Capítulo Nove

558 107 21
                                    

                                                1988

Trabalhava na biblioteca pública. Cursava o terceiro ano de Letras. E ficava nessas idas e vindas com o Tomé. Era uma maneira insegura de viver. Não estava me agradando.

A certa altura, conheci o Carlo. Era um gato de olhos claros, cabelos loiros encaracolados e lábios grossos. Dois anos mais jovem que eu. Resolvemos namorar e ele disse que pediria para os meus pais para consentirem o namoro. Falei que não adiantaria, porque eles não permitiriam. E ficou por isso.

Naquela noite, todos nós jantamos e eu fiquei de lavar a louça, enquanto meus pais estavam lá fora na frente da casa, tomando um ar fresco.

Eu ia para lá e para cá trazendo as coisas da copa para a cozinha, lavando, secando e guardando a louça. De repente, eu olho para fora e não acredito no que eu estou vendo. O Carlo estava lá sentado, conversando com os meus pais. Fui até lá ver o que estava acontecendo.

____ Oi.

____ Oi, Isa. Vim pedir aos seus pais para nós namorarmos. ____ ele era corajoso ou cara de pau. Não sei. Falou como se fosse a coisa mais normal do mundo. Para as outras pessoas era. Para mim, não.

Olhei para os meus pais e perguntei:

____ E qual foi a resposta?

Meu pai disse:

____ Disse que você é muito nova para namorar. Que tem que terminar a faculdade primeiro. ____ fiquei quieta. Não tinha como argumentar com eles. Sempre tinham razão. Seria perda de tempo.

Eles entraram e me deixaram conversar um pouco com ele.

____ Eu falei para você que não adiantaria.

____ Tínhamos que tentar, pelo menos. Mas não se preocupe! Nós daremos um jeito de nos encontrarmos.

Combinamos e ele foi embora. Realmente, nós dávamos um jeito de nos encontrarmos. Ele ia à biblioteca e nós íamos embora juntos.

Nesse ínterim, minha tia Carla e uma amiga dela mais velha vieram em casa me buscar para "conversar" comigo. O assunto: o Carlo. A amiga da Carla me passou um sermão e eu fiquei quieta, apenas ouvindo.

____ Você não pode namorar o Carlo, porque a Carla é apaixonada por ele. Você não tem esse direito.

Como eu sabia que minha tia era mimada, mais uma vez não adiantava argumentar. Sem contar que eu tinha receio de falar as coisas e tudo ficar pior.

____ É só um aviso. Se você persistir, haverá consequências. ____ ameaçou-me.

Não dei a mínima e continuei o namoro. Com o passar do tempo, entretanto, eu percebi que ele era tarado. E só o que ele queria era sexo. Já me bateu a insegurança e não me envolvi emocionalmente com ele. No final das contas, nós acabamos o namoro, já fadado ao fracasso. Mas que azarada! Novamente, não era "o cara".

Depois desse fiasco,  como se já não bastasse, conheci o Franjinha. Apelido dado pela minha colega.

Começamos a sair, ele me levou à casa dele. Era muito querido, mas não rolou. Aquele ano foi um verdadeiro fracasso amoroso. Quantos dissabores para alguém suportar. Família ditatorial e amores frustrados.

Completei vinte anos e ia super bem na faculdade. Fiz amizade com dois professores maravilhosos: a professora Ana Maria, de Literatura Americana e o professor Eurípedes, de Inglês e Literatura Inglesa.

E com aquela ingenuidade de sempre, eu seguia com essas amizades. A professora Ana Maria, nunca me esqueço, disse que eu era brilhante. Eu só precisava descobrir em quê. Ainda não havia encontrado meu ponto forte.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora