta a cabeça, oferecendo o pescoço para Rafaella sob os olhares aturdidos do salão. Rafaella me olha perdida a princípio, mas algo trisca em seus espertos olhos castanhos e ela prende rapidamente a coleira em Italia. Lia desce por onde subiu e a encontro com Rafaella antes de irmos ao quarto espelhado. A satisfação de Sanchez é visível, andando confiante com Lia numa coleira até chegarmos no quarto, onde ela volta a se sentir incomodada com o ambiente.
Acho que Lella gostaria de sair correndo, mas não o faz porque gostou demais de parecer mais poderosa que sua rival. O que ela não sabe é que este é exatamente o jogo da Viúva. Ela escolhe uma fraqueza, mesmo que seja vaidade, e usa magistralmente a seu favor, tanto que estamos os três novamente dentro de uma sala, só que desta vez é ela que comanda tudo.
– Beije-o. – Lella acha que está no controle e testa um comando. Lia se aproxima de mim.
Não tive tempo para testar as minhas reações com toda a adrenalina correndo nas veias, mas é certo que estou mais do que excitado com tudo que vi e senti. Meu corpo grita pelo contato de Lia assim que ela dá uma piscada cheia de malícia. Eu a agarro em mim e nossas línguas se buscam rapidamente, enquanto meu pau acorda e cutuca a barriga de Lia.
Rafaella a puxa para trás pela coleira com satisfação, a afastando do meu desejo e Lia se distancia com um riso irônico. Ela está se divertindo, filha da puta.
– Você é parecida comigo, Rafaella. – Italia dá a volta por Rafaella e abre o zíper do vestido dela. – No gosto para homens, na determinação e na inclinação para o sarcasmo.
O vestido vermelho cai revelando a lingerie mínima de Sanchez, eu sinto um calor vigoroso.
– Mas você é contida. – Italia beija o ombro de Lella fazendo-a arrepiar, então abaixa um pouco o corpo e livra os seios dela do sutiã, colocando um de cada vez lentamente na boca. Rafaella fecha os olhos e dá um murmúrio excitado. – Você não dá lugar às suas emoções, nem mesmo quando o homem que você gosta está doido pra te comer, parado em sua frente.
Italia tira a coleira de seu pescoço e coloca lentamente no de Rafaella, soprando o ar de sua respiração ofegante na boca de Lella, que mantém os olhos fechados.
– Seja honesta consigo mesma, Rafaella. – Italia provoca descendo a mão pela barriga de Sanchez e colocando os dedos dentro da calcinha dela.
Lella faz gemidos contidos, incomodados, mas quando Lia vai tirar a mão, Rafaella segura seu braço na altura da barriga e mexe o quadril, desejosa pela masturbação de Lia.
Não consigo me controlar e acaricio meu pau mesmo pela calça. É muito mais lascivo e delicioso do que eu poderia sequer imaginar. Com Erin foi diferente porque ela não representa pra mim o mesmo que Sanchez. Ela se entrega, deixando Italia tocá-la com vontade.
– Olha pra mim, Rafaella. – ela abre os olhos obedecendo ao comando de Lia, com as bochechas rosadas e prestes e gozar. – Me fode, detetive Sanchez.
Rafaella avança na boca de Lia, beijando-a com brutalidade e as duas juntam seus corpos para o completo deleite do meu.

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