Capítulo Vinte e Quatro - Primeira Parte

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____ Doutor Willy para que serve esse remédio, a lamotrigina?

____ Você vai ter que tomar, porque você é bipolar.

____ Como assim? O que significa isso?

___ É um transtorno mental, que antes era chamado de maníaco-depressivo. Doença em que você passa meses na mais profunda depressão, sem vontade de fazer absolutamente nada; mas, como que do nada, eis que surge um ser completamente diferente: você muda para uma pessoa alegre demais, eufórica demais, com muita energia, que não encontra obstáculos em nada à sua volta. Também é uma doença perigosa, porque a pessoa não tem limites, como comprar demais e se tornar sexualmente muito ativa, extrapolando os conceitos de família e de moral. E, principalmente, porque torra os neurônios.

Olhei para ele estupefata. Não acreditando em uma só palavra do que ele estava dizendo. Fiquei pensando comigo mesma: "esse coitado desse senhorzinho já é gagá".

Fui embora,  como se nada tivesse me dito. Eu estava sentindo-me superior a tudo isso, acima de qualquer coisa que não me interessasse.

E parti para mais uma jornada de compras em uma das butiques mais caras da cidade, que ficava ao lado do meu trabalho. Andava chiquérrima, acima das minhas posses.

No meu trabalho, eu era eficientíssima. Nada era capaz de me derrubar. Eu fazia e acontecia. Também era rígida com meus subordinados. Mas, dentro da minha cabeça, a engrenagem era diferente. Eu me sentia uma pessoa boníssima, alegre e desejada por todos, que todos me amavam.

Minha paixão pelo Takeshi só aumentou com o passar do tempo. E, quando uma colega minha solicitou ao chefe que ele fosse trabalhar em outro departamento com ela, eu fiquei indignada, mas nada poderia fazer, pois o chefe concordou.

Todavia, eu passei a "visitá-lo' em seu setor. Achava toda e qualquer oportunidade para vê-lo. E quando esse sentimento começou a sobrepujar de tal maneira meu coração, que eu não podia mais contê-lo, escrevi uma carta para ele explicando tudo o que eu estava sentindo e solicitando que ele rasgasse a carta depois de lê-la.

Depois de entregá-la ao Takeshi, fiquei um dia na sala de xerox no departamento dele, num horário em que eu sabia que ele estaria por perto. Quando ele apareceu, como eu estava me achando o máximo, não me rastejei. Fiquei aguardando ele falar alguma coisa:

____ Oi, você está aqui. Está tudo bem? ____ falou carinhoso, quase meloso.

___ Sim. Você rasgou a carta? ____ perguntei dando a entender que eu não estava nem aí. Fingindo, claro!

____ Rasguei, com certeza. Ela jaz em algum lixo qualquer.

Acho que não comentei ainda que o Takeshi era uma pessoa muito culta. Pois é. Além de lindo, era inteligentíssimo. Na minha mente, ele era o homem mais incrível do planeta. Junto ao mesmo departamento dele, trabalhava uma amiga minha, a Lúcia. Nós éramos bem achegadas, mas eu não tinha coragem de contar sobre meus sentimentos a ela.

Eu seguia a minha vida de mãe e dona de casa, como se nada estivesse acontecendo, feliz da vida, porque eu me sentia bem, com muita energia. Muita vontade de tudo fazer. Coloquei na cabeça também que faria uma plástica para arrumar meu corpo, pois depois das duas gestações, ficou flácido.

Depois das minhas últimas peripécias, adivinhem quem estava sempre me procurando e arrumando desculpas para falar comigo...

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora