Tyler
Saio do prédio elegante parecendo um rinoceronte, ou uma manada de rinocerontes enfurecidos e cegos. Rafaella me acompanha e anda apressada comigo pela calçada até o carro estacionado a uma distância curta. Entro no banco do motorista e esmurro o volante, me achando o cara mais burro do mundo por ter beijado Italia num impulso fodido e destrutivo.
Sou capaz de quebrar minha mandíbula, de tão forte que é o apertar dos meus dentes. E apesar de toda razão me mandar ficar afastado dela, especialmente agora, dado seu envolvimento com Gavin, eu não consigo parar de pensar no que ela me disse. “Quero te ver hoje.”.
Ela não queria me ver até ontem. Agora ela quer.
Me pego pensando que só pode ser para me manipular, agora que ela sabe que estou investigando o caso de Gavin. Caralho de cabeça que não para um minuto de desconfiar de tudo. Ela pode realmente não ter nada a ver com a morte de Gavin, e quero acreditar nisso. Mas qualquer pessoa com um mínimo de bom senso não confiaria em alguém que tem o apelido de Viúva Negra com orgulho.
Faço um som frustrado soprado pra fora da boca. Além de tudo, vou ter que explicar muito à Rafaella, que me olha como se eu tivesse acabado de sair do manicômio.
– Como funciona em Safeword? – ela pergunta assim que meu surto passa e desabo o corpo no banco do carro.
– Ela é uma celebridade. As pessoas basicamente vão lá pra vê-la torturar alguém e foder como loucas. – não consigo ter mais classe do que isso no meu estado mental.
– Você fez sexo com ela? – os olhos de Sanchez tem uma ponta de desconfiança e sei que é inútil mentir.
– Mais de uma vez.
– Você tem que se retirar do caso, Tyler. – ela parece impaciente. – Isso é um puta conflito de interesses.
– Lella, é irrelevante.
– Ah, Ty, vai me dizer que seu julgamento não está prejudicado por ter trepado com a maluca? Isso é contra todas as regras.
– Quem é você pra me falar de julgamento prejudicado, regras e conflito de interesses, Sanchez? – dou um grito e ela arregala os olhos pra mim. – Eu sinto muito.
Alguns minutos de silêncio constrangedor se instalam no carro. Eu esfrego o rosto e dou um suspiro fundo. Se Rafaella tivesse um chicote agora eu a deixaria arrancar meu couro pra aplacar a culpa pelo meu comentário absurdo.
– Tyler, ela pode ser nossa principal suspeita. Tudo no comportamento dela, a falta de emoção, os sorrisos torpes, tudo me fez ter calafrios perto dela. Ela nem perguntou como ele morreu. Não seria uma coisa óbvia de perguntar quando você informa que alguém morreu?
– Eu prefiro olhar além do óbvio, Rafaella. Pode haver mais nesta história.
– Eles se envolveram, ele ficou obcecado, incomodando o estilo de vida dela, indo atrás da garota e talvez isso a tenha irritado um pouco demais.
– Aquilo não foi um crime de impulso, Rafaella. Você está se precipitando. Um assassinato por impulso é geralmente uma bagunça de rastros que as pessoas não têm o sangue frio de limpar quando tudo acaba. Você sabe disso. – me exalto novamente.
– Sangue frio a tal garota tem de sobra, Tyler. – ela reclama emburrada. – Ela nem precisa de um advogado com sua defesa tão honesta.
– Eu só estou dizendo que ela merece o benefício da dúvida, Sanchez, é nosso papel apresentar a verdade, e não a nossa versão da verdade.
– É mesmo? – ela espreme os olhos pra mim. Caralho, odeio quando ela faz isso, como se julgasse meu presente por causa do meu passado.
– Confia em mim. – apelo para nossa amizade.
– Você tem certeza que essa sua reação exagerada não tem nada a ver com o fato de estar envolvido com ela?
– Tenho. – odeio mentir para Rafaella, e no fundo ela sabe que tem tudo a ver com minhas transas com a Viúva Negra, mas eu preciso de mais do que suposições pra achar que Italia matou Gavin.
– O que faz você ter tanta certeza que ela não se irritou com o cara que a seguiu?
– Porque se ela fosse matar todos os caras que desenvolvem uma doença obsessiva por ela, teria que matar meia Chicago, Lella. – ligo o carro para voltar ao distrito.
Meu resumo é preciso. Italia teria matado todos os homens que voltam ao Safeword sedentos por seu ar de depravação e dominância, inclusive eu.
Saio do trabalho mais cedo. Rafaella ficou na delegacia repassando os detalhes do que ouvimos de Italia, tentando estabelecer uma linha de tempo onde pode ser que Gavin a tenha encontrado por último, além, claro, do dia que ele morreu, para o qual ela se negou a fornecer um álibi.
Paro num farol vermelho e parece que as luzes de Safeword se acendem dentro do carro. A mistura de preto e vermelho nunca mais vai significar o mesmo pra mim. Algo em mim se revira e ligo para o número de celular de Italia, depois de uma breve conversa eu desvio o caminho do hotel onde meu merecido descanso me espera. Vou terminar de estragar minha cabeça ouvindo o que ela tiver pra me dizer.
O prédio dela fica em Lincoln Park, onde não dá pra sentir nenhuma monotonia na cidade. É perto de Safeword e é uma área nobre, geralmente onde a arquitetura antiga se mistura com novos e muito modernos desenvolvimentos. O porteiro me olha sem nenhuma desconfiança.
– Sr. McKenzie? – ele sorri cordialmente. – A Srta. Bianchi já está aguardando.
– Obrigado. – me ocorre em mostrar uma foto de Gavin e perguntar se ele já viu o homem por aqui, mas ele se adianta.
– Ela nunca recebe visitas. Até estranhei quando ela interfonou pedindo para deixá-lo subir.
Ok. Isso foi inapropriado e invasivo, mas agradeço com um sorriso. Ele me informa o andar e o apartamento e sinto um pouco de nervosismo.
Estar no ambiente de Italia é como conhecer uma parte dela que a torna humana, não só uma figura mítica. Eu reparei nos detalhes de seu escritório, alguns porta retratos, livros, objetos de decoração que denunciam sua personalidade com alguma fragilidade, que só vi enquanto ela alucinava em pesadelo.
A porta do apartamento está entreaberta e bato algumas vezes na madeira. Ela dá um grito permitindo minha entrada e me coloco dentro do mundo dela, seu mundo pessoal, sem nenhum traço da Viúva Negra. Me dou conta que a partir de agora eu não vou mais conseguir tratá-la com o distanciamento necessário e é bem possível que Rafaella esteja certa, talvez seja melhor eu me retirar do caso de Gavin.
– Fique à vontade. – Italia aparece na porta do que eu acho ser a cozinha secando as mãos com um pano. – Eu já venho.
O cheiro de canela e cominho parecem tomar conta do ar, eu jamais imaginaria que Italia cozinha qualquer coisa. Dou uma volta pela sala. O lugar é muito bem arrumado, há uma mesa de refeições e um sofá em frente a uma lareira. O estilo é moderno e minimalista, com linhas retas, sofisticadas e cores discretas. Combina com ela, definitivamente.
Vou para a cozinha. Ela está com um shorts largo e um suéter que cai nos ombros. As marcas visíveis em seu corpo já estão se tornando conhecidas minhas, marcas de imobilização, embora me pareça que ela foi envolvida num casulo de cordas pelo número de impressões em sua pele.
– Italia, converse comigo. Eu preciso saber sobre Gavin. Extra oficialmente. – proponho para que ela se sinta à vontade comigo.
Ela suspira e finalmente me encara. Seu rosto denuncia que ela chorou recentemente. Parece que a notícia da morte dele a abalou afinal, contrariando o que Rafaella concluiu.
– Então você não está aqui como policial, Tyler? – ela pergunta cruzando os braços.
Ainda estou usando o distintivo, armado e curioso pelos segredos dela, então não consigo responder a pergunta dela honestamente.
– Eu tive um dia difícil, podemos comer? – ela aponta o fogão e o cheiro é realmente ótimo.
Concordo e me sento com ela à mesa para jantar, observando as expressões de Italia atentamente. Apesar de o arroz marroquino estar excelente ela parece forçar a comida para dentro do corpo mecanicamente. Eu sei que algo está errado com ela. A conheço propriamente para afirmar só isso, para os motivos eu ainda preciso de mais.
Ela termina o vinho e abre outra garrafa, servindo mais um pouco na minha taça. Italia parece extremamente cansada, meio entorpecida, como se estivesse fora do ar.
– O que são estas marcas? – pergunto apontando uma delas em seu pescoço.
– Bondage com cordas. – ela responde naturalmente.
– Parece que doem. – reparo e ela sorri. Caralho, lógico que doem. – Por que você se deixou amarrar assim?
– Eu não sou submissa, Ty, não é minha personalidade e dói muito em mim, como um castigo severo. Tão severo que eu posso esquecer todo o resto que me machuca, até que nada mais doa. – ela esfrega o nariz como se estivesse incomodada com as lágrimas que marejam seus olhos.
Eu a encaro tentando decifrar de onde vem tanta culpe e, principalmente, se esse nível de autoflagelação está relacionada a Gavin.
– Eu sei que você quer respostas, Tyler. Eu não consigo pensar em boas respostas para as suas perguntas agora.
– Você matou Gavin? – minha honestidade sempre é crua com Italia.
– Não. – eu achava que a dela era comigo até agora.
– Você não quer saber como ele morreu?
– Não.
– Por que você já sabe como foi, não é? – falo com ironia e ela se levanta, andando pela sala a esmo.
Ela tira a blusa e seus seios estão avermelhados. Em seguida ela tira os shorts que me deixam contemplar exatamente as marcas do atrito da corda em seu corpo.
– Isso é o que saber da morte de Gavin fez comigo, Tyler. – ela abre os braços. – Eu não quero saber como ele morreu. Mas não me culpe por não mandar flores pro velório do bastardo.
Engulo em seco. A história só parece piorar à medida que avança. Parece-me ainda mais que Italia tem motivos para odiar Gavin, e isso só reforça a suspeita de que ela perpetrou um crime conta a vida dele. Ela está perturbada e não tem um pingo da vivacidade que eu enxergava em seus olhos de gata.
– O que Gavin fez com você, Italia? – ela anda até a mesa de centro onde deixei meu coldre e meu distintivo. – Não toque nisso.
Ela me ignora completamente e tira a Luger 9mm do lugar onde ela pertence, segurando a arma com habilidade. Nesta hora tenho certeza que ela já fez aulas de tiro ou pelo menos conhece a anatomia de uma pistola. Ela destrava e eu me remexo desconfortável na cadeira.
– Lia, por favor. – minha respiração fica excessivamente ofegante e ela me encara sorrindo.
Há um trisco dela lutando para aparecer neste sorriso, deixando para trás as sombras que estão perturbando sua cabeça. Ela olha para a arma. Dou-me conta do pavor que se apoderou de mim. O que ela pode fazer? Me matar. Se matar. Seu estado não é dos melhores.
Ela passa a arma pelo corpo, fechando os olhos ao sentir o metal gelado contra sua pele, do mesmo jeito que meu suor frio encontra minha face. Caralho de mulher louca. Me levanto devagar da cadeira e ela me encara. Ela está de volta. Seus olhos se acendem em devassidão e ela passa o cano da Luger pelo clitóris, fazendo uma expressão de dor e prazer que me contrai as pupilas.
Eu mal acredito que ela está usando minha 9mm pra se excitar e me apavorar ao mesmo tempo.
– Está com medo de mim, pirata? – ela ri de um jeito maníaco e dou passos incertos em sua direção.
– Lógico que estou. Você é doida. – falo e ela solta um gemido. O cheiro dela se espalha pela sala e vejo o cano da arma brilhar com o que sai dela. Filha da puta, eu quero matar essa mulher por mexer assim comigo.
– Me dê a arma, Lia. – peço e ela me encara.
– Não seria desastroso se ela disparasse dentro de mim, Ty? – ela gira o cano para dentro de si. – No mínimo inusitado que eu morresse com um tiro exatamente na minha arma mais perigosa?
– A sua mente perversa é sua arma mais perigosa, sua vadia louca. – agarro o cabelo dela e coloco a mão na dela, travando o gatilho. Meu coração parece um relógio descompassado mas meu pau fica tão rígido quanto o metal no meio das pernas dela.
Ela ri e me deixa segurar a arma, eu a enfio mais fundo nela, sentindo Italia estremecer de encontro ao meu corpo.
Jogo a Luger de lado e abro as calças com rapidez.
Eu não penso. Não consigo raciocinar. Só quero foder Italia como um animal e ela beija minha boca me puxando pro chão.
Sua sessão vespertina de tortura com cordas a deixou com a boceta inchada e ainda mais quente. Eu me seguro pra não gozar assim que entro nela, segurando sua cabeça de encontro ao meu ombro. É uma cretinice incrível que eu fique feliz em senti-la tão apertada quando ela deve ter sofrido horrores para estar num estado mental tão alterado.
Eu meto com força, contraindo os músculos da bunda em cada estocada e ela geme no meu ouvido, embaraçando os cabelos no tapete ao se contorcer deliciosamente debaixo de mim. Ela me enlouquece quando arranha minhas costas e sua voz se sobrepõe à música que ela colocou para acompanhar o jantar.
Lia pede mais e eu seguro seu rosto, beijando sua boca até que ela goza e suga minha língua de um jeito desesperado. Eu jorro dentro dela, me sentindo estranhamente satisfeito por ter tido a Italia no meu corpo e não a Viúva Negra.
É um caralho que eu tenha sentido que ela é ela só agora, sendo que do momento que entrei neste apartamento e ela me recebeu cozinhando ela tenha me mostrado que confia em mim. Posso estar mais fodido do que nunca, posso estar sendo manipulado por uma maluca e fria assassina que vai me fazer engolir uma bola mais tarde, mas minha cabeça quer acreditar nela. Eu rolo para o lado e a puxo para perto de mim até que ela se deite no meu peito.
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Safeword
RomanceQuando o detetive Tyler McKenzie é chamado para investigar um homicídio parecia que nada poderia ficar pior em sua vida. Como ele mesmo vai descobrir, as aparências enganam, e as coisa sempre podem piorar. Ele entra no submundo do sexo em Chicago, a...