Capítulo Quinze - segunda parte

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Entrei no restaurante e vi-o já me aguardando em uma mesa ao fundo. Estava com saudade de dele, mas a raiva ainda era minha companheira.

Cheguei perto da mesa, ele me olhou com aqueles olhos pretos e tristes que só ele tinha, sempre que me via. Fiquei com um pouco de pena de falar o que eu tinha para dizer, mas os sentimentos de mágoa sobrepujaram a compaixão.

Dei um beijo em sua face e perguntei:

____ Como você está?

____ Bem. Eu que preciso saber como você está. Não me mandou mais notícias.

____ Vamos pegar nosso almoço e depois conversamos.

Servimo-nos e voltamos para a mesa. Ele, ansioso para saber o que eu tinha a dizer. Começamos a comer e eu disparei.

____ Eu perdi a virgindade. ____ falei sem pestanejar.

Meu irmão abaixou a cabeça chocado, quase sem respirar. Para a minha família esse era um assunto seríssimo.
Falei soltando toda a mágoa que eu tinha dos meus pais, sabendo que ele iria comunicá-los. Esse meu irmão, apesar de jovem, três anos mais novo que eu, era o mais sensato da família.  Mesmo assim, o que eu falei atingiu-o de uma forma violenta. Fiquei com dó dele, porque sempre fora muito bom para mim. Todavia, meu objetivo seria atingido: chocar meus pais de uma forma muito intensa. 

Os meses foram passando e minha relação com Davi foi se fortalecendo.

Em setembro, eu acordei não me sentindo bem. Lembrei que estava na TPM, que era cruel para mim. À noite, piorei consideravelmente, mas nunca ia ao médico para resolver o problema. Mais tarde, o Davi foi ficar comigo na casa da Irene. Eu estava muito fraca. Em certo momento, sentindo-me desamparada e devido aos meus problemas de relacionamento com a Irene, eu olhei para ele, com coragem, e disse:

____ Vamos ficar noivos? ____ Ele ficou quieto por um momento e fiquei com medo que ele dissesse "não". Eu nem respirava.

____ Vamos. Para quando você quer? ____ respirei aliviada e fiquei muito feliz com a resposta dele.

____ Pode ser assim que comprarmos as alianças? ____ perguntei esperançosa.

____ Sim. Vamos a uma joalheria, assim que você ficar boa.

____ Ótimo! ____ exclamei sorrindo, sentindo-me bem melhor.

A partir dali, começamos a fazer planos para o nosso casamento. Eu completei vinte e três anos e ele, vinte.

Meu relacionamento no colégio também não ia bem, devido ao meu namoro com um aluno e à minha constante doença.

Então, quase no final do ano, surgiu um concurso para professora do estado. Inscrevi-me, apoiada pelo Davi.

Chegou o dia e realizei as provas. Participei do concurso de Língua Portuguesa e de Língua Inglesa. Senti que tinha ido muito bem! Saí das provas bem confiante. O sonho de todo professor era ser funcionário do estado, devido à estabilidade.

Quando chegou o resultado, fiquei super feliz, eu havia passado nos dois concursos; porém, não havia assinado o cartão do gabarito da prova de português, por isso minha aprovação foi anulada. No entanto, seria contratada para iniciar no início do próximo ano como professora oficial do estado em Língua Inglesa. A felicidade foi imensa.

A dona do colégio Central,  aproveitando-se da situação, demitiu-me. Fiquei até aliviada. Não suportava mais aquela mulher.

Agora, era partir para o s planos do casamento que ficou marcado para vinte e um de dezembro quando iniciavam nossas férias. Minhas e do Davi.

Era uma empolgação só. Com o dinheiro do acerto do colégio,  mais o FGTS, comprei a geladeira, o fogão e todos os utensílios de cozinha. Minhas alunas mais achegadas fizeram um chá de panelae e ganhei algumas coisas que não precisei comprar.

Meu tio, irmão da minha mãe, ofereceu a casa dos fundos da casa dele para morarmos, cobrando apenas a luz e a água. A casa era pequena, mas funcional: um quarto enorme, uma sala média, uma cozinha, um banheiro e uma lavanderia.

Compramos também uma mesa redonda com apenas dois banquinhos (Risadas). Era o que podíamos. A tia do Davi nos deu uma cama com gavetões para guardar cobertas e alguns utensílios de cozinha.

Estávamos muito felizes, apesar da simplicidade.

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Espero que tenham gostado do final do capítulo e da música. Se não estiverem gostando das músicas, avisem-me que mudo o estilo.

Beijos.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora