Capítulo 10

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Lia

Termino de nadar as duas voltas antes que Erin tenha chegado ao meio da volta final. A água quente da piscina e o vapor ao redor me fazem relaxar um pouco antes de pensar em começar outro estilo. Ela desiste de terminar e nada por debaixo das boias para puxar meu pé até que eu afunde.
Rio e a empurro, ela afunda minha cabeça com o peso do corpo e um flash me atormenta a cabeça, como luzes piscando antes da energia elétrica acabar. O rosto de Gavin me causa um pavor induzido pela inabilidade de respirar e subo para buscar o ar em desespero.
– Que merda, Lia, sinto muito. – Erin bate nas minhas costas enquanto a tosse expulsa a água que engoli pra fora da minha boca.
Nado até a borda e ela me segue. Eu consegui passar alguns dias sem que a imagem de Gavin Linden me desse qualquer tipo de calafrio, mas a privação de sono e a exaustão física não permitem que meu cérebro isole completamente os assuntos que eu não quero lembrar. Erin tira os óculos de natação e me ajuda a tirar os meus.
– Está tudo bem. – garanto puxando o fôlego.
– Você está tremendo, Lia. – Erin observa enquanto eu saio da piscina para me sentar na borda.
– Não é nada, meu amor. – digo suspirando. – Só preciso de uma boa noite de sono.
Ela ri baixando o rosto na água.
– A grande mamba negra te manteve acordada até tarde... – ela ri e chuto água em seu rosto até que ela se abaixe. – Eu acho que você gosta deste tal Tyler.
– Lógico que eu gosto, Erin. Ele é o único que me desafia, com quem eu consigo conversar sem que ele pareça ter sido lobotomizado. – admito.
A personalidade de Tyler me fez querer continuar ao seu lado, embora ele tenha questões profundas que o façam uma pessoa completamente fodida da cabeça. Seu trabalho deve ser extenuante psicologicamente, eu entendi isso quando vi a forma como ele trabalhou seu instinto de proteção quando eu o amarrei.
Eu aposto que ele é policial, ou algo do gênero.
É ridículo que ele lide diariamente com a adrenalina, de uma forma estressante, e eu precise tanto da mesma substância para relaxar. De certa forma, somos os dois viciados em risco, eu suponho.
– Lobotomizado? Os caras só ficam assim por que não sabem como ganhar você. – Erin revira os olhos exageradamente. – “Eu te amo, Lia. Fique comigo, Lia. Liaaaaaaa.”. – ela imita um zumbi, muito mal, por sinal.
– Você é tão estúpida, Erin. – jogo água nela novamente, e as risadas fazem meu tremor passar.
– De qualquer forma, fico feliz que você goste dele. – ela me olha depois de esfregar os olhos para se livrar da água.
– Eu não acho que gosto dele romanticamente, Erin. E ele já viu mais do que deveria sobre o que eu gosto pra ter qualquer sentimento por mim. – pondero. – Acho que a última vez que eu gostei de alguém foi na faculdade.
– Mason Chadwick. – ela faz um sinal como se fosse colocar o dedo na garganta para vomitar.
– Eu não lembro dele ser tão repulsivo assim. – sorrio e ela dá uma gargalhada.
– Ele era um bobo arrogante. Todos eram, inclusive eu e você. Andávamos pelo lugar como se fôssemos os donas de tudo.
– Depois do dia no bar, no Halloween, eu me lembrei que uma vez você disse que gostava de Gavin. – olho séria para Erin. – Me desculpe por ter ficado com ele aquele dia.
Erin ri.
– Isso foi há séculos atrás, Lia. Eu não gosto mais dele assim. – se Erin estivesse mentindo eu saberia, e ela não está.
É um alívio. Eu não conseguiria saber que fiz algo horrível com alguém por quem ela ainda nutrisse sentimentos, mesmo depois de tanto tempo.
– De qualquer forma não o veremos mais. – garanto e ela dá de ombros.
– Se você quisesse vê-lo eu não me importaria. Ele pareceu bem lobotomizado nas vezes que foi a Safeword. “Liaaaaaaaaa, eu te quero, Liaaa.”. – ela imita o zumbi novamente, e esta era justamente a fantasia de Gavin no Halloween, coincidentemente.
Erin agarra minhas pernas e me puxa para dentro da piscina novamente, eu mergulho rindo e a abraço.
– Eu te amo. – digo muito honestamente. Erin é a única pessoa pra quem consigo falar isso.
– Eu também de amo. – ela responde correspondendo meu abraço. – Liaaaa...
Dou uma gargalhada e a empurro.
– Acha que o mamba negra irá ao clube hoje?
– Duvido. E ele tem nome, a propósito.
– Huuum, você está apegada ao nome dele? – ela sorri satisfeita e espirro água em seu rosto, forçando-a a se defender com as mãos em frente ao rosto. – Seria bom que pudéssemos namorar normalmente com pessoas comuns, Lia. Um dia isso tudo vai ter que acabar.
– Você diz isso sóbria. – analiso e ela fica pensativa.
– Pode ser, penso nisso às vezes, mas não nego que adoro ver você judiando todos aqueles caras de forma tão brutal. Sua natureza é... como foi mesmo que ele disse?
– Perversa.
– É, exatamente, como uma viúva negra. – só em falar sobre isso os olhos da loira se acendem.
Ela pode se referir a mim, mas não é tão diferente.
A música cessa e as luzes se acendem. É a minha deixa e abro os olhos. Eu estava repassando a cena da piscina desta tarde na minha cabeça. Erin me olha sob as luzes de Safeword e sorri divertida. Seu cabelo está solto e a maquiagem impecável. Ela está num corselet preto com um fio dental rendado. Meu body é vermelho e preto, comprimindo estrategicamente minhas costelas.
Me levanto e o garçom é rápido em me oferecer as correntes costumeiras. Pego somente um par de algemas.
– Você pode escolher. – entrego as algemas na mão de Erin.
Ela me beija na bochecha antes de sair da minha companhia.
Eu permaneço no camarote enquanto Erin anda pelas pessoas atrás de alguém que a agrade. Ela sabe as regras, e várias pessoas pedem por ela enquanto seu passeio se desenrola. Ela me olha algumas vezes e finalmente ata o pulso de um homem que sorri idiotamente. Ele não é exatamente atraente. É magro e alto, com cabelos bem cuidados e uma aparência aceitável.
Erin o leva pelo corredor e eu os sigo desta vez, entrando por último no quarto.
– Qual é a palavra de segurança? – pergunto ao homem e ele olha para Erin.
– Limão. – ele realmente diz a primeira coisa em sua mente.
– Você sabe como funciona?
– Sim. Se eu falar limão, tudo acaba. – sua cabeça assente.
O carrego pela algema até uma cadeira em metal e couro. É um aparato que facilita diversas posições sexuais e não é exclusividade de locais onde se pratica dominação. Prendo-o de pé em frente à cadeira em um dos metais onde se apoiam os pés de quem está deitado. Pego na mão de Erin e a coloco deitada em frente a ele, solto os fios de seu corselet e afasto sua calcinha. Ele praticamente saliva. Basta se sentar na pequena almofada debaixo de si e seu rosto estará na boceta fervente de Erin.
Mas ele obviamente não ousa, embora eu possa jurar que é a única coisa que passa em sua mente.
As bochechas de Erin ficam coradas. Ela está ofegante e coloca um dedo em seu clitóris, massageando o suficiente para acelerar sua respiração. O homem fica duro na mesma hora. Eu dou a ele alguns grampos de mamilos.
– Coloque nela. – dou a volta pela cadeira e Erin levanta os braços, passando as mãos na minha cintura enquanto ele prende os grampos em seus seios rosados depois de acariciá-los desejosamente.
Erin geme e eu aperto os dedos sobre os grampos, fazendo-a soltar um grito. Ela tem um corpo fenomenal, e parece ainda mais convidativo ali esticado na horizontal, entregue às sensações do momento.
O deixo se divertir com ela enquanto volto à parede para mais acessórios que espalho sobre o sofá próximo. Vejo-o engolir em seco ao observar tudo que eu trouxe e amarro seu pescoço numa coleira, entregando a guia a Erin.
– Qual é a palavra? – quero garantir que ele lembre.
– Limão. – sua voz é meio vacilante pelo nervosismo e excitação.
Dou um plugue anal em sua mão.
– Vá em frente. – digo e ele obedece. – Ela adora está coisinha.
Ele passa os dedos nas curvas mais intimas de Erin, agarrando instintivamente seu pé com a mão algemada. Ouvi-la gemer é um puta alimento pra minha libido. O vejo lubrificar o plugue em sua boca e espalhar a lubrificação natural de Erin para trás antes de introduzir devagar o pequeno objeto metálico nela.
Ele tem jeito e isso me faz sorrir satisfeita. Então ele passa finalmente a língua pelo sexo dela, vagarosamente, estimulando seu clitóris. Ela adora, puxando a coleira de modo que o rosto dele afunde mais nela.
– Deixa ele me comer. – seus olhos encontram os meus e ela tem a testa franzida em prazer.
– Você a ouviu. – digo e ele se levanta.
Eu coloco uma camisinha nele com a boca, e ele acaricia minha cabeça.
Os outros homens que estiveram comigo nesta sala devem estar indignados por ver este sujeito não sofrer nem um pingo da mesma dor que eles experimentaram. Sorrio olhando o vidro. Eu sei que eles estão ali fora.
Ele começa a comer Erin, completamente entregue ao prazer que a loira fatal está proporcionando. Ela é gostosa e sabe fazer sexo de uma forma envolvente. A escuto falando que ele é delicioso, que fode muito bem em sussurros que só o deixam mais enlouquecido. Coloco uma cinta com um vibrador que imita perfeitamente um pau em látex e passo lubrificante. A parte de dentro tem um estimulador clitoriano delicioso que me faz gozar em minutos quando o uso. Não me preocupo nenhum pouco com a aparência esdrúxula que adquiro usando o acessório, principalmente porque ele se encaixa em mim perfeitamente, me provocando a parte íntima deliciosamente.
Me ajoelho no suporte atrás dele e Erin puxa seu corpo sobre o dela, aguardando ansiosamente minha participação. Meu dedo massageia ele por trás e seu ritmo se intensifica nela.
Encosto a ponta de látex na bunda dele e ela sorri. O homem se contrai inteiro como se eu tivesse lhe dado um choque.
– Relaxe, meu bem. – ela pede e ele continua se movimentando para entrar nela, de forma que eu só preciso projetar o quadril para frente. Ele mesmo me recebe dentro do corpo, em seu ritmo.
Ele grita de dor e seguro na lateral de seu quadril, sentindo uma onda quente percorrer meu corpo. Se ele quiser continuar fodendo Erin, terá que ser fodido por mim. Enterro tudo nele e seu grito se intensifica. Fico esperando o som da fruta mais azeda da quitanda ecoar pelo ambiente, mas Erin segura o rosto dele.
– Não pare. Por favor. – ela pede e ele retoma os movimentos dentro dela, apesar da dor que está sentindo.
Em pouco tempo eu me movo com ele e o vejo se entregar, relaxar e gemer como louco. Eu arranho suas costas, mandando que ele vá mais rápido. Ele não geme mais. Em vez disso urra e grita em agonia e êxtase.
Nosso trio entra em colapso quase ao mesmo tempo. Erin relaxa as pernas e ele estremece violentamente, estocando forte para aliviar seu orgasmo intenso. Saio de dentro dele e instantaneamente ele vai ao chão, trêmulo e com as pernas bambas.
Tiro a cinta a jogo de lado para ajudar Erin a se levantar. Ela tem um sorriso lindo no rosto que combina com o meu.
– Caralho. – ele fala nervoso.
– Você não é gay, relaxa. – Erin diz se abaixando para dar um beijo na boca do homem em crise de identidade sexual.
– Você levou duas mulheres ao orgasmo ao mesmo tempo. – ofereço a mão para ajuda-lo a levantar. – Você está bem. Só precisa de uma bebida.
– Você me comeu. – ele me olha atônito.
– Você podia ter dito “limão”. – falo num tom extremamente condescendente.
Eu sei que ele podia ter dito, mas foi coagido por Erin a continuar, mesmo que não estivesse à vontade com o que eu estava fazendo. Ele me olha de uma forma indecifrável, eu não consigo definir se ele quer me matar ou me agradecer.
Erin entende que ele precisa de mais um tempo para digerir, tanto a dor quanto o fardo psicológico que acabou de adquirir, então o abraça e beija, convidando-o a ficar um pouco mais no quarto espelhado. Visto minha roupa e saio. Fora do quarto há várias pessoas excitadas pelo show, e alguns se aproximam de mim, mas minha expressão séria os afugenta.
Logo que volto à pista Victor me aguarda com um copo de Kraken em duas pedras de gelo. Eu agradeço e amenizo a secura da minha boca.
– Italia, você acabou de foder um cara... – Victor me olha com certa reprovação.
Ele assiste a tudo que se passa no clube de seu escritório. Os ambientes são monitorados com câmeras, mais para proteção dos frequentadores do que para qualquer outro fim. Nunca houve uma imagem de Safeword que fosse divulgada ou vazasse para fora da sala de Victor.
Dou de ombros, como quem diz “e daí?”, e Victor me conduz pelo braço até um dos camarotes mais privativos no canto da pista.
– Ontem recebemos uma intimação pra entregar listas de frequentadores de Safeword à polícia. – ele fala baixo.
– Por quê?
– Eu não sei. – Victor parece tenso. – Mas aquilo que você fez com o cara é inaceitável, Italia. Eu não posso correr o risco de um escândalo. Se amanhã ele acha que você o estuprou, eu posso perder tudo.
– Ele não vai, Victor.
– Mas poderia. – ele passa a mão no rosto nervosamente.
– Você quer que eu pare? – termino a bebida e dou o copo vazio em sua mão.
– Não. Eu quero limites, Italia. Você tem muito poucos, mas eu preciso que você entenda.
Caralho, eu sinto muita raiva dele nesta hora. Quem entra no quarto comigo está ciente que irá sofrer algum dano físico. Quem é o imbecil que acredita que este nível de atividade não vai também mexer com sua cabeça?
É impossível que haja este tipo de ingenuidade em quem vem a Safeword.
Bom, impossível exceto por Tyler. Os monstros que despertei nele estavam tão escondidos que nem ele sabia que existiam. Ele ficou tão assustado quanto aliviado quando os libertou de dentro de si. Ele é o único homem que veio a Safeword completamente alheio ao que ia encontrar, e também completamente vestido.
– Obrigada, Victor. – dou dois tapinhas em seu peito, engolindo minha frustração.
– Italia, não fique chateada. Estou protegendo você também.
– Eu não preciso que você me proteja, Victor. – sou propositalmente grosseira.
– Você precisa ser protegida de si mesma, Italia. Uma hora tudo isso pode realmente te machucar. – ele me abraça. – Você não tem medo de nada...
Escapo dele, Victor é meu amigo, mas eu não gosto de abraços ou demonstrações de afeto. Há uma parte em mim que sabe que ele tem razão, mas ouvi-la é difícil quando tudo que eu faço é tão poderoso pra minha mente. Meus riscos não são calculados.
– Eu posso me cuidar. – digo me afastando dele. – Vou pegar leve, Victor.
Não consigo entender como me vesti, peguei minhas coisas e saí de Safeword tão rapidamente. No táxi fico tentando lembrar desta sequência, mas tudo parece um borrão na minha cabeça. Quando dizem que o ódio nos faz cegos, deve ser disso que falam. Eu não estou com raiva de Victor. Ele está certo e eu sei disso, racionalmente. Estou frustrada comigo mesma. Mando uma mensagem a Erin, explicando minha fuga, mas não consigo achar as palavras pra explicar porque estou parada na porta do quarto de hotel de Tyler no meio da madrugada.
Bato na porta e respiro o ar gelado. É um sábado e ele provavelmente nem deve estar por ali. Eu só quero um alívio rápido pra fúria que queima a minha garganta, mas não podia estar mais do clube onde Victor tem vontades maiores do que os “meus limites”.
Tyler está com cara de sono, mas a rapidez em atender a porta me mostra que ele não estava dormindo. Seu corpo está coberto só por uma calça fina de malha, e ele me olha aturdido. Eu entro no quarto sem nem pedir licença.

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