Como diz a música, nosso amor era um "strani amore", um estranho amor. Ao mesmo tempo que nos queríamos, não conseguíamos entender um ao outro.
Nossa vida sexual era ótima, mas a emocional, difícil. Em torno dessa fase da gestação, o Davi soube que teria que deixar a Aeronáutica, bem como deixarmos o apartamento. Ele ficou preocupado demais e começou a fazer nossa casa nos fundos do lote da mãe dele. Ele pegou firme na construção, sem ajuda e com as próprias mãos, ergueu a casa.
Entretanto, ele não sabia medir as coisas: a preocupação extrema dele com nossa proteção era diretamente proporcional à distância que ele impunha entre nós. Quando estava em casa cansado, não me dava atenção, muito menos conversava. Ficava calado, assistindo à TV. Eu ficava esgotada de chamá-lo para dormir, porém ele não me ouvia. A distração dele todos os dias até tarde da noite era assistir televisão. Mesmo antes de eu ficar grávida já enfrentava esse desafio.
Naquele momento, tudo o que eu queria era a atenção dele, mas não havia meio de consegui-la. Eu ficava me perguntando: "Será que ele não me ama?" "Será que enjoou de mim?" Eram questionamentos torturantes. Embora estivesse tão chateada, eu não me expressava. Aquele medo de desagradar os outros voltara. Deixava os problemas rolarem.
Os meses foram passando e a casa demorava a ficar habitável e os superiores dele na Aeronáutica pediam o apartamento. Chegou o dia de ele sair do quartel, porém a casa não estava pronta; então, ele pediu para que pudéssemos ficar mais um tempo para que a casa ficasse pronta. Eles concederam o pedido. Graças a Deus!
Trabalhava com uma colega, cujo marido tinha um cargo gerencial na empresa pública de abastecimento de água e saneamento básico. Desse modo, solicitei a ela que seu marido arrumasse emprego para o Davi na empresa. Ela falou com ele e entrevistaram-no para um cargo de atendente. Deram o emprego para o Davi. Foi um alívio.
Enquanto isso, minha gravidez já estava avançada. Meu parto estava marcado para quatro de abril de 1994. Durante o final da gestação, sentia muita dor mesmo durante os momentos que eu estava lecionando. Eu achava que o bebê estava nascendo, mas o motivo era que o corpo estava se preparando para o parto. Fase chamada de pré-parto, quando o bebê se mexe e começa a colocar-se na posição ideal para o parto normal. Isso acontece, em média, a partir da 35ª semana da gravidez. O bebê se volta para a parte de baixo da barriga, o que faz a pressão interna passar do diafragma para a bexiga. Também ocasiona muita dor. Eu tinha que ficar sentada nas aulas, pois as dores eram tão fortes que não conseguia ficar em pé. O médico não me preparou para esse momento. Não disse praticamente nada. Minha mãe quase não falava comigo. Minhas colegas que já eram mães, asseveravam que ainda não era a hora. Por fim, peguei licença para relaxar nos últimos dias antes do parto. Um pouco antes disso, duas escolas em que eu trabalhava fizeram chá de bebê para mim e deram-me muitas coisas. Completei o enxoval dele, mas não tínhamos comprado o berço, apenas uma cômoda. Lavei todas as roupinhas, passei e guardei-as nela.
No dia vinte e três de março, às vinte horas, eu estava tomando banho e senti que estava fazendo xixi sem querer e não estava entendendo o porquê. Saí do banho, mas continuou saindo líquido. Achei que a barriga estivesse apertando muito a bexiga. Ainda bem que meu "vodrasto" estava lá em casa e disse que eu tinha que ir para o hospital imediatamente. Eu fui sem mala, sem nada. Ele nos levou porque não tínhamos veículo.
Quando cheguei lá, o plantão acionou meu médico que veio me examinar. Examinou o líquido que descia e chegou à conclusão que era líquido amniótico. A bolsa estourara. Entrara em trabalho de parto.
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Continua na segunda parte.
Beijos
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Isadora
No FicciónÉ possível uma pessoa vencer diante de obstáculos, como um transtorno de personalidade, causado por maus-tratos na infância? É possível alguém suportar uma grande dor e decepção? Isadora conta sua trajetória desde sua mais tenra infância. Por favo...