Capítulo Sete

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                                              1986.

Primeiro dia de faculdade. Entrou o professor falando coisas assustadoras sobre as matérias. Depois entrou outro. Foi um terrorismo. Quando perceberam nosso susto, eles riram e confessaram que era uma pegadinha e que eram alunos veteranos da instituição. Que alívio! Que não durou muito, por causa da professora de Metodologia Científica, pois não entendíamos lhufas do que falava. Era grego. Ela tentava explicar para calouros como fazer uma monografia. Trabalho esse, chamado hoje de TCC, que se faz no último ano do curso. E nós não tínhamos a menor idéia de como começar isso.

A maioria era de meninas na nossa turma. Havia apenas um rapaz, Maurício. Era pianista. Muito legal. As meninas eram casadas, mães. Eu era uma das poucas solteiras e a mais jovem da turma.

A minha aula preferida era de Psicologia. A professora falava sobre sexo e a minha curiosidade era grande. A professora era uma Psicóloga Freudiana. Sigmund Freud defendeu a teoria de que o ser humano é assim, sexual e agressivo por natureza e a função da sociedade é amansar essas tendências naturais do homem. A situação de não poder dar vazão a essa energia gera no indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser resolvido. Toda ação do homem é motivada, assim, pela busca hedonista, ou seja, excessiva busca pelo prazer como modo de vida, de dar vazão à energia psíquica acumulada.

De maneira geral, achava o curso bem interessante. Mas, ainda me sentia só. Minha amiga Eliane tinha ido cursar Matemática. Com o tempo, arrumei uma única amiga, a Rosane. Segundo a psicóloga do National Institute of Health de Maryland, Amanda Guyer, as pessoas socialmente retraídas tem maior sensibilidade às interações sensoriais e emocionais. Isto significa que o que acontece neste contexto de interação as afeta mais. Concordo com essa pesquisa, pois as minhas experiências vividas em um passado recente foram fundamentais para que eu me tornasse uma pessoa retraída e introvertida. Gostava mais da minha própria companhia; uma vez que, na companhia de outrem, eu estaria sujeita ao escárnio e à agressão psíquica, tão comumente conhecida hoje como assédio moral.

No meio do ano, depois das férias, recebemos a visita do Diretor do Centro Cultural da cidade, no nosso curso. Ele estava buscando pessoas interessadas em fazer estágio na Biblioteca Pública. Eu cresci os olhos. Corri falar com ele:

____ Eu gostaria de fazer esse estágio. Amo ler e estagiar numa biblioteca é um sonho.

____ Você pode comparecer no Centro Cultural na segunda-feira, que nós vamos conversar.

____ Pode deixar. Na segunda, estarei lá.

Cheguei na segunda-feira no Centro Cultural e percebi que éramos apenas duas interessadas: a Maria Aparecida e eu. Fiquei imaginando quem ele escolheria.

____ Bem, meninas, eu passei em todas as turmas, mas apenas vocês duas se interessaram pelo estágio. E nós temos duas vagas.

Respirei aliviada. As duas seriam contratadas.

____ Amanhã, vocês vêm munidas de seus documentos para efetivarmos a contratação. Aí, iremos para a Prefeitura.

No dia seguinte, levamos a Carteira de Trabalho e a Prefeitura nos contratou como estagiárias. Voltamos para o Centro Cultural e fomos apresentadas para a Bibliotecária.

____ Meninas, esta é a Miriam. Com ela que vocês aprenderão a catalogar os livros. Ela será a chefe de vocês. Miriam, essa é a Isadora e essa é a Maria Aparecida.

____ Prazer, meninas. Eu vou mostrar onde vocês irão sentar-se.

A Miriam era uma pessoa fantástica. Nós fizemos amizade logo de cara. Já a Maria Aparecida não era muito fácil. As outras funcionárias da biblioteca eram também muito legais, principalmente a Noeli. Nós nos tornamos amigas rapidamente.

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