Capítulo Dez

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                                                 1989

Último ano de faculdade. Que alívio poder terminar! Saí da biblioteca pública e fui trabalhar na biblioteca de um clube da cidade. Havia uma grande quantidade de livros doados, mas sem organização alguma. Eu assumi a biblioteca do zero e comecei a organizar os livros nas estantes, classificando-os por matérias. Contrataram uma outra funcionária para me ajudar. Fizemos as fichas de empréstimos e, depois de organizada, começamos a emprestar os livros para os sócios. E havia muita procura. A Magali cuidava dos empréstimos e das devoluções e eu, da catalogação dos livros, de acordo com códigos internacionais.

Enfim, o curso chegou ao término e ocorreu a tão esperada formatura. A cerimônia foi num grande clube da cidade. Nossa beca era preta, com fita de cetim rosa, pois é a cor do curso de Letras. Toda a família estava presente. Após a solenidade, uns parentes e amigos fizeram uma festinha na minha casa para comemorar. Foi muito legal. Chamei a Adriana, minha colega de trabalho no clube.

No outro dia, continuamos comemorando. O jantar foi no restaurante de um hotel chique. Tudo patrocinado pela professora Ana Maria. Eu estava vestida com uma tailleur rosa chá e uma camisa branca. Foi um jantar magnífico. Minha tia Carla foi junto comigo, vestida com blusa de paetês azul royal. Estava chiquérrima.

Após a formatura, eu continuei trabalhando na biblioteca de dia e à noite, fazia a revisão de um jornal da cidade. Fui entrevistada pelo editor e me contrataram. Eu saía do jornal à meia noite e o motorista da empresa nos deixava em casa. No outro dia cedo, ia para a bilioteca.

Apesar de eu estar trabalhando em dois empregos, eu não ganhava bem. Ficaca ouvindo do meu pai:

____ Você tem que achar um emprego que ganhe bem. Você tem que ajudar em casa. Você é uma incompetente.

Tudo o que eu queria era ganhar bem e "sair" de casa. Ser independente. Mas, não era assim tão fácil arrumar o emprego dos sonhos, que desse para manter uma casa.

Durante o período que trabalhei no clube, eu fiquei de paquera com um rapaz. Era muito fofucho. A gente saía do trabalho juntos muitas vezes e trocávamos alguns beijos. Mas não rolou grande coisa. Nós não nos apaixonamos um pelo outro. Então, foi melhor cada um seguir seu caminho.

Trabalhei o resto daquele ano nesses lugares. Quando chegou no final do ano, minha colega Magali, da biblioteca do clube, estava lendo o jornal daquele dia e me disse:

____ Isa, olha só esse anúncio. Estão precisando de professor de Inglês nesse colégio.

A Adriana se manifestou:

____ Vá, Isa. Você é formada. Você vai ganhar bem.

____ Será que eu vou, meninas? Estou insegura para encarar uma sala de aula. Acho que não estou preparada.

____ Deixa de ser boba. Uma hora você vai ter que encarar. ____ Afirmou a Magali.

____ Claro, Isa. É sua chance de mudar de vida. ____ Disse a Adriana.

____ Não custa tentar. Se não der certo a entrevista e não for contratada, você fica aqui no clube até aparecer outra oportunidade. ____ Falou Magali.

As duas estavam me dando força, porque sentiram o quanto eu estava insegura. Tinha completado vinte e um anos e não estava tendo atitude para encarar os desafios.

Com o apoio delas, marquei entrevista com a diretora e fui na na data e horário marcados. A Karen era uma mulher muito bonita, linda mesmo. Mas, o que tinha de beleza, tinha de antipatia. Ela me entrevistou, sem abrir um sorriso durante todo o tempo que nós conversamos. Ela me aprovou e combinamos a contratação. Falou que não costumavam registrar os professores. Entretanto, ofereceu-me um salário bom, bem maior do que eu ganhava no clube e no jornal.

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