Capítulo Dezesseis -segunda parte

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Foi uma festa gostosa. Final de tarde. Minha tia estava muito satisfeita de ter ajudado. Minha nonna, que morava numa casa de fundos com a casa da minha tia, não teve coragem de comparecer. Era muito tímida. Então, antes de ir embora, fui me despedir dela e ela me disse que estava muito feliz pelo meu casamento e achei graça ela dizendo que se minha mãe estivesse ali, tudo seria melhor organizado. Quanta inocência, pobrezinha! No entanto, eu a amava demais.

Depois da festa, na mesma noite, fomos para a nossa casa passar a noite de núpcias. Minha amiga que nos levou à outra cidade nos trouxe, pois não tínhamos carro, nessa época.

Quando chegamos, Davi tirou minha roupa, deitou-me na nossa cama pela primeira vez, admirou minha lingerie, depois tirou-a. Deliciou-se em olhar meu corpo curvilíneo. Saboreou cada pedacinho e amou-me a noite toda. Agora, ele era legalmente meu.

Ele tinha um mês de férias. Eu tinha dois meses. No dia seguinte, pela manhã, ele resolveu tirar fotos minhas de lingerie. Troquei várias vezes de roupa para que ele fotografasse cada modelo. Foi bem divertido.

À tarde, resolvemos tomar sol, sem protetor. Imaginem o resultado para mim: queimadura da brava. Não havia nada para passar. Eu só ficava sem roupa na frente do ventilador, de tanto que ardia. Não dava para encostar. Levaram alguns dias para sarar completamente. Foi terrível!

Quando sarei, comecei a caprichar na comida. Eu tinha um caderno de receitas cheio de anotações. No domingo, saía arroz de forno, lasanha, bife à milanesa e outras delícias. À noite, quando o Davi voltava do colégio, sempre tinha uma sopa quente esperando por ele. Além de tudo isso, tinha prazer em fazer pão caseiro, amassado na mão, uma vez por semana.

Nunca tinha sido tão feliz! Sentia muita falta quando ele estava no quartel. Acordava cedo para ficar abraçadinha com ele até o micro-ônibus do CINDACTA chegar. E ele, não tirava serviço a noite toda mais, a fim de poder ficar comigo.

Os dois primeiros meses foram de puro namoro. Uma delícia! Eu não tinha muita notícia dos familiares, a não ser meus tios, que moravam na frente. Minha família imediata não me procurara nesse período, mas tudo estava bom demais, até que...

Começamos a brigar. Um dia, ele me irritou tanto, que eu comecei a jogar coisas nele para ele parar. Em muitas noites, eu ia dormir chorando, porque ele me tratava mal. Eu sofria, porque tinha fantasiado que ele fosse um príncipe e que jamais me maltrataria. Mas, infelizmente, a realidade não correspondia à fantasia. Eu estava me enganando... pois, o que eu poderia esperar de um jovem de vinte anos, que mal saíra da adolescência?

Naquele dia, fomos andar pela cidade e fazer umas comprinhas. Era dia de semana e nós dois estávamos de folga. De repente, senti uma ardência embaixo da minha costela. Ele tinha me dado um beliscão muito forte e eu comecei a chorar, não entendendo o que estava acontecendo. Então ele disse, raivoso:

____ Por que você estava olhando para aquele cara?

____ Que cara? ____ falei chorando, morrendo de vergonha por estar na rua, perto de várias pessoas. ____ Não olhei para ninguém!

____ Eu vi muito bem que você estava de olho!

____ Você é maluco! De onde tirou essa ideia? ____ expressei-me magoada demais.

Foi um dia horrível! Descobri que ele era terrivelmente ciumento. Senti-me enganada naquele momento.

Muitos acontecimentos depois e estávamos nos amando novamente e cuidando um do outro. Na realidade, nossa vida era uma gangorra. Às vezes, lá em cima, outras vezes, lá embaixo. Percebi que o Davi era muito instável. E essa instabilidade cobrava seu tributo. Tudo o que eu já tinha vivido vinha ao meu subconsciente cochichando-me: "Você não merece ser amada! Conforme-se!" E com todo esse estresse emocional, eu ficava doente.

Certo dia fomos cortar o cabelo. Quando eu encostei a cabeça no lavatório, foi impossível manter o pescoço ali, devido à dor intensa que eu sentia pela tensão acumulada por tanto tempo. O meu emocional estava abaladíssimo novamente.

Fui a um neurologista que simplesmente me deu um calmante, que me deixava grogue. Não era possível tomar todos os dias.

E eu continuava me perguntando: "será que minha vida será sempre assim, ou é só uma questão de adaptação ao casamento?"

Precisava descobrir. Agora eu era sozinha no mundo.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora