Capítulo Trinta e Seis

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Eu estava voando para casa com a esperança renovada. Desci no aeroporto internacional de Foz do Iguaçu e fui diretamente para um hotel, a fim de tomar café e esperar o Davi.

Para minha surpresa, ele chegou logo em seguida, desesperado, literalmente, de saudade. Não me deu chance de protestar. Mostrou toda sua ansiedade fazendo amor comigo, de forma angustiante de quem passou por um tortura na minha ausência.

E eu pensei, como diz a música do Phil Collins: "You'll be in my heart" ( Você estará no meu coração). Fiz esta promessa a mim mesma. Mas, restava saber se ele iria me aceitar, depois de saber o que aconteceu comigo nos Emirados. Eu precisava contar a ele. Não era justo esconder uma coisa tão importante e decisiva para o nosso relacionamento.

Depois desse idílio amoroso, ele me levou de volta para a nossa cidade. Ainda naquele dia, fomos a uma festinha de amigos. Dancei muito. Eu ainda estava acelerada.

No outro dia, tive que revelar o que aconteceu comigo. Contei toda a história desde o início até o fim. Foi difícil demais ver o rosto dele transfigurado pela dor. Ele insistiu para saber se eu havia transado com alguém, eu jurei que não fui até o fim. Mas, assim mesmo, ele ficou com dúvidas. Disse que não aguentava mais. Que iria embora e começou a fazer as malas, com uma dor profunda no olhar, no rosto e na postura do corpo, dilacerado pelo desespero.

Comecei a chorar copiosamente e disse:

____ Eu decidi ficar com você, porque, apesar de tudo, é você  quem eu amo. ____ falei desesperada, com voz chorosa.

____ Mas, eu não tenho mais emocional, para suportar suas loucuras. ____ Falou novamente, transtornado.

Eu saí para o terraço, a fim de chorar desesperadamente. Agora que eu tinha decidido ficar com ele de verdade, ele desistia de mim. Enquanto eu chorava e orava pedindo misericórdia, ele apareceu e me abraçou. Resolvera não ir embora, mas antes disse que havia transado com uma mulher colega dele, que fizeram o curso juntos, na capital. Fiquei deseperada. Foi a minha vez de ficar angustiada. Chorei demais e abracei-o; pedi para que ficasse comigo. Eu não suportava a  ideia de perdê-lo.

____ Você transou com alguém, enquanto esteve fora também? ____ Perguntou resoluto, com voz firme.

____ Eu já disse que não. Por que não acredita em mim? ____ Respondi, chorando desesperadamente.

____ Eu também não. Não transei com ninguém. ____ Confessou, aliviado.

Mais aliviada fiquei eu, que chorei de alegria.

____ Por que disse aquilo para mim? ____ perguntei, desconfiada.

____ Para descobrir se realmente você não tinha ido até o fim. Se você acreditasse que eu fiz isso, você, com raiva, confessaria. Como isso não aconteceu, eu acredito em você. Mas, eu quero que você acabe com todas as suas redes sociais e pare completamente de entrar em contato com esse povo. ____ Exigiu de maneira firme, sem chance para abertura. ____ Se quiser ficar comigo.

____ Eu prometo. Vou me desligar de tudo. ____ falei aliviada.

Fiz o que prometi, junto com ele, para que ele tivesse certeza que tudo teria um fim.

Esse capítulo passou e estávamos nos esforçando para nos entender, mas ele estava muito triste ainda.

Eu me encontrava de licença do meu trabalho até então e, enquanto estive viajando, eu havia emagrecido e estava com um corpo bem definido.

Por fim, tive que ir à perícia médica novamente,  por que minha licença durava apenas três meses. Fui avaliada por uma equipe médica, composta por três médicos. Eles foram categóricos que meu médico não estava me diagnosticando corretamente. Fizeram um laudo para enviar a ele, instruindo que mudasse a medicação e que diagnosticasse como tendo TB, Transtorno Bipolar grave, inclusive com uma tentativa de suicídio no passado.

Levei o laudo para o médico que me assistia. Este mudou minha medicação para o Depacote. Em um mês de tratamento com esse medicamento, eu aumentei quinze quilos de massa gorda. Não era inchaço. A massa corporal foi do tamanho M para o GG.

O meu estado de saúde não era nada bom. Eu vivia deitada, devido às fortes tonturas que eu sentia e a depressão era severa. Ficou claro que eu não melhorara em nada. Voltei para a perícia com os três médicos. Precisei que meu marido fosse junto, pois eu não tinha condições de viajar sozinha para a capital do estado, onde seria realizada minha avaliação com os mesmos psiquiatras.

Ao ser submetida à avaliação dos três, chegaram à conclusão que eu deveria trocar de médico urgentemente. Dois deles indicaram um colega que morava na cidade vizinha à minha. A quarenta quilômetros. Poderia ir lá tranquilamente.

E foi o que fiz. Marquei consulta com o doutor Charles e, no dia da consulta, levei o laudo da perícia. A consulta era de uma hora. Eu resumi tudo o que eu podia, a respeito do meu histórico. Ele aceitou o diagnóstico dos colegas e começou a me tratar com lítio, além de um antidepressivo. Pediu para me ver mensalmente, até eu estar equilibrada.

Contei a ele que havia ido para Dubai, a fim de casar-me com um sheik e ele disse que esses surtos acontecem  num quadro severo de bipolaridade, como era o meu caso. A pessoa se torna muito rápida, acelerada, não consegue dormir e tem uma energia fora do comum, além de ficar hipersexualizada, ou seja, mais sensual. Sentido-se poderosa e que nada é impossível para ela.

Nesse ínterim, o médico conversou com o Davi, explicou sobre a doença e também sobre a compulsão por compras e o desejo de realizar grandes coisas.

O Davi, não contente ainda com a explicação, passou um e-mail ao médico solicitando explicacões para o meu comportamento durante a viagem e que ele não conseguia aceitar. Que isso o enfurecia e muitas vezes me tratava mal por isso.

O doutor Charles, muito ponderado, questionou com ele se ele havia casado comigo e prometido viver comigo na saúde e na doença. Que ele teria que entender que eu havia passado por um surto grave e delírio de grandeza, sintomas terríveis que faziam parte da doença.

O próprio médico me contou sobre essa conversa e eu guardei segredo, pois ele não escondia nada de mim. E eu o respeitava por isso.

Ocorre que o lítio, um poderoso regulador do transtorno, fazia muito mal. Ficava enjoada o tempo todo e engordei mais com este medicamento.

Voltei ao doutor Charles e ele suspendeu imediatamente a medicação. Receitou a Risperidona, em lugar do lítio.

Depois de alguns meses, comecei a ficar mais equilibrada. Fui à perícia novamente e deram-me alta com restrição de horário. Eu trabalharia durante quatro horas por dia. Retornei. Havia muito preconceito contra mim. Mas o Davi foi lá na semana que eu iria reiniciar o trabalho e deu uma lição em todos do meu setor, dizendo que eu não estava em condições de ser maltratada, que deveriam respeitar meus limites, conforme orientação médica. Foi muito duro com eles. Ficaram todos assustados, inclusive o supervisor.

Meu retorno não foi fácil. Embora eu trabalhasse apenas quatro horas por dia, eu me sentia mal ainda, com muita tontura. E sentia uma certa discriminação por parte deles.

Mas perseverei, até que não aguentei mais, devido ao mal estar que sentia todos os dias. Fui à perícia novamente e me afastaram.

Precisava de mais tempo para me recuperar bem. Em compensação, o Davi e eu estávamos melhorando em nosso relacionamento. E isso era um fator positivo para melhorar minha saúde.

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Queridas leitoras,

Estamos na reta final do livro. Espero que estejam gostando. Por favor, deixem seus comentários. Amo saber o que estão pensando.

Beijão. Até breve.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora