Eles encararam Davi com raiva, apenas meu irmão de dezenove anos tentou raciocinar com ele, dizendo:
____ Nós temos princípios diferentes de você. Nunca daria certo.
Davi argumentou com ele, mas meu pai, completamente irado, expulsou-o de casa.
____ Vá embora. Suma daqui. Nunca mais apareça na minha frente. ____ vociferou.
Davi era muito mais forte e fisicamente preparado, mas se conteve por minha causa e saiu. Não tinha mais como suportar essa humilhação. Cheguei ao meu limite. Perdi o medo de enfrentar minha família e fui atrás dele. Saí do jeito que eu estava. Só com a roupa do corpo e uma sapatilha.
Andamos por cerca de meia hora, em completo silêncio. Ele estava muito chocado. Quando chegamos à avenida principal, paramos numa praça sossegada e sentamos em um banco. Ele disse:
____ Você tem que me esquecer. Sua família nunca vai aceitar.
____ Não, Davi, você está enganado. Quero lhe pedir desculpas por ter lhe chamado para ir lá em casa. Você não merecia esse tratamento. Você me desculpa?
____ Volte para a sua casa. Prefiro não conversar agora. ____ Estava decepcionado.
____ Eu não vou voltar. Está decidido. Vou sair de casa hoje mesmo. ____ falei revoltada e com razão.
____ Você tem certeza disso? ____ perguntou em dúvida.
____ Absoluta! Preciso de você e já cansei das atitudes deles. ____ falei firme.
Deitei no colo dele e ficamos planejando o que eu iria fazer. Primeiro, contatei a Irene, minha colega que estava precisando de uma companheira de apartamento. Depois, falei com uma amiga do colegial, Lili, a fim de solicitar que me ajudasse a pegar minhas coisas em casa, pois ela tinha carro. Isso tudo aconteceu à tarde.
À noite, fomos, Lili e eu, até a casa dos meus pais e encontrei somente minha nonna lá. Os demais tinham saído. Foi bem mais fácil que eu pensava. Peguei minhas roupas, calçados e todas as outras coisas e fomos embora. Enchemos o carro dela.
Cheguei na Irene com todas aquelas coisas. Ela cedeu um quarto para mim, de bom tamanho e eu me arranjei como pude. Precisava comprar uma cama e um guarda-roupa.
Soube depois que eles estavam me odiando por eu ter saído de casa. Mas, eu tinha outra saída? (Que o leitor me julgue).
No outro dia, fui comprar uma cama, mas preferi um sofá-cama e comprei também uns lençóis e um cobertor.
Quanto ao guarda-roupa, o Davi me deu um que cabia todas as minhas coisas. Como eu era professora, precisava de uma escrivaninha para trabalhar. Mandei fazer uma de cerejeira super pesada. Era em L. Um balcão na lateral e escrivaninha de frente. Ali, eu guardava todos materiais escolares, preparava as aulas e corrigia as provas. Eu a tenho até hoje. Era de madeira maciça.
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Estou postando a metade do capítulo para dar um gostinho. Desculpem por ser curto.
Vocês estão gostando das músicas? Espero que sim. É onde eu mais demoro: na escolha da música certa para aquele momento.
Júlia
Continua...
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Isadora
Non-FictionÉ possível uma pessoa vencer diante de obstáculos, como um transtorno de personalidade, causado por maus-tratos na infância? É possível alguém suportar uma grande dor e decepção? Isadora conta sua trajetória desde sua mais tenra infância. Por favo...