Isadora

Capítulo Dezoito - Segunda Parte

Iniciou-se às vinte horas, quando rompeu a bolsa e às vinte e três horas, eu já estava com as dores. Dores nunca antes sentidas. Parecia que uma cãibra gigantesca tomara conta do meu corpo. Começava embaixo do busto e ia até os pés. Contrações muito fortes, que vinham de cinco em cinco minutos, aproximadamente. Eu não sabia o que fazer para amenizar a dor. Parecia que queria evacuar, mas não era real. Apenas uma sensação. É uma experiência extraordinária ter um filho. Só quem já vivenciou para entender.

Tecnicamente falando, havia dois centímetros apenas de dilatação; as dores estavam de dois em dois minutos e continuavam acelerando. Cada vez que o médico vinha fazer o toque não passavam dos dois centímetros. Quando chegou às três horas da manhã, eu estava agonizando em dor e já tinha avisado ao médico que eu não queria o uso do fórceps para tirar o bebê. E com o exame de toque, novamente, ele percebeu que não dilataria mais. Assim, eu o puxei pelo colarinho e implorei por uma cesariana naquele momento desesperador.

Ele concordou e convocou uma equipe médica para realizar a cirurgia. Foram rápidos. Deram-me anestesia e comecei a rir de felicidade por não sentir mais dor.

Começaram prontamente o parto cesárea e senti que estavam mexendo dentro de mim, porém não sentia dor. Passado das três da manhã do dia vinte e quatro de março de 1994, meu filho Guilherme veio ao mundo.

Quando ele chorou fiquei aliviada; no entanto, quando o mostraram para mim, eu não consegui distinguir naquele momento, mas quando o tiraram ele estava com uma cor muito escura e eu exclamei:

____ Mas ele é moreno! ____ Quanta ingenuidade! Muitos bebês nascem roxos. É normal, depois passam a ter a cor natural.

Depois que o banharam e levaram-no para o quarto, ele já estava com a pele alva, mas o cabelo espesso era quase preto. Não entendia por quê. O Davi e eu éramos loiros, por que o bebê tinha cabelo tão escuro? Naquele período,  eu não sabia que os cabelos, os olhos e até mesmo a pele dos bebês mudam de cor.

Enfim, puseram-no ao meu lado no quarto, pela manhã. Ele chorava muito e eu não podia pegá-lo, pois estava me recuperando da cirurgia. Não tinha conhecimento disso naquele momento, mas o correto seria uma das enfermeiras me ajudar, ensinando-me a amamentar. Mas,  simplesmente me ignoraram. Estava ficando nervosa, sem saber o que fazer, quando o Davi chegou. Viu o filho, abaixou a cabeça e começou a chorar de emoção. Fiquei emocionada por ver a ternura que ele estava sentindo pelo filho. Guilherme nasceu enorme, fofucho, com quatro quilos e cinquenta e um centímetros. Gordinho e grande. Não é orgulho de mãe, mas ele era um bebê muito lindo.

____ Por que você demorou a chegar? ____ questionei aflita.

____ Mas o médico me mandou embora, disse que eu não poderia ficar aqui, que o bebê só nasceria hoje. ____ respondeu indignado com o médico.

____ E como você soube que ele havia nascido? ___ indaguei curiosa.

____ Sua mãe ligou aqui no hospital, soube do nascimento dele e me avisou. Mas eu demorei um pouco, porque fui comprar um bercinho para ele.

____  Ainda bem! Estava preocupada com isso.

____ E você está bem? ___ Falou preocupado. ____ Nasceu normal?

____ Não. Foi cesariana. Mas está tudo bem. Só que ele não para de chorar. Deve estar com fome. ____ falei aflita.

Ele chamou uma enfermeira que falou que eu tinha que amamentá-lo, mas eu não sabia direito como fazer. Tentei amamentá-lo, mas ele continuava chorando.

Então, as enfermeiras trouxeram uma mamadeirinha com um pouco de leite para ele. Depois disso, ele parou de chorar. Era esfomeado. Quando o médico passou por lá, receitou Plasil, que é usado também para aumentar o leite.

Em dois dias, fui para casa. Aos poucos fui me adaptando para cuidar dele e amamentá-lo. Esse é um momento único entre mãe e filho. Minha mãe estava presente nesses momentos e fazia para mim chá de funcho com leite bem doce para, segundo ela, aumentar o leite.

Entretanto, nem tudo eram flores...