E ao som de Sound of Silence, de Simon e garfunkel, acompanhe a vida de Isadora do final do ano 1990 e início de 1991.
Passei a ministrar aulas no Colégio Central, onde eu tinha mais liberdade para conduzir as aulas. Peguei as turmas do primeiro, segundo e terceiro anos do Segundo Grau Regular, umas turmas à tarde e outras à noite. As turmas eram legais e eu lecionava Língua Portuguesa.
Estava feliz por conquistar o meu dinheirinho, mas ainda não dava para alugar um lugar legal. Eu não queria morar num bairro muito distante do centro. Em minha casa, as coisas estavam mais calmas. No entanto, minha meta de ser independente não havia mudado.
No colégio, à tarde, comecei a conversar com um colega professor e a gente ficou meio de paquera. Ele era muito querido e muito educado. Eu estava bem caidinha por ele. E, ao mesmo tempo, havia um chileno que estava interessado em mim. Mas eu estava mais para o lado do professor do que do chileno, apesar da capacidade intelectual fenomenal que o chileno tinha.
Mas, infelizmente, ou não, o professor de Matemática resolveu ir para Portugal; de repente, deixando-me arrasada. Todos os colegas notaram e zombavam dos meus sentimentos. Fiquei feliz que ele me prometeu que escreveria.Com o passar dos dias, recebi um cartão dele, mostrando-me alguns lugares visitados. Muito lindo, por sinal.
E acabou o ano de 1990. Eu tinha emprego, o que era bom, e iria continuar no mesmo colégio no ano seguinte.
Em janeiro, minha família e eu, além de um amigo, fomos à praia. Esse menino e eu ficávamos de beijos e amassos, mas sem meus pais saberem. Claro que deveriam desconfiar. Mas, como ele era amigo dos meus irmãos, era comum estarmos sempre juntos. Apesar disso, ele não era algo sério. Apenas um passatempo para os dois. Era mais jovem que eu.
Foram férias muito boas. Conheci Camboriú e fui com uma amiga e sua família a Florianópolis. Navegamos na Lagoa da Conceição, brincamos numa pequena cachoeira e comemos frutos do mar. Conheci a praia da Joaquina e tiramos muitas fotos de momentos agradáveis.
Depois dessas férias gostosas, começou o ano letivo. Fui designada para ensinar Língua Portuguesa no Ensino Supletivo do segundo grau. Do primeiro ao terceiro ano.
No primeiro dia de aula, apresentei-me como Isadora e a matéria que eu lecionaria. Percebi logo de cara que um aluno prestava muita atenção às aulas. Era muito loiro e bastante alto. Além de muito bonito. Achei-o dedicadíssimo à matéria. Fiquei feliz de encontrar gente comprometida naquela turma, pois a maioria só estava ali por um certificado.
Assim foram os primeiros dias tentando conquistar os novos alunos, que eram mais difíceis que os alunos do ensino regular. Eram desconfiados, mais velhos e não achavam que deviam muito respeito a uma professora de apenas vinte e dois anos.
Comecei com as matérias da apostila no primeiro ano e aquele aluno super dedicado, que eu descobri chamar-se Davi, além de prestar muita atenção, constantemente pedia minha ajuda para resolver os exercícios. Ficava cada vez mais impressionada. Nunca vira tamanha dedicação. Ele não desviava o olhar durante as explicações.
Naquela noite, saí do colégio acompanhada de várias moças do terceiro ano. Descemos as escadas conversando e fomos para a avenida principal. Passamos por um bar. Achei estranho, mas aquele aluno, o Davi, estava sentado no caminho. Tinha virado a cadeira, cuja mesa estava na calçada, de frente para o caminho de onde eu vinha.
Havia vários alunos tomando cerveja ali. Cumprimentaram-me e eu passei reto. De repente, ouvi:
____ Professora! ____ era o Davi me chamando. Olhei para trás.
____ Sim. ____ respondi meio envergonhada, por ser interpelada no meio de vários alunos. Tive que parar para dar atenção.
____ Eu sou militar da aeronáutica e vou prestar concurso interno e preciso me preparar para a prova de Português.
Fiquei apenas ouvindo, parada, no meio daquela gente toda.
____ Será que a senhora poderia me dar aulas particulares para esse fim?
____ Poderia, sim. Sem problemas. ____ respondi, sem ter outra alternativa, mas também por que estava intrigada.
____ Poderia me passar seu telefone, por favor? ____ falou sem o menor pudor.
Anotei num papel e alcancei para ele.
____ Muito obrigado, professora.
As alunas que estavam comigo me esperaram; aliás, estavam todos curiosos para saber aonde a conversa iria dar.
Despedimo-nos e continuamos nosso caminho. À certa altura, fui embora sozinha. Era um bom trecho, mas eu era destemida. E a incidência de marginalidade era bem menor à época.
No domingo de manhã, como era costume, dormi até umas dez horas. Minha tia e minha mãe estavam na cozinha tagarelando e tomando chimarrão.
O telefone tocou na sala e fui atender.
____ Alô!
____ Oi professora, tudo bem? ____ Era o Davi.
Começou a conversar e perguntar sobre mim. Falou sobre muitas coisas coisas, mas não tocou no assunto das aulas. Achei muito estranho!
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Queridas leitoras,
Desculpem-me a ausência, mas não estive bem de saúde.
Saudades. Um grande beijo para todas.
Se vocês quiserem ser sorteadas com um caderno decorado, por favor, escrevam: "eu quero" e cada uma ganhará um número, ok?
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Isadora
Non-FictionÉ possível uma pessoa vencer diante de obstáculos, como um transtorno de personalidade, causado por maus-tratos na infância? É possível alguém suportar uma grande dor e decepção? Isadora conta sua trajetória desde sua mais tenra infância. Por favo...