Lia
Eu encontrei cada um dos meus demônios na noite que passei na delegacia. Ouvi os gritos de Erin, altos e desesperados, suplicando "Mason, não.", ouvi a voz de Gavin "Eu te amo, Lia, eu te amo.", ridiculamente chorosa, escutei minhas próprias lamúrias implorando "Clark, me ajude, por favor.". Revivi o dia que descobri estar grávida e a expressão aturdida e desdenhosa de Mason, "Você é uma piranha festeira, Italia. Esse bastardinho nem deve ser meu mesmo.".
As doze horas de dor excruciante de parto não se comparam à dor da culpa que eu tenho por ter submetido Giorgio a sofrimento e mentiras desde tão cedo na vida. Eu fecho os olhos e me lembro dele chorando enquanto eu gritava aliviada por minha conexão com Mason finalmente ter findado. Ele é um bom garoto, mas não consigo me aproximar dele sem lembrar de um coração partido, mentiras e muito ressentimento.
Chorei a noite inteira com medo dos meus fantasmas, tentando me apegar à noite de Natal, no sentimento feliz de me sentir protegida e bem, mas foi inútil. Cada minuto me cobrou anos de culpas, anos de sombras que eu tento agora entender.
Eu me arrependo de ter contato tudo a Tyler, desesperada por ganhar sua confiança novamente. A história de Erin vai se tornar pública, espezinhando uma dor antiga sobre a qual eu nem pude falar com ela. A paternidade de Giorgio vai ser revelada, levando minha família a me rejeitar ainda mais. O que eu achei que fosse ser alívio acabou virando mais uma tonelada de coisas que eu vou amargar penosamente daqui pra frente.
E tudo por quê? Por querer que Tyler me enxergue de uma forma diferente.
Caralho. Ele me enxerga com um péssimo julgamento, e parece que contar a ele meus segredos apenas piorou isso.
Se Greg não aguenta mais me ver fazendo tanta merda, seria melhor que eu sumisse de vez, porque a minha vida é toda construída nos meus erros e nas consequências deles.
Quando o dia chega eu estou dormente. Completamente anuviada pela minha própria condição. É impossível comer o que me oferecem como café da manhã e encaro o nada até que meu advogado chegue para conversarmos. Greg contratou um ótimo advogado, mas a única coisa que discuto com ele é a objeção ao valor de fiança neste momento.
Vou à audiência de fiança e estico os punhos pra frente para que o guarda me prenda, eu me lembro da piadinha de Rafaella sobre meu gosto por algemas. Filha da puta, ela deve estar radiante por ter conseguido finalmente me colocar na cadeia. Se as circunstâncias fossem outras, possivelmente eu e Rafaella seríamos até amigas. Somos parecidas e tenho certeza que nos daríamos bem. Mas há bem poucas chances de virmos a remotamente gostar uma da outra.
Escuto qualquer coisa sobre risco de fuga e passaportes e quando dou por mim estou em casa com Erin, Victor e Greg, como se tudo não tivesse passado de um sonho. Um bem ruim por sinal. Erin me abraça e fecho os olhos sem receio pela primeira vez. Ela me leva ao banheiro e me coloca no chuveiro.
– Vai ficar tudo bem. – ela diz me encarando enquanto deixo a água escorrer no meu corpo.
Preciso colocar meus pensamentos em ordem, senão não vai ficar tudo bem, por mais que Erin queira acreditar nisso. O estado de Illinois tem pena capital, quais as chances de eu escapar de uma injeção letal com dois homicídios qualificados com requintes de crueldade? Quase nulas, certo? Eu posso morrer por dois crimes, embora talvez morrer seja melhor do que passar o resto da minha vida, ou uma sentença bem longa, encarcerada numa prisão, vivendo seguidamente o que vivi esta noite.
– Vai. – concordo com ela só pra não desanimá-la com a história do "posso morrer" e me lavo, embora pareça que não consigo me limpar do cheiro da cela. – Me conte sobre a viagem, por favor.
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Safeword
RomanceQuando o detetive Tyler McKenzie é chamado para investigar um homicídio parecia que nada poderia ficar pior em sua vida. Como ele mesmo vai descobrir, as aparências enganam, e as coisa sempre podem piorar. Ele entra no submundo do sexo em Chicago, a...