Lia
Desperto devagar e viro na cama. Tyler tem os olhos sobre mim, como se estivesse vigiando meu sono ou possivelmente esperando que algum dos meus pesadelos revele que eu matei Gavin Linden. Sempre achei meio bizarra a ideia de que observar alguém dormir é algo romântico, mas eu já faço tantas coisas bizarras no dia a dia que não posso julgar Ty por uma atitude isolada.
Corro os lábios em seu bíceps, e minha mão acaricia a lateral de sua cabeça, fazendo-o abrir um sorriso que faz minha boca sorrir com vida própria também. Ele fica especialmente lindo na minha cama e embora não seja a primeira vez que ele durma aqui, na primeira não houve intimidade entre nós. Já agora, estamos nus, com pés e pernas enroscados.
– Posso fazer uma pergunta? – Ty me olha acariciando meu braço e reviro os olhos.
– Teoricamente você acabou de fazer. E se era UMA pergunta, já está feita. E eu não preciso responder.
– Lia...
– Faça, Tyler. Eu prometo que farei o meu melhor pra responder honestamente.
– Você se lembra das coisas que sonha?
Fico até aliviada com essa pergunta genérica, porque eu já imaginava que viria por ali outro “Onde você estava em 26 de novembro?”.
– Às vezes sim. Em outras não.
– Você tem pesadelos assustadores. Eu nunca vi isso em ninguém.
– São terrores noturnos, Tyler. É algo um pouco mais intenso que pesadelos. É muito comum em crianças e raro em adultos. Mas acontecem principalmente quando não estou medicada pra dormir.
– Acontece faz tempo?
– Acho que sim. – dou de ombros. Como geralmente não me lembro muita coisa, fica difícil definir o quanto pode ser pavoroso.
– Gregory já viu isso acontecer? Deve ter visto, ele disse que vocês transavam como coelhos. – ele fala excessivamente magoado e dou uma risada espontânea.
– Ele deve ter visto. Mas Greg não faz tantas perguntas como você. E também, Greg nunca me investigou por assassinato na vida. – brinco e Tyler sorri.
– Ele é um bom sujeito.
– Do melhor tipo.
– Com pau enorme?
– Não. – dou um pequeno empurrão em Tyler. – Gentil e leal.
– Ele é seu “terapeuta”.
– De certa forma... – concordo e Tyler passa os dedos no meu cabelo.
– E o seu “cara”?
– O que tem ele?
– Existe um cara, então? Como isso funciona?
– Não posso falar dele, Tyler.
– Você estava com ele em 26 de novembro?
Apenas faço um sim com a cabeça e Tyler se mexe na cama, sentando para me olhar com um jeito indignado.
– Lia, isso é perfeito. Ele é seu álibi, então você é realmente inocente. Ele é uma pessoa confiável.
– Totalmente, só que ele não vai nunca confirmar meu álibi, Ty. Se você realmente acha que eu sou inocente, tem que provar de outro jeito.
– Você está mentindo pra mim, Lia? Ele pode te salvar de um incômodo imenso e você não parece inclinada a se salvar.
– Não vamos mais falar disso, Ty. Por favor.
– Você ama esse cara?
Eu olho pra ele sem saber o que responder. Mas não é porque eu não saiba da intensidade dos meus sentimentos. É porque eu não sei definir se é amor. Eu sei que amo Erin, mas este é um tipo de emoção não romântica. Sei que Tyler quer saber se eu estou apaixonada pelo cara misterioso. Talvez eu esteja, senão por qual motivo eu estaria tão inclinada a protegê-lo? Ao mesmo tempo, eu sinto o mesmo, senão mais, pelo próprio Tyler. Então como responder sinceramente uma pergunta destas?
– Ele é um submisso? – Tyler não espera eu formular uma resposta pra sua última pergunta.
Puta que pariu, esse homem é uma máquina de perguntas.
– Você faz mais perguntas que uma criança de quatro anos, que caralho, McKenzie!
– Quantas crianças de quatro anos você já conheceu?
– Uma. – respondo me lembrando de Giorgio. – Meu irmão mais novo. Tão chato quanto você na época das perguntas.
Tyler ri relaxado.
– Ele não é um submisso. – finalmente retorno à outra pergunta. – Nossos encontros são normais, sem nada relacionado à BDSM.
– Ele sabe sobre Safeword e os outros homens? Ele sabe sobre mim?
– Sabe sobre Safeword, e outros homens. Não sobre você.
– Por quê?
– Porque ele nunca se sentiu ameaçado pelos homens que eu não repetia, com você é diferente.
Tyler dá um pequeno sorriso e tenho a impressão que ele ficou feliz, em algum nível, com este comentário. Se ele nunca se percebeu diferente pra mim, é menos inteligente do que eu imaginava. Mas compreendo que Tyler é um homem com sensos apurados. Ele precisa escutar as coisas. O não dito o incomoda profundamente.
– Ele é seu namorado?
– Não. A gente não anda de mãos dadas na rua, ou tem uma relação pública. Embora Erin ache que este tipo de coisa seja importante pra mim agora, ele não é o homem pra isso.
– Pretende falar sobre mim pra ele?
– Eu não pretendia nem ver você novamente, Tyler. Eu não tracei nenhuma estratégia para contar a ele que gosto de você. Só aconteceu.
– Diga novamente que gosta de mim, Lia.
– É óbvio que gosto. – sorrio e ele volta a deitar, me beijando.
– Assim: eu gosto de você. – ele instrui e eu rio alto.
– Eu gosto de você, Greg. – brinco com a troca de nomes que ele me contou mais cedo.
– Filha da puta. – Tyler morde minha boca com força e segura meus braços.
– A detetive Sanchez deve estar com um boneco vudu meu neste momento, espetando agulhas bem no meio das pernas da bonequinha, porque sinto algo me cutucando.
– Essa agulha é minha e não da Sanchez, sua maníaca.
– Eu gosto de você, Tyler. – confesso.
O sorriso que ele me oferece é lindo, estampado em sua boca lascivamente deliciosa. Mordo levemente o lábio inferior e ele me encara.
– Eu gosto de você. – ele diz enquanto o empurro de cima de mim.
Saio de baixo de Tyler e vou até meu closet, retornando com uma caixa de onde tiro as algemas que ele me deu. Os olhos negros dele brilham junto com o metal.
– Agora que você sabe que pode dominar alguém e o quanto existe de prazer na violência consentida, eu quero que faça comigo. – digo isso contra todo meu bom senso.
Odeio ser submetida, me machuca psicologicamente, mas preciso que Tyler veja que confio nele, e que, apesar de tudo que eu fiz para machucá-lo, ele pode confiar em mim.
– Greg disse que você usa submissão como castigo, Lia. Eu não quero que tenha pensamentos ruins comigo.
– Não serão ruins, Ty. Apenas diferentes. – entrego as algemas pra ele.
Tyler se levanta da cama com uma expressão séria. Ele vai até a caixa e vejo seu corpo se arrepiar inteiro na mesma medida que seu pau endurece. Sua mão segura firme um açoite e ele me olha ainda em dúvida. Eu me ajoelho devagar em sua frente e baixo o olhar ao chão, cruzando os dedos das mãos sobre as coxas. Ele entende que estou à sua disposição, mesmo que isso me cause um tremor incontrolável. Fecho os olhos tentando controlar a respiração ofegante.
– Há uma palavra de segurança? – ele pergunta.
– Italia. – eu não gosto do meu próprio nome. Se ele sair da minha boca, espero que tudo pare.
– Eu adoro seu nome. Como devo chamá-la?
– Como quiser, senhor. – ele puxa o ar com meu vocativo.
Se eu pudesse ver os olhos de Tyler tenho certeza que estariam em chamas neste momento.
Ele me algema como se estivesse me aprisionando. Com o andamento dos fatos, talvez esta cena se repita de verdade, exceto que estaremos vestidos e eu precisando de um advogado criminal. A batida do metal nos meus punhos me faz apertar os olhos fechados. É isso, não há volta.
Tyler me levanta do chão como se meu peso fosse nada, então me joga sobre a cama de bruços. Suas mãos passam uma corda entre as algemas e ele a amarra com alguma folga de espaço na cabeceira, esticando meus braços para o alto da minha cabeça. Com outras cordas da caixa ele amarra meus pés aos pés da cama, próximos ao chão, estressando ainda mais meus músculos, fazendo-os alongar forçosamente. Minhas pernas abertas e meu traseiro pro alto tornam meu sexo vulnerável e afundo o rosto no colchão, respirando descompassadamente. Embora eu queira isso, meu corpo resistiu à imobilização e sinto a pele dos tornozelos queimando nas fibras das cordas.
É então que as pontas metálicas dos fios de couro do açoite deslizam pelas minhas costas, causando uma torção instintiva do meu corpo. Tyler brinca com meus sentidos, subindo e descendo as bolinhas geladas da minha nuca à minha bunda.
– Eu quero ver sua pele vermelha. – ele dá um tapa em cheio no lado direito da minha bunda e a ardência me queima até a garganta.
– Mais, senhor. – digo ouvindo o zunido das tiras de couro girando no ar.
Meus músculos se retesam assim que o açoite estala sobre a pele já sensível.
– Pede mais. – ele rosna satisfeito.
– Por favor, mais. – obedeço e ele faz o metal tilintar em mim em mais um golpe furioso.
Tenho certeza que minha pele reluz num vermelho glorioso e Tyler ainda acerta novamente. Eu abafo o grito no colchão, mas ainda assim ele arranha minha goela como se tivesse unhas.
Ele respira fundo e quase geme ao soltar o ar, então acaricia meu traseiro com a mão espalmada antes de beijar o local açoitado em brasas. Tenho alguns segundos para respirar antes que Tyler passe os dedos pela minha boceta úmida. Ele percorre meu sexo com a mão e enfia os dedos rapidamente em mim. Minha cabeça se levanta enquanto gemo.
– Mais. – peço enquanto a imagem de Tyler imobilizado invade a minha imaginação e lubrifica os dedos dele.
Dois dedos e me lembro dele me comendo por trás como uma besta alucinada pela minha provocação, na época em que eu ainda podia jogar com sua cabeça.
– Mais. – grito num gemido rouco. Ele acerta sua mão insolente no lado esquerdo da minha bunda desta vez.
– Você é doida. – e seus três dedos me massageiam por dentro, sem nenhuma dificuldade.
Lembro de sua agonia quando o asfixiei, os olhos arregalados antes dele gozar no chão do quarto de hotel, completamente extasiado pelo desconhecido.
– Mais. – peço tentando mover inutilmente o corpo contra a mão dele.
Tyler bate novamente e quatro dedos me dão uma sensação desconfortavelmente prazerosa.
Minha memória é povoada pela cena de Tyler rendido de braços abertos, fodendo magistralmente a boca de outro homem, ajoelhado a seus pés como seu escravo, sucumbindo às formas mais primitivas do desejo, que não fazem distinções para a busca do prazer.
– Mais. – eu imploro e ele hesita por um instante mas ajeita os dedos na mão fechada inteira dentro de mim.
Cada ponto meu de sensibilidade pulsa em dor e êxtase. É como ser aberta ao meio, sentindo uma pressão tão grande no ventre que, em resposta, meu corpo o aperta como uma luva de inverno um número menor. Ele gira o punho e mexe a mão fechada para frente e para trás e seu próximo tapa chacoalha meu corpo, me fazendo gritar. Sinto o gozo de Tyler esquentar ainda mais meu traseiro e escorrer pelas minhas costas enquanto ele geme alto e descontroladamente.
Sua mão sai devagar de mim, provocando um alívio instantâneo do esticamento da minha pele fina e delicada dos pequenos lábios. Eu seco o suor da testa no lençol, dolorida pelo fisting e pela imobilização. Obviamente não é a primeira vez que tenho um punho inteiro enfiado na boceta, mas a mão de Tyler é grande e a sensação é esmagadora.
Ele solta devagar minhas pernas, permitindo que eu apoie os pés no chão e gemo de dor assim que firmo meu peso por conta própria. Então solta a corda que prendia as algemas e passa pela própria nuca, me levantando até que eu esteja de frente para ele. Cada ponta da corda que ele usa no pescoço passa pelo meio das minhas pernas, entre minha bunda e sobe pelas minhas costas habilmente nas mãos dele. Chego a duvidar que ele nunca tenha feito shibari, mas deduzo que algo em seu treinamento policial o preparou para isso. Ele então passa as pontas por trás do próprio pescoço novamente e amarra.
Ele encaixa meus braços por cima de sua cabeça e agarra minhas coxas, me levantando ao redor de sua cintura. A corda e as algemas me sustentam sem nenhum esforço contra seu corpo, me mantendo amarrada a ele. Tyler só ajeita minha posição, segurando meu quadril e me abaixa vagarosamente, entrando em mim pouco a pouco.
Eu não consigo segurar o gemido intenso ao sentir seu pau preenchendo cada pedaço que sua mão deixou sensível. Estremeço contra ele e minha boca encontra alívio mordendo seu pescoço enquanto ele segura minha bunda machucada e move meu corpo para cima e para baixo.
– Goza pra mim, Lia. – sua voz sussurra e abro os olhos, vendo a corda se enterrar em sua carne da nuca com meu peso.
Me percebo admirando a pele negra reluzente e desenhada de Tyler se esticando sobre os músculos que contraem em suas costas e braços. O gosto de seu suor na minha língua me inebria e o atrito entre nossos peitos me aquece. Ele me segura no colo, sem se apoiar em absolutamente nada exatamente no meio do quarto enquanto me come excepcionalmente bem. Eu obedeço sua última ordem sem nenhum esforço, me rendendo ao orgasmo em seus braços, contraindo ao redor dele.
– Você é incrível. – ele me aperta contra si e eu praticamente me deixo amolecer.
Eu sei que sou boa, mas com Tyler, aparentemente, eu sou incrível. Nós dois somos.
Ele me solta e continuo atada a ele. Suas mãos soltam o nó atrás do pescoço e ele me segura para nos livrar da amarra. Então me deita sobre a cama e beija minha boca, tirando meus braços de seu redor. Tyler solta as algemas e me leva pra um banho imerso nos meus sais, que judiam meu traseiro tanto quanto ele.
– Como você se sente? – ele me pergunta assim que encosto a seu lado.
– Ardida, mas bem. – sorrio e o encaro. Gostaria de saber como ele se sente, mas sei que ele está ótimo. Tyler é um dominador natural, só estava escondido por trás de convenções sociais e monogamia.
– Vou dizer a Sanchez que eu estava com você na madrugada de sexta feira. – ele diz após pensar um pouco.
– Por quê?
– Porque ela acha que você matou Clark Dickens. Eu vou dizer que passei a noite com você. Não só da hora que você chegou às cinco e meia. Mas a noite toda.
– Isso quer dizer que você realmente acha que eu não o matei? – é um contrassenso que Tyler esteja disposto a mentir por mim, ainda mais porque ele sabe o horário que eu cheguei em casa. Ele não pode garantir que eu não tenha matado Clark, mas está disposto a me encobrir.
– Isso quer dizer que eu confio em você. – ele suspira.
– Eu não matei Gavin Linden. Eu não matei Clark Dickens. – olho em seus olhos desta vez.
– Confio em você, Lia. Mesmo que você já saiba que Clark está morto sem eu nunca ter mencionado isso. – caralho, Tyler é esperto.
– Eu não posso te dizer como eu sabia, Ty.
– Imaginei que seria sua resposta, Lia. – ele parece até conformado.
– Você acha que Mason está por trás disso?
– Eu não posso discutir estas coisas com você. – ele diz e concordo.
– Não minta por mim, Tyler. – peço e ele me encara preocupado. – Se você já está com problemas, então não piore as coisas.
Ele sorri em negação.
– Estou sendo investigado por uma morte. Uma situação impossível onde alguém acabou morrendo. Se for ver a ironia das coisas, eu e você não somos tão diferentes assim.
– Por que você matou essa pessoa?
– Caralho, Lia. – ele esfrega o rosto com as mãos. – Eu não o matei. Rafaella puxou o gatilho. Ela errou, entrou em pânico, achou que ele ia puxar uma arma pra nós e se desesperou. Eu assumi a culpa porque ela tem menos tempo no distrito, seria afastada e francamente, eu não queria ficar longe dela. Parece ridículo e desesperado, eu sei.
– É uma estupidez imensa. – concluo observando como ele parece aliviado após colocar uma verdade incômoda pra fora. – Mas quem pode julgar até onde podemos ir por alguém que amamos?
Ele me olha sem nenhuma sombra de suspeita no olhar.
– Quantas idiotices alguém é capaz de cometer por outra pessoa que gosta não é mesmo? Quantas eu já cometi por você?
– Incontáveis. – sorrio e passo a mão em seu rosto.
– Prestes a cometer mais uma.
– Temos mais em comum do que você pensa, detetive pirata. – subo em seu colo e beijo sua boca. – Assim como você, eu também sou inocente, mas também não tenho como provar por causa de segredos que não quero expostos ao mundo.
– Eu vou pro inferno por sua causa. Ou preso.
– Você já foi ao inferno, Tyler. Foi lá que nos conhecemos.
Sorrio e Tyler puxa minha nuca até que nossas bocas se juntem novamente. Eu me permito aproveitar nosso tempo de honestidade e luxúria juntos. Sei que no início da nova semana o Natal vai me trazer um interrogatório cheio de perguntas sobre Clark Dickens e eventos que eu não gostaria de relembrar. Minha falta de preocupação até o momento era justificada. Gavin me perseguiu agressivamente no presente, com diversas testemunhas.
Mas não consigo inventar uma boa justificativa para a morte de Clark Dickens.
Ao menos tenho Tyler ao meu lado, o que é um pouco reconfortante no meio de tanta merda.
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Safeword
RomanceQuando o detetive Tyler McKenzie é chamado para investigar um homicídio parecia que nada poderia ficar pior em sua vida. Como ele mesmo vai descobrir, as aparências enganam, e as coisa sempre podem piorar. Ele entra no submundo do sexo em Chicago, a...