Safeword

Capítulo 42

Lia

Meu ano começou da forma mais terrível possível, passei a noite em claro com Erin no tapete da minha sala enquanto ela me contou tudo que sabia. Foi a coisa mais fodida que já senti e, francamente, explica muito sobre mim. Sou um exemplo vivo de co-determinismo, o que me aconteceu definiu tantas coisas na minha forma de viver que eu me pego pensando em todas as decisões que eu já tomei depois do Halloween de doze anos atrás.

Tenho um arrepio nervoso ao pensar em Giorgio e minha cabeça dói. Mason estava certo em algo, pode ser que o pequeno pirata nem seja filho dele afinal. Todos os sinais estavam ali, claros na minha frente, os pesadelos, a forma como me dói me sentir subjugada, minha falta de amor em qualquer pessoa que não seja Erin, minha incapacidade de me apaixonar, ou me apaixonar por pessoas inapropriadas e impossíveis de ter, como Tyler.

Olho para Erin com a cabeça apoiada numa almofada, dormindo depois de uma noite exaustiva. Ela teve coragem em cumprir o que prometeu a Mason. "Nunca mais ouse chegar perto de Lia, Mason. Eu mato você.", ou algo assim. Minha amiga, minha fiel e incrível Erin, ultrapassando qualquer lógica da profissão que ela escolheu e adora, movida a memórias assombrosas de algo que nos marcou, mas também nos uniu pra sempre.

Ela teve medo de me contar, assim como eu tive de contar quando achei que tinha sido com ela. A questão é que você nunca quer ver quem você ama destruído emocionalmente e tentamos sempre nos proteger dos lobos, e nos proteger de nós mesmas. Ela nunca sentiu tanto medo quanto no dia que achou que eu fosse morrer, e teve que encarar isso novamente quando me declarei culpada na frente da juíza. Agora eu entendo sua reação tão furiosa, me empurrando em silêncio. Eu também ataco quando tenho medo. E eu tive muito medo todo este tempo.

Erin desperta lentamente e seus olhos injetados encontram os meus. Eu não consigo mais chorar. Minha cabeça saiu do surto e mesmo com o remédio eu não consegui dormir, pensando em como matar Mason lenta e dolorosamente. Ela estica o braço e acaricia meu cabelo.

– Me prometa que não vai fazer nada com Mason. – peço e ela arregala os olhos.

– Lia, eu não vou soltá-lo. Ele foi o último justamente porque eu queria que ele sofresse mais. Ele não gosta de assistir? Então... – a loira é puro ressentimento e eu a silencio com meu olhar.

– Eu não vou soltá-lo, Erin. – digo assertivamente. Não vou mesmo. – Ele é meu.

Algo em mim se retorce com isso e ela me encara. Erin duvida que eu tenha a coragem, porque ela me conhece, mas em mim também há algo indiferente às consequências negativas de matar Mason Chadwick. De fato, eu já tracei meu próprio plano e só preciso que Erin continue mantendo o monstro de estimação vivo até que eu possa executá-lo.

– Prometa, Erin. – peço e ela concorda.

Movo o corpo para frente e beijo Erin na testa. Somos as piores cúmplices que existem se continuarmos guardando segredos uma da outra, mas não consigo mencionar minha intenção a ela. Só espero que ela cumpra sua parte. Erin me abraça e eu suspiro cansada e fecho os olhos.

– Durma, Lia. Tudo vai ficar bem. – ela diz suavemente e me deixo vencer pelo sono.

O tempo é senhor de tudo, é graças a ele que realmente tudo passa, exceto quando parece que o próprio tempo estacionou. Tento trabalhar na segunda-feira, mas sou dispensada educadamente pelos chefes da empresa.

Eu conheço a ladainha do "gostaríamos de mantê-la aqui e etc.", mas a quem eu quero enganar? Como ser confiável para negociar qualquer coisa tendo se declarado culpada de dois homicídios? Quem em sã consciência continuaria me empregando?

Olhar para as paredes é um martírio e eu sinto falta de Tyler. Ele aquieta meu coração de uma forma que eu realmente preciso, mas não posso contar com ele enquanto o caso é investigado. Ligo pra ele me sentindo pior do que nunca, é injusto que eu o use assim, eu sei, mas há um lado negro em mim que cresce a cada minuto que minha cabeça não se distrai de mim mesma.