Capítulo Três

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Mais ou menos no meio do ano, a professora de Português que, aliás, era ótima, deu-nos a tarefa de ler José de Alencar e meu grupo ficou com a obra "Senhora". Lemos, discutimos a leitura em grupo, anotamos todos os dados e cada aluno do grupo ficou com uma parte para apresentar na frente da turma. Fizemos até uma pasta vermelha em papel camurça para fazer bonito. E o Renan estaria lá me assistindo. Estava tudo perfeitamente planejado. Eu tinha amado tanto o livro que decidi ler toda a coleção de José de Alencar mais tarde. Chegou o dia tão esperado. Meu grupo foi para a frente da sala e um colega começou apresentando a primeira parte e eu desandei a rir. Acometeu-me um forte ataque de riso na hora errada. Não consegui apresentar minha parte de tanto que eu ria de puro nervosismo. Era imensa a minha vergonha. Mas não foi possível encerrar a apresentação de forma apropriada. Terminou e eu não parei de rir. Foi um tremendo fiasco. Achei que a professora me daria zero, mas ela me deu a mesma nota do grupo. Que alívio!

Quando chegamos no último bimestre, a mesma professora decidiu fazer uma peça teatral, que seria nada mais, nada menos que a Chapeuzinho Vermelho. E adivinha? Escalou-me para ser a Chapeuzinho. E quem foi o lobo mau? Claro que foi o Renan.

Tinha ensaio regularmente. Foi muito divertido. Eu começava a peça cantando:

____ "Pela estrada a fora eu vou bem sozinha levar esses doces para a vovozinha. Ela mora longe e o caminho é deserto e o lobo mau está aqui por perto. Uma só casinha. Um só poente. Junto à vovozinha, eu estarei contente."

E nessa hora, aparecia o lobo mau, dizendo:

____ Cheguei, cheguei à minha floresta... A Chapeuzinho deve estar aqui por perto... Sinto seu cheiro..

Aí transcorria toda a história da Chapeuzinho. Achava maravilhosos os ensaios, porque estávamos sempre juntos. Morávamos próximos e sempre íamos embora juntos.

Certo dia, um colega chamado Jailson deu-me um cartão declarando seu amor por mim e outro presente junto. Apesar de ter gostado dos presentes, fiquei chateada, porque o Renan ficou zangado e deu a entender que eu o incentivava. O que não era verdade, pois eu não sabia do seu interesse por mim. Eu fugia dele, porque não estava nem um pouco interessada.

Mas, por que eu não podia namorar, ele quebrou meu coração. Começou a namorar uma colega de classe, que tinha mais liberdade que eu. Chorei uma tarde toda por causa disso. Sofri demais. Foi a primeira vez que meu coraçãozinho foi partido.

Já não tinha mais alegria ao ir para a escola. E pior, fizemos a brincadeira do amigo secreto e imaginem quem eu tirei? Claro que foi a namorada dele. Foi cruel ter que presenteá-lá. Dei um perfume.

Mas, enfim, terminou o ano. Fizeram a formatura e a turma fez uma viagem à praia. Naturalmente, meu pai não permitiu que eu fosse nem na formatura.

Em compensação, fui viajar com minha tia Graça. Não tínhamos dinheiro para viajar, mas meu irmão e eu fomos com meus tios para a praia. Foi a primeira vez que eu vi o mar. Foi emocionante. Eram meus tios, meu primos, nós, meus avós e minha tia, Carla.

Nós nos divertimos à beça. Depois, minha tia Graça brigou com meu avô postiço e eles foram embora. Ficamos mais uns dias praia. Ao todo, foram quinze dias em Santa Catarina. Estado que tem muitas praias lindas.

Quando retornamos, passamos o restante das férias escolares na casa da minha tia Graça, irmä da minha mãe. Brincávamos em casa ou íamos ao clube que eles eram sócios. Tinha uma enorme piscina e nos divertíamos lá a tarde toda. Foram férias maravilhosas. Até me esqueci do Renan. Fiquei pensando quanto era grande minha paixão, para eu esquecer numas férias. Embora eu tivesse motivos para isso, porque ele havia quebrado nosso vínculo.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora