Capítulo Seis

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                                                1985

Um novo ano, esperanças renovadas. Terceiro ano do segundo grau. Já pensando em vestibular.

Surpresa ao chegar no primeiro dia de aula: o Rudi estava na minha turma. Nem acreditei. Aquele rapaz dos olhos cor turquesa, que eu tinha visto no final do ano anterior. Foi amor à primeira vista. Agora precisava investir e conquistá-lo, foi o que pensei.

Estava, além disso, frequentando o terceiro ano do curso de inglês no Fisk. Se tinha uma coisa que meu pai priorizava na família, era o estudo. Minha mãe continuava trabalhando fora, ganhando o nosso sustento.

Aproximadamente nessa época, meu pai começou a trabalhar com meu avô postiço na imobiliária dele. Foi a nossa sorte, pois quando fizeram um negócio grande, com a comissão do meu pai, ele conseguiu comprar nossa casa, que até ali era alugada.

Era uma casa simples, mas grande, com um terreno enorme. Com árvores frutíferas: abacate, bergamota, laranja e outras que meu pai plantava. Com esse investimento e trabalhando como corretor, meu pai se tornou mais brando.

Mas, um dia ele estava irado com alguma coisa e jogou uma xícara em mim. Sorte que eu consegui me desviar do golpe e o objeto foi parar na parede, espatifando-se.

No colégio, as coisas iam  super bem. Com uma boa dose de adrenalina, quando o Rudi foi sentar na segunda carteira atrás de mim. Fiquei muito contente. Meu coração palpitava. Minhas notas estavam lá em cima e eu dava cola para ele, pois o Rudi não conseguia estudar muito, porque trabalhava num banco. Ele ficava todo sem graça com a minha ajuda.

Certo dia,  a professora de Português que gostava muito de mim, implicou com ele.

____ Rudi, o senhor, como nunca faz as tarefas e fica conversando durante as aulas, vai levar uma advertência que será de conhecimento da diretora Clair.
Isadora, vá buscar o formulário de advertência na secretaria.

Imaginem o meu pânico. Eu já estava super constrangida por ele, pela maneira como ela o estava tratando em frente a toda a turma. Eu estava um caco e ela ainda me pede isso? Eu não podia falar não. Os professores tinham muita autoridade nessa época. Levantei e fui em direção à secretaria e, graças a Deus, não encontrei ninguém. Voltei para a sala aliviada.

____ Professora, não havia ninguém na secretaria.

____ Está bem. Depois eu resolvo isso. ____ e continuou zangada, chamando a atenção dele. Ele não falava uma palavra. Fiquei muito mal naquele dia.

No meio do ano, ele anunciou que estudaria à noite. Fiquei arrasada, pois embora ele me tratasse com muita delicadeza, não demonstrava  interesse romântico por mim; no entanto, eu não desistia. A esperança é a última que morre, como diz o ditado.

Ele realmente mudou para o turno da noite, eu fiquei muito triste e contei para minha tia Graça que gostava dele. Então ela resolveu me arrumar e me incentivou a procurar por ele no seu trabalho e conversar. Emprestou-me um vestido rosa e branco lindo, que caiu como uma luva.

Lá fui eu ao banco. Ele estava no balcão. Fiquei de ladinho, conversando com ele. Não sei como eu tive coragem, visto que eu ainda era tímida. Mas, a paixão confere bravura ao ser humano. Entretanto, não veio a coragem para falar que eu era apaixonada por ele,  mas é óbvio que ele percebeu.

Com o passar dos dias, eu descobri que ele tinha namorada firme. Fiquei decepcionada, mas aquela paixão não se extinguia, como um fogo que não tem mais combustível para queimar, mas persiste em queimar a brasa. Estava impregnada em mim.

O Rudi tinha um amigo bem achegado, que também estudava comigo, o Evandro. Eu me apeguei a ele. Estávamos sempre juntos. Fizemos uma boa amizade. Acho que ele pensava que eu gostava dele. Mas, era uma maneira de eu me sentir mais próxima do Rudi.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora