Capítulo Treze

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The Love of My Life

Falei para Davi que minha família queria se mudar, a fim de que eu não tivesse mais contato com ele. Ficou muito abatido. Nós estávamos sofrendo pela oposição deles e não víamos nada demais na nossa relação, que pudesse macular a honra da família.

Naquele domingo, arrumei-me esmeradamente, pois tinha combinado um encontro com o Davi em frente a uma loja famosa da cidade. Tive que levar meu irmãozinho mais novo, pois não me deixaram sair sozinha e também não falei que me encontraria com ele.

Todavia, ocorreu algo inusitado. Quando falei o nome da loja, ele entendeu que era outra. E ficou lá por horas me aguardando, enquanto eu fiquei na loja combinada. As duas eram na mesma avenida, mas longe uma da outra. Estávamos todos a pé.  Então,  cansados de esperar, resolvemos, meu irmão de dez anos e eu descermos a avenida. Eu, chateadíssima por ele não ter comparecido.

Quando chegamos numa grande loja de departamentos, que ficava bem na esquina onde eu viraria a rua para ir para casa, encontramos o Davi lá em pé, aguardando-me. Ele não desistiu de me esperar. Achei hilário ele ter entendido diferente o lugar em que combinamos.

Mas,  enfim, conseguimos nosso encontro. Decidimos ir ao cinema, liguei para casa avisando que iria ao cinema. Ficaram furiosos comigo e me mandaram voltar imediatamente para casa. Eu me recusei e fui ameaçada. Como não tinha celular na época, liguei de um orelhão.

Resolvi enfrentar a situação e ir para o cinema com ele. Estava passando Ghost, por isso eu disse que a canção Unchained Melody era tão especial. Ela se tornou a  nossa música.

Meu irmãozinho caçula não interferiu na nossa relação, mas não pudemos ficar aos beijos. Assistimos ao filme que acabou tarde e ele nos levou até perto de casa.

Quando chegamos, foi uma guerra. Ouvi sermões do meu irmão adulto, três anos mais novo que eu, da minha mãe e os xingamentos do meu pai. Que se alterou bastante. De vez em quando, ele tomava uma cachaça e ficava agressivo. Aguentei firme, sem discutir, mas sem abaixar a cabeça e mais do que decidida a ficar com o Davi.

Davi e eu continuamos com nossas aulas para que ele realizasse o concurso da aeronáutica. No dia que ele foi viajar, eu dei um jeito de ficar com ele até ele pegar o ônibus para a capital, Curitiba. Ficamos nos abraçando e nos beijando, aproveitando nosso momento. Tinha medo que ele passasse e fosse mandado para outra unidade. Então fiquei me sentindo só. Parece que em pouco tempo, ele fazia parte de mim. E para ele era a mesma coisa. Com certeza, estávamos apaixonados.

Os dias passaram e a espera por ele era angustiante. Então, comprei um relógio para dar de presente a ele. Quando ele voltou, foi emocionante. Ele amou o presente. Era um relógio muito bom e bonito.

Quando  ele retornou, chegou do quartel num sábado cedinho, cuja base ficava em outra cidade e eu estava esperando por ele na "nossa" praça. Eu sempre dava uma desculpa em casa, a fim de sair. E nesse dia, consegui sair cedo e ficar com ele durante a manhã. Ele ficava lindo com aquele uniforme azul e aquela cobertura na cabeça, que parece um naviozinho.

Ficamos na praça, mas ele estava muito cansado por ter passado a noite de serviço. Ficamos nos beijando e eu costumava sentar no colo dele, o que estava deixando-o louco de desejo. Começou a pedir para fazermos amor e eu negava. Queria ter certeza do nosso amor. Não queria transar com uma pessoa, não dar certo com ela, depois namorar outro, transar com ele e assim por diante. Tinha meus princípios.

Continuamos nosso namoro, sempre dando um jeito de nos encontrarmos na praça e depois das aulas.  Nós nos víamos todos os dias, com exceção do fim de semana, que meus pais não deixavam sair.

A pressão da família para eu deixar dele era forte. Meu pai me xingava de biscate, que na nossa região significa prostituta. Não perdia a oportunidade de pisar em mim. Certo dia, ele ficou tão nervoso, que me pegou pelos cabelos e com uma vara super grossa na mão, pretendia me bater,  mas meu irmão o impediu. Ele me soltou pela insistência dele, mas estava espumando de raiva. Dessa vez, eu iria denunciá-lo na Delegacia da Mulher. Sorte dele que parou a tempo.

Minha mãe disse novamente:

____ Esse cara é um banana. Senão, ele viria aqui e nos enfrentaria. Ele só quer se aproveitar de você. É um gigolô.

Fiquei tão indignada que contei para o Davi o que ela dizia sobre ele. Então, ele resolveu ir lá em casa. Combinamos num domingo.
Minha mãe estava com uma amiga na copa, quando ele  chegou. Eu o recebi na sala. Meu pai tinha tomado muita cachaça naquele dia. Quando ele viu que o Davi estava lá, espumou de puro ódio. Começou a gritar para ele ir embora.

Meus irmãos maiores apareceram e os três se posicionaram para bater no Davi.

Continua...

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