Capítulo Oito

529 112 40
                                    


Meu estágio havia acabado, mas eu e o  Tomé demos um jeito para nos  encontrarmos. Seus beijos eram maravilhoso e eu me  apaixonei por ele. Acredito que ele também. E ele compreendia porque eu tinha que me esconder.

Eu não estava trabalhando lá, mas não saía do Centro Cultural, pois o teatro ficava no mesmo prédio e o Tomé era ator e sua companhia fazia bonecos de marionetes de papel machê. Eram lindos. Faziam apresentações nas escolas e no teatro municipal.

Em janeiro, fiz outro vestibular e passei para cursar Administração. De manhã eu fazia Letras e à noite, Administração.

Em fevereiro, véspera de carnaval, a secretaria de cultura me convidou para desfilar na avenida com trajes típicos dos gaúchos, os pioneiros da cidade. Uma homenagem aos que a fundaram.

O primeiro dia foi uma festa. Desfilei como par de um rapaz da Secretaria de Cultura. O Tomé estava assistindo. Meus pais também estavam na platéia.

Quando o desfile terminou, fui procurá-lo. Estava louca por um beijo e com saudade. Eu o encontrei rapidinho, ele enlaçou minha cintura, eu o abracei pelo pescoço e nos beijamos.

Mas, infelizmente, meu pai apareceu. Tinha ido me procurar. Quando ele viu a cena, gritou comigo:

____ Isadora, quem é esse cara? Por que você está se agarrando com ele? ____ gritou comigo.

____ P-ai. Esse é o Tomé. Meu namorado. ____ falei já gaguejando de medo.

Tomé o cumprimentou e ele disse:

____ Não se aproxime da minha filha. ____ e foi embora. Eu o segui quietinha, morrendo de medo.

Quando chegamos perto da minha mãe, ele contou o ocorrido, como se eu estivesse transando na rua. Estava chocado. Minha mãe ficou furiosa e me descascou num sermão. E eu falei:

____ Mas, foi somente um beijo.

____ Mas, o que você queria que fosse a mais? ____ falou ela, irada.
____ O beijo é o primeiro passo. Onde você acha que iria parar?

____ Em lugar nenhum. Foi só um beijo. ____ não adiantava eu me explicar. Eles estavam irredutíveis.

____ Amanhã, você devolverá essa roupa e não vai mais desfilar. ____ asseverou meu pai.

Eu fiquei quieta, pois qualquer argumento seria em vão. Chegamos em casa. Fui para o meu quarto. Minha mãe foi atrás. Ela pegou a escova de cabelo e bateu inúmeras vezes na minha cabeça. Apesar da dor, eu não tive reação.

No outro dia, não conseguia pentear o cabelo, devido aos galos que se formaram na minha cabeça. À tarde, meu pai mandou meu irmão junto comigo para eu devolver a roupa. E começou a zombar de mim, dizendo que eu era o "colar" do Tomé.

Quando chegamos ao Centro Cultural, falei para o meu irmão sentar no hall e me esperar, enquanto eu devolvia a roupa e fui para a secretaria me explicar. O Tomé me encontrou, nós nos escondemos em uma sala e ficamos trocando beijos apaixonados. A paixão, naquele momento, era maior que o medo.

Depois desse episódio, eu comecei a procurar emprego.

Arrumei emprego numa agência de turismo, mas o pessoal das companhias de teatro me disseram que haveria um curso de teatro na cidade. Seria ministrado pelos melhores professores de teatro do país. Ainda descobri que o Tomé iria participar do curso. Não tive dúvidas. Deixei o emprego e fui fazer o curso. Eu me inscrevi através de um grupo de teatro amador que meu primo de segundo grau participava. Nós éramos muito amigos e ele também trabalhava no Centro Cultural, fazendo o som e luz das peças teatrais.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora