Capítulo Dezenove - Primeira Parte

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Em poucos dias que eu estava amamentando, a mama ficou ferida, pois a pele era muito fininha. Como resultado, doía muito para amamentar no peito esquerdo. Só conseguia no direito. Com a vinda do leite em abundância e as poucas mamadas, tive mastite. Com o ferimento, começou a sair sangue no leite e o Guilherme chorava de fome.

Minha avó disse que se curava esse problema com sebo de carneiro e outras soluções caseiras, além de pomada para fortalecer a pele. Todavia, nada resolvia. Ligava para o médico incessantemente e ele dizia para insistir nas mamadas. Eu estava ficando desesperada. Não conseguia amamentá-lo, devido à dor intensa e nem a bombinha esgotava o leite.  Para piorar, peguei uma bactéria no ferimento, mas não sabia disso. Meu peito doía demais. Comecei a ter febre alta. Chegou a um ponto que toda a mama ficou amarela escura pela infecção. Resultou numa drenagem espontânea, ou como diziam minha avó e minha mãe: "veio a furo".

Então, o médico aceitou que tinha algum problema, porque minha mãe ligou para ele indignada com seu descaso. Fui à consulta e quando ele viu a mama, assustou-se. Não imaginava que fosse tão sério. Eu estava com uma febre altíssima, mais de quarenta graus. Ele marcou a cirurgia para drenar o seio completamente, pois ainda produzia infecção e saía através di furo. Receitou-me antibióticos como solução, mas a ação da medicação não foi imediata e eu vim a ter infecção generalizada.

Em casa, dava-me tanta febre e calafrios que as diversas cobertas que punham sobre mim não bastavam para me manter aquecida. Sentia muito frio. Tremia inteira. Davam-me antitérmicos; no entanto, nada passava a febre. Minha sogra veio ficar comigo, pois minha mãe cuidava do bebê. Meu filho ficou longe de mim todo esse tempo. Eu já estava delirando de tanta febre. Não era capaz de saber o que estava acontecendo. Durante esse período, eu tirava um tampão do furo e saía um pus preto, de tão infeccionado que estava.

Por fim, chegou o dia da cirurgia. Deram-me anestesia geral e operaram-me. Saiu muita  purulência da mama. Foi suficiente para encher uma vasilha que os médicos usam na cirurgia. Depois da cirurgia, passei muito mal, com muita febre e uma dor lancinante. Tinha delírios e me batia muito. Uma tia foi ficar comigo depois da cirurgia, porque eu fui para o hospital e fiquei completamente só. Minha mãe continuava cuidando do Guilherme. O Davi estava trabalhando.

Quando ele chegou ao hospital, as atendentes disseram que não havia nenhuma Isadora no hospital. Então, ele ficou extremamente nervoso.

____ Vocês vão ver se não tem nenhuma Isadora no hospital! ____ foi entrando, empurrando portas e invadindo os quartos. Ele estava fora de si.

____ Senhor, o senhor não pode fazer isso: invadir o hospital. Há normas a serem seguidas.

____ Não quero saber de normas! ____ gritou Davi ____ Quero saber onde está a Isadora!

Enfim ele entrou em um quarto, onde eu estava gritando de dor. E falou alto com a atendente:

____ Então, não tem nenhuma Isadora no hospital? E esta aqui, quem é? ____ vociferou.

A atendente ficou sem resposta e saiu de fininho. Deixaram-me num quarto com outra paciente. Entretanto, eu gritava, assustando a outra. Eu ainda estava delirando. Assim, Davi fez outro escândalo para me colocarem num apartamento sozinha. E como foi erro médico, eles não cobraram por essa cirurgia, tampouco pelo apartamento. Ao menos isso.

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Continua...

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