Capítulo Dezenove - Segunda Parte

367 80 27
                                    

Depois da estada no hospital, fui para casa, mas não pude cuidar do bebê ainda, porque estava muito fraca. Sofria com muita dor na mama, que ficou com um dreno, para expelir toda a sujeira.
Levou o período de um mês para me recuperar moderadamente. Não estava completamente sã ainda, quando minha mãe falou um dia:

____ Agora, você tem que cuidar do Guilherme sozinha. Tenho minhas coisas para fazer. Não posso ficar o tempo todo com ele. ____ falou com a costumeira raiva que ela tinha por mim.

Fiquei muito chateada, porque ela sabia que eu ainda não estava bem, mas procurei entender. O problema também é que eu não tinha apetite. A comida me dava náusea. E não havia quem fizesse comida para mim. Mas o mais importante era eu me virar para cuidar do meu filho, que era muito faminto, talvez porque fosse um bebê grande.

O Davi nunca estava comigo, porque estava construindo nossa casa durante os finais de semana todo e, às vezes, até tarde da noite, além de trabalhar no quartel.

Minha família continuou a não me visitar. Ficava muito sozinha. Minha sogra ia lá de vez em quando. Mas como ela já dava sinais de que tinha algum problema, eu não esperava muita coisa dela.

Fiquei tão estressada com essa situação toda, que um dia cheguei no meu limite. O Davi não me ajudava com o bebê. Eu não tinha mais ninguém. Surtei. Cheguei para ele com o Guilherme no colo e disse:

____ Quero me separar de você. Não aguento mais essa situação.

Ele riu até, de desespero. Abraçou-me e pediu desculpas, porque não estava dando a atenção necessária. Disse que me amava muito. Ficamos bem e eu dei uma melhorada no meu humor.

Passei o restante dos meses de licença mais animada. Minha saúde foi melhorando aos poucos e eu pude curtir mais o bebê.

Certo dia, fui com o Guilherme à casa dos meus pais. Queria que meu pai, que gosta muito de criança, curtisse o neto. Fiquei bem feliz com a receptividade dele. Ele ficou muito contente de poder vê-lo. Voltou a me tratar bem, com carinho e passou uma borracha em tudo o que tinha acontecido conosco. Isso me deixou muito aliviada e em paz.

Ao final de quatro meses, tive que voltar a trabalhar. Deixei meu bebê com minha sogra, que eu não sabia que tinha problemas de início de demência. Achava que ela era um pouco estranha, mas não entendia o porquê. Não tinha opção. Não poderia pagar uma babá, naquele momento. Minha mãe não deu sinais de que queria cuidar dele.

No primeiro dia de trabalho, quando cheguei em casa, na hora do almoço, meu filho me viu e deu um lindo sorriso. Fiquei tão feliz. Estava com muita saudade. E não era comum ele sorrir, mas  ficou feliz em me ver. Senti um amor tão grande por ele. Era um amor diferente de todos os outros. Ter um filho e poder amá-lo é uma dádiva.

Os meses foram passando e, em agosto de 1994, nós nos mudamos para a nossa casa. Guilherme estava com cinco meses e já tinha alguns dentinhos. Ele era enorme. Bem maior que os bebês de sua idade.  Com certeza, ele seria um rapaz alto e forte. Com sete meses, ele já falava "mamama". Tão fofo!

O Davi, de vez em quando, causava-me muito desgosto, porque fazia questão de jogar futebol duas vezes por semana. E eu precisava corrigir os trabalhos e as provas. Não tinha como eu fazer as duas coisas, cuidar do Guilherme e fazer minhas tarefas de casa, como professora. Para piorar a situação, eu tinha muitas turmas. Em torno de quinze, com trinta e cinco alunos, aproximadamente, em cada turma. Mas, não podia reclamar, porque o Davi era muito nervoso.

Quando meu filho estava com um ano e meio, eu fiquei muito doente. Não conseguia trabalhar e nem levantar da cama. Nesse período, meu pai já estava muito apegado ao neto e o pegava sempre para ficar com eles. Quando o estado não me dava licença, eu era obrigada a faltar, pois não conseguia fazer coisa alguma, a não ser ficar deitada. Não entendia por que aquilo estava acontecendo. Não conseguia ficar no meio de muitas pessoas também,  porque me dava fobia. Eu tremia e faltava ar.

Nesse período uma amiga me falou:

____ Por que você não consulta com o doutor Marinho? Ele é idoso, mas é muito experiente. Vai saber explicar o que você tem.

____ Passe-me o contato dele. Eu vou consultar para saber o que eu tenho.

Fui à consulta com o doutor Marinho, um senhor muito simpático. Ele fez muitas perguntas. E ao final da consulta, deu o diagnóstico...

**********

Meninas,

Peço, por favor, que não desanimem, porque o sofrimento da Isadora é grande. Ela vai passar por muitas tribulações antes de ser feliz. Aguentem, por favor, por ela.

Grata.

Júlia

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora