Capítulo Vinte e Três - Primeira Parte

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Enfim, o Takeshi começou a trabalhar comigo naquele mesmo dia. Ele era muito simpático, porém reservado. Coloquei-o no setor que foi determinado, que ficava um pouco antes da minha sala. Eu trabalhava, mas ficava muitas vezes encontrando desculpas para vê-lo. Era um sentimento mais forte que eu.

Obviamente, ele deveria estar acostumado com isso, pois todas achavam-no lindo demais. No dia onze de setembro de 2001, eu cheguei no trabalho e ele já estava lá. E disse-me, antes de qualquer coisa:

____ Caiu o World Trade Center. Uma das torres gêmeas em Nova York.

____ Caiu? Como assim?

____ Um  Avião bateu em uma torre.

Fomos ver na televisão o que havia acontecido. Enquanto assistíamos o avião bater na torre, veio outra imagem de um avião dando a volta por trás da torre e chocando-se com ela. Achei que fosse uma imagem da primeira torre em reprise. Mas, não era. Era um segundo avião se chocando com a segunda torre. Ficamos chocados. Não poderia ser um acidente. Dois aviões? Não poderia ser. Mais tarde, foi anunciado que havia sido um atentado terrorista e que outros aviões foram tomados à força e se encaminhavam para a capital, Washington. O mundo parou.

As imagens eram horríveis. Pessoas correndo na rua desesperadas, atravessando a linda ponte do Brooklyn e sendo socorridas do outro lado de Manhatan, no Brooklyn. Ficamos perplexos. E mudos.

Em casa, a situação era às vezes boa; porém, às vezes, tornava-se bem difícil. Eu tinha uma ótima empregada cuidando do Giuseppe. Ficava tranquila com ela. Ele era um fofo com dois anos. Muito esperto. Aprendeu a falar com um ano. E, quando ouvia uma palavra nova, pronunciava-a baixinho, sem som, até sabê-la falar direito para pronunciá-la audivelmente.

Enquanto ele ia crescendo, nós chegamos à conclusão que teríamos que construir uma casa própria, pois morávamos no mesmo pátio que minha sogra. O Davi era sócio do irmão dele na loja de materiais de construção, que eu havia ajudado a comprar, quando ganhei uma ação trabalhista na Justiça. Nós precisávamos aproveitar que podíamos comprar os materiais a preço de custo e construir um lar.

Encontramos um terreno maravilhoso para comprar, de seiscentos e sessenta metros quadrados de área. Havia uma casa velha de madeira que iríamos arrancar. Chegamos para olhar o terreno e o Davi disse:

____ Não vamos poder comprar esse terreno. Vamos procurar outro mais barato.

Comecei a chorar e a dizer:

____ Em todos esses dez anos que estamos juntos, o que nós construímos em nosso nome? Nós não temos nada. Apenas um carro. Gostaria de ter pelo menos uma casa onde morar. E se sua mãe resolver vender a casa dela, teremos onde morar. 

Sem contar que o irmão mais velho do Davi também havia construído lá na minha sogra. Eram três casas no mesmo terreno. E havia a minha cunhada, que era um a cobra em forma de gente. Nós já havíamos brigado e ficava muito difícil conviver com ela. Era, na realidade, uma barraqueira. Coisa que eu detestava.

Depois de me vir chorando, o Davi falou:

____ Não fique assim. Vamos dar um jeito. Vendemos o carro para pagar o terreno.

____ Concordo. Nem que fiquemos à pé, daremos um jeito. ____ Depois dessa decisão, fiquei mais contente.

Ele entrou em contato com o proprietário, vendemos o carro e com mais um tanto de dinheiro, fechamos o negócio do terreno. Naquela época, em que o dinheiro valia muito mais, o terreno foi comprado por dezesseis mil reais. A região era excelente. Bairro residencial próximo ao centro da cidade. Uma região da cidade tão valorizada que, em dezoito anos, passou a valer seiscentos mil reais o mesmo terreno.

Levou um ano para construirmos a casa. Eu sonhava todos os dias com ela ficando pronta. Compramos outro carro financiado e eu ia trabalhar com ele. Passava todos os dias na ida para o trabalho na rua que circundava a casa, para ficar sonhando. Enfim, teria um lar para chamar de meu.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora