Capítulo Dezessete - Segunda Parte

374 85 19
                                    

Após essas turbulências, passamos por um período de paz. Davi e eu nos amávamos. Sabia disso. Só precisávamos de tempo para nos adaptar ao casamento.

E em junho de 1993, resolvemos engravidar. Um bebê iria completar a nossa felicidade. Parei de tomar as pílulas e me disseram que demoraria a engravidar; mas, enquanto isso fomos tentando. No próximo mês, no período da menstruação, senti muita cólica e um leve sangramento. Fui a uma médica e ela me pediu muitos exames. Não entendi nada do que ela estava pedindo. Tampouco ela me explicou o que eu precisava saber. Falei para a minha vó que minha menstruação não estava descendo direito e ela ficou desconfiada, mas não me disse. Voltei a consultar com a médica e ela me apresentou o resultado dos exames: eu estava grávida! Levei um susto. Como assim!?? Tão rápido! Eu simplesmente parei de tomar o contraceptivo, entrei no período fértil e engravidei em julho. Bem no início.

Foi uma felicidade e tanto. Enfim, minha família se manifestou. Minha mãe ficou empolgada com o primeiro neto e começou a confeccionar roupinhas para ele, ou ela. Roupinhas em tons neutros e vermelho, cor que eu amo.

Não gostei daquela médica e troquei. Fui consultar com um médico mais simpático, mas como eu era muito inexperiente em tudo, eles deveriam ter explicado melhor sobre o estado em que eu me encontrava. Eu estava no escuro, sem saber o que esperar em cada fase.

O médico ne deu um remédio para parar o sangramento e ácido fólico, além de outras vitaminas. Comecei o pré-natal. E logo começaram os enjoos matinais. Eram terríveis. De manhã, principalmente, eu passava muito mal, no entanto tinha que lecionar. Eu chegava atrasada devido às náuseas, que eram acompanhadas de tonturas, apesar de que o colégio ficava a poucas quadras de casa, pois nós havíamos mudado para o centro em um dos apartamentos do prédio da Aeronáutica. Tivemos sorte de conseguir um destes e não precisávamos pagar aluguel, apenas uma taxa. Foi uma fase bem difícil. À tarde, eu precisava pegar dois ônibus para percorrer uma distância de uma hora da minha casa, num bairro afastado do centro, para lecionar. Por incrível que pareça, muitos não davam lugar para que as grávidas sentassem e eu também não pedia. Era muito ingênua, na época.

Como eu passava muito mal, certo dia uma colega me disse se eu não queria o bebê, se eu o estava rejeitando, por isso eu ficava mal daquele jeito. Fiquei revoltada e respondi que jamais rejeitaria um filho e que o bebê era muito desejado e esperado. E que, se eu passava mal, era por outros motivos.

Aos quatro meses de gestação, ficamos sabendo o sexo do bebê: um menino. Eu sempre tinha sonhado com uma menina, mas, no fundo, sabia que era menino. Mesmo assim, fiquei muito feliz e o papai todo orgulhoso. Lembro que um dia me deu uma vontade louca de comer feijão. Eu o cozinhei, temperei bem e me lambuzei de tanto comer. Que delícia! Não fosse por esse feijão, eu só comia coisas azedas: salada com limão, pepino e outras conservas, igualmente azedas. O meu paladar rejeitava qualquer outra coisa. Não podia nem tomar café, que era minha bebida preferida.

Um dia, o Davi resolveu ferver capim cidreira. Eu fiquei no quarto, mas mesmo assim, fiquei muito enjoada. Também tinha enjoo dele, do cheiro dele. Mas, não tinha coragem de falar.

Enfim, foram passando os meses e os enjoos diminuíram, mas não passaram totalmente, pois eu não me alimentava direito. Chorava muito, porque gostaria de ter minha família perto de mim, mas eles não me visitavam nunca.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora