Capítulo 11

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Tyler

Lutei contra todos meus pensamentos para não ir ao Safeword esta noite, refreei cada um dos meus instintos na esperança de finalmente conseguir ficar sem pensar nela, e a mulher se materializa na minha frente como num passe de mágica.
Seu rosto está sério, como se ela tivesse enfrentado algo difícil. Talvez seja sua própria concepção de si mesma: a mulher que não transa com o mesmo homem duas vezes, que os dispensa quando se repetem implorando por ela, tem que admitir que há uma exceção para toda regra. Eu imagino se é isso que a atormenta mesmo, já que eu sou um brinquedo nas mãos dela tanto quanto os outros.
Não me iludo em achar que ela vê qualquer coisa diferente em mim, capaz de aplacar a besta que vive dentro dela. Italia me provou que gosta de me torturar, ela adora ver o sofrimento para alimentar seu lado sombrio. Ela é fria e agressiva, embora seu sexo seja quente. Fervente. Em uma ebulição que escalda cruelmente quem se aproxima dela.
Ela larga a bolsa e o casaco no chão e avança em mim como um bicho feroz, mordendo a minha boca com força. Eu agarro seus cabelos castanhos e puxo sua cabeça para trás, esticando meu lábio inferior até que o sinto estalar na batida de volta aos meus dentes. Os olhos de Italia parecem acesos na penumbra, num verde profundo e felino.
Esqueço meu ultraje pela forma que ela acabou de me atacar e bato seu corpo frágil na porta atrás dela, enfiando minha língua em sua boca desesperadamente. Não entendo o efeito que esta mulher tem em mim, me fazendo sentir furioso só em estar ao seu lado. Ela desperta o pior em mim, coisas que eu nunca achei que pudesse sentir.
Suas unhas se cravam nas minhas costas enquanto minhas mãos seguram sua bunda com força. Puxo suas pernas ao redor de mim para que ela suba em meu colo e recebo um beijo que amortece minha boca. Puta merda, o beijo dela é como uma nuvem de fumaça tóxica deixando tudo nebuloso ao meu redor. A língua dela é um deleite, mas me pego passeando a boca em seu pescoço enquanto esfrego o meio de suas pernas freneticamente no meu pau excitado dentro da calça.
Ela tem a respiração arfante e a voz é carregada. Não tem nada de puro ou angelical em seu timbre, embora sua voz seja fina e delicada. Cada gemido dela me provoca ainda mais. Eu nem consigo pensar em colocar um preservativo ou deixá-la descer do meu colo para vasculhar seu arsenal em busca de um. Abaixo a calça e rasgo sua calcinha, dando exatamente o que ela veio buscar.
Atravesso seu corpo de uma vez assim que entro nela. Italia fode todos os dias e ainda assim é apertada como uma roupa que não me serve mais, ficando justa ao redor de mim, me enlouquecendo com o tanto que seu corpo se lubrifica para que eu escorregue nele. Meu corpo pressiona o dela contra a porta e ela afunda o rosto no meu ombro. Eu a estoco lenta e profundamente, e ela se derrete em meus braços como a gata que é, esticando-se contra mim em gemidos compridos que massageiam meu ego.
– Você é tão bom. – quase escuto o barulho simbólico de sua armadura caindo no chão.
Eu passo a mão em seu pescoço e rosto, num carinho que basta pra ela voltar a ser a mulher louca que eu conheço. Ela levanta a mão ao meu pescoço enquanto continuamos no sexo mais quente da minha vida e fecha os dedos ao redor da minha traqueia.
Tento falar qualquer coisa e não consigo, até meus gemidos ficam mais abafados enquanto ela aperta meu pescoço. Suas pernas também se fecham ao redor da minha cintura e seus gemidos se intensificam. Eu sinto as contrações de seu ventre me mostrarem que ela está próxima do orgasmo. Mas não consigo puxar o ar.
Meus olhos pulsam enquanto ela me asfixia lentamente. Então ela solta um pouco a pressão da mão, eu puxo uma quantidade mínima de ar e meu cérebro se desespera. Estou a um passo de perder a consciência e Italia levanta o queixo, sorrindo divinalmente. Tenho certeza que ela é doida, ao mesmo tempo meu corpo inteiro se eletriza numa sensibilidade que nunca tive. Eu consigo sentir cada centímetro dela, jorrando umidade num êxtase fenomenal.
Meu instinto pisca um alerta vermelho e giro o corpo rápido para dentro do quarto. Jogo Italia sobre a cama violentamente e a escuto gargalhando enquanto caio de joelhos no chão com a visão completamente turva e gozando visceralmente enquanto puxo o ar com força e o solto em gritos raivosos. Ela se diverte com meu desespero, esticada na cama com as roupas desarrumadas.
– Você é louca. – critico sentado no chão, tossindo levemente.
– Eu não ia te matar, pirata. – ela para de rir, finalmente. – Você tem um instinto de sobrevivência muito apurado. Fico impressionada.
Que caralho ela quer dizer com isso é algo que não consigo nem imaginar. Todo mundo tem um instinto de sobrevivência, ela é a única pessoa que parece ter nascido sem isso.
– Isso pode matar alguém. – passo a mão no meu pescoço meio dolorido ao encostar o corpo na cama.
– Eu sei. Mas qualquer coisa pode matar. – ela se levanta da cama, liga o abajur e vai até a bolsa para acender um cigarro. Desta vez eu aceito quando ela me dá um.
Sempre adorei fumar depois do sexo, era como ter o prazer prolongado. Italia parece entender isso perfeitamente. Ela também se serve de bebida e olha pra mim orgulhosa quando encontra um Kraken onde antes só havia vodca e uísque.
– Estava esperando por mim, pirata? – o cigarro chacoalha entre seus lábios.
Rio encolhendo as pernas para apoiar os braços.
– Comprei pra me lembrar do cheiro do seu hálito. – explico sem nenhum risco de parecer um maluco. Quem é ela pra julgar, certo?
Italia se serve rindo e me dá um copo. Sexo, cigarro e bebida. Tento pensar quando foi que deixei de achar graça neste trio. Agora me parece a melhor coisa da vida. Ela senta do meu lado.
– Qual foi o pensamento que meu presente aplacou? – ela olha dentro do cinzeiro pra encontrar a bituca do cigarro que me deixou na outra noite.
– Principalmente a minha vontade de esquecer o resto das coisas e foder com você até você foder de vez com a minha cabeça. – não consigo evitar de ser completamente honesto com esta mulher.
– Funcionou então. – ela sorri colocando os cabelos de lado. – Você estava aqui quieto no seu quarto decadente de hotel.
– Funcionou perfeitamente, até você aparecer.. – trago a fumaça e não consigo evitar em pensar que é o melhor cigarro da minha vida. Deve ser porque eu achei que fosse morrer a apenas alguns minutos, mas me cai a ficha do motivo pelo qual as pessoas gostam dessa sandice de asfixia. – O que você está fazendo aqui?
– Eu quero foder com você até foder de vez a sua cabeça. – sua brincadeira não me espanta.
– Vai se foder. – bebo o rum e engulo com normalidade. Passou a sensação das garras dela na minha garganta.
É o melhor cigarro da minha vida e ela me observa fumá-lo atentamente.
– Você já me fodeu, Tyler.
Pelo cheiro parece que estamos sendo defumados no quarto, mas ainda consigo sentir o perfume dela.
– Tire as roupas. – falo decidido. Se ela vai me enlouquecer, vamos até o fim.
– Quer apertar o meu pescoço, Ty? – ela tira o vestido e monta sobre mim.
– Não. – me retraio completamente. Ela pega a minha mão e suga meus dedos, fixando o olhar no meu. Seus dentes raspam minha pele. Acaricio seus seios com a mão livres.
– E se eu falar de Sasha novamente?
– Não fale, Italia. Por favor. – seu rosto se diverte com a minha súplica. – Não me deixe com raiva.
– Você pode descontar em mim. Eu aguento. – ela guia minha mão por seu corpo, me fazendo ficar duro como pedra.
Ela coloca a outra mão em mim, me masturbando de um jeito rude e muito eficiente. É muito óbvio pra mim que Italia é boa de cama como é boa em confundir minha cabeça. Suponho que nenhum homem seria capaz de resistir ao toque tóxico dela.
– Eu não quero machucar você. – fecho os olhos, relaxando a cabeça no colchão.
– O que dói tanto em você, Tyler? Você a traiu?
Meu corpo se retesa em uma repulsa não anunciada. Eu sinto um suor gelado brotar na minha testa.
– Não. – digo querendo tirar Italia de cima de mim, mas ela segura meu pau com força. Ela é capaz de quebrá-lo ao meio se eu tentar qualquer coisa.
– Por que ela terminou tudo, Ty? – a voz dela sussurra.
– Eu fui péssimo com ela. E ela foi uma vaca egoísta. Ela costumava amar o que eu fazia, até que deixei de ser quem eu era. – falo balançando a cabeça em negação. Eu não quero falar, mas minha boca tem vida própria.
Italia se move sobre mim e me enfia dentro dela, encaixando o corpo no meu. Meu mal estar aumenta por estar repassando detalhes da minha separação na minha cabeça. Eu sou um homem assombrado, definitivamente. Se não é pelo passado, é pela morena que geme rebolando no meu colo.
– Você está com raiva, Tyler? – ela sussurra no meu ouvido.
– O tempo todo. – admito dolorosamente.
A esta altura Italia segura minha mão em seu próprio pescoço.
– Você não é quem ela queria que você fosse? – sua voz parece o canto de uma sereia, só que uma bem maligna.
Minha mente me trai e eu penso em Sasha me entupindo todas as culpas pelo que nos aconteceu. Eu passei tanto tempo convivendo com a ideia de ser um monstro filho da puta, que falhou com ela, que não pude dar um filho a ele, que nunca estava em casa, que me esqueci de ver que ela também estava ocupada demais com seu trabalho e sua vida pra olhar pra mim.
– Pare! – é mais uma advertência do que um pedido.
– Aposto que ela está fodendo alguém melhor do que você, agora, seu fracassado.
É a gota d’água. Levanto derrubando Italia no chão, o baque de suas costas na madeira é alto e seco mesmo com o tapete. Ela perde o fôlego e aperto seu pescoço com força, cheio de raiva, sem conseguir parar de entrar nela fundo e de um jeito demente.
Seu rosto fica vermelho e suado, e ela não resiste, fechando os olhos. Eu não consigo mensurar o tempo que seu corpo me recebe em hipóxia, mas ela fica duas vezes mais quente debaixo de mim.
– Cala a boca. Cala a boca. Cala a boca. – eu repito enlouquecidamente e solto seu pescoço, desabando sobre ela.
Afundo a boca em seu pescoço e ela geme em sussurros, seu cabelo se agarra na minha barba tanto quanto sua boceta no meu pau. Italia parece delirante quando a sinto gozar, retorcendo seu corpo e me apertando a bunda com as mãos trêmulas. Levanto e a olho assustado. Eu poderia tê-la matado facilmente. Ela não resistiu ao sufocamento como eu, eu nem saberia se seu limite havia chegado. Ela tem um sorriso mórbido no rosto.
– Me desculpe. – digo apoiando os cotovelos no chão ao redor da cabeça dela.
– Não se desculpe, Ty. – ela se mexe para que eu saia de cima e obedeço.
Eu não sei se estou mais envergonhado ou horrorizado. Ela pressiona todos os botões da minha insanidade, é como se eu estivesse na beira de um abismo e ela me desse um ótimo chute na bunda que me impulsiona pra frente. A falta absoluta de controle me aterroriza, mas ao mesmo tempo me faz sentir vivo e desatinadamente bem.
Italia vai ao banheiro e na volta se joga na cama. Eu acendo um cigarro desta vez e me sento na cadeira ao redor da mesa. Observo o corpo dela, mantendo uma distância segura sem saber direito se quero comê-la novamente ou mandá-la embora.
– Eu estava com raiva. – ela me olha com a cabeça deitada no colchão, seus cabelos espalhados pro alto como uma onda que alcança a areia. – Por isso eu vim.
– Aí você me deixa com raiva e o que? A gente se mata juntos?
– Pode ser. – ela sorri de um jeito encantador desta vez.
– Você trepa com alguém de um jeito normal?
– Sim. Mas acaba não tendo tanta graça.
– É só com a perturbação que você se excita?
– Não. Eu me excito com qualquer coisa. A perturbação me alivia. – ela se esfrega nos lençóis como se quisesse deixar o cheiro de seu corpo espalhado ali, pra continuar me torturando mesmo quando estiver longe.
– Nunca conheci alguém como você.
– Isso é um elogio?
– Até seu nome é uma charada.
– Meu pai sentia muita saudade da casa dele. Ele me nomeou para sempre lembrar de onde veio. – ela se senta na cama. – Ele sentia mais falta do país natal do que de mim. Desde os seis anos eu estudei em colégios internos pela Europa.
– Cresci com mais quatro irmãos num condomínio metropolitano de Chicago. Embora fosse uma vida miserável, minha mãe sempre nos manteve unidos.
Italia suspira com os olhos fixos em qualquer coisa no chão.
– Parece que sua mãe era melhor que a minha. – ela conclui friamente. Não parece nem minimamente abalada. – Você quer que eu vá embora? – ela levanta o corpo e eu a imito.
– Importa o que eu quero, Italia? Você vai fazer o que você quiser de qualquer forma.
Ela me olha enigmática. Acho que ela vai me esperar adormecer e me matar durante o sono, ou roubar meus órgãos.
– Por quê? Por que comigo? – me aproximo dela.
– Eu confio em você. – ela parece sincera. Não é o tipo de afirmação vazia e mesmo não querendo, eu acredito nela. – Você não foi a Safeword por curiosidade. Havia algo machucado em você, na forma que você quis sofrer. Você é diferente.
Nós dois estamos exaustos mas eu beijo Italia segurando seu rosto entre minhas mãos. Ela me puxa para a cama e me provoca até que eu esteja excitado novamente. Eu mal termino de gozar pela terceira vez na noite e meus olhos se fecham em sono e satisfação.
Italia chora durante a noite e se bate em um pesadelo que parece horroroso. Eu dormia tão pacificamente em finalmente sentir denovo o calor de alguém ao meu lado na cama, que tomo um susto quando ela grita pela primeira vez.
Seus olhos estão abertos e ela parece amedrontada ao extremo. Me preparo para receber a polícia a qualquer momento porque devem achar que eu quero matar esta mulher. Desde a hora que ela chegou a noite tem sido de gritos e gemidos, no que parece uma briga mas não passa de sexo bruto e sonhos ruins.
Eu a abraço e ela me empurra e chuta num terror de dar pena. Ela não está ciente do que está acontecendo, nenhum pouco. Eu já vi isso algumas vezes nos meus anos na guerra. Sonhos tão lúcidos que causam um apavoramento mais do que sincero. É impossível distinguir a realidade. Chamo o nome dela suavemente e aos poucos Italia relaxa o corpo gelado sobre a cama novamente.
O que quer que atormente esta mulher, deve ser pesado e triste. Junto o corpo dela no meu e ela respira fundo até que sinto seu coração voltar a bater normalmente. Ela continua dormindo como se nada tivesse acontecido e eu tenho vontade de fugir do meu próprio quarto de hotel. Até durante o sono ela me aterroriza. Que caralho.
No dia seguinte escuto o barulho do chuveiro fechando e a vejo sair de toalha do banheiro, como se nada tivesse acontecido. Ela se veste, recolhe suas coisas sob meu olhar ainda sonolento e se aproxima de mim para um beijo rápido nos lábios antes de ir embora.
– Usei sua escova de dentes.
Esfrego meus olhos e seguro sua mão, impedindo-a de sair.
– Café da manhã. – digo e ela franze a testa. – Você tem que estar com fome.
– Ok. – ela simplesmente concorda.

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