Capítulo Doze

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Unchained Melody teve um significado muito especial nessa fase da minha vida. Por isso, ela embala esse capítulo.

Às segundas-feiras, a última aula, lá pelas vinte e duas horas, era com a turma do Davi, o primeiro ano.

Naquela noite, nós descemos juntos do colégio de cima da avenida até o ensino regular, mais abaixo na avenida. Ficamos pelo menos uma hora conversando em frente ao colégio. Somente aí, combinamos as aulas que seriam na minha casa, pela manhã, pois eu ministrava as aulas no colégio à tarde e à noite.

Nessa conversa, descobri que ele tinha apenas dezenove anos. Era um filho de uma ninhada de quatro marmanjos. Que os pais eram separados.  E ele não parava de falar. Estava empolgado. A partir dessa conversa, comecei a desconfiar que as intenções dele não eram somente as aulas, mas fiquei na minha.

Na mesma semana, ele começou a ir lá em casa, para que eu  ensinasse a matéria para o concurso. Meu pai, de imediato,  não gostou dele. Chamava-o de miliquinho. E começou a implicar por ele ir lá em casa. Então, combinamos de estudar no próprio colégio, nos dias que eu não tivesse aulas. Usávamos uma das salas vazias, para esse fim.

Ocorreu naturalmente. Sem percebermos, estávamos sempre juntos, pois ele também começou a acompanhar-me no caminho para me levar até perto de casa. Ficava no oposto da cidade onde ele morava, mas ia mesmo assim.

Aos poucos, ele foi se fazendo presente na minha vida. Nem estávamos nos apercebendo disso, mas ele me levava todas as noites para casa. Não ficava mais no barzinho com os amigos.

Isso foi, aos pouquinhos, tocando meu coração. E também, naturalmente, começamos a trocar uns beijinhos suaves enquanto parávamos em alguma rua para conversarmos.

Naquela tarde de verão, eu estava dando aulas, na turma do terceiro ano regular. No entanto, em certo momento, fomos interrompidos pelo Davi, que foi me levar um presente. Ele cochichou para mim, que era um ursinho de pelúcia, mas a turma pediu para eu abrir o presente e era um cachorrinho de pelúcia, com umas orelhas enormes. Achei muito engraçado ele  trocar os nomes dos bichinhos e toda a turma se divertiu com a situação.

Começamos a namorar em fevereiro de 1991. Descíamos do colégio e ficávamos no calçadão. Não poderia levá-lo em casa, por que meu pai não aceitaria a presença dele e muito menos aceitaria que eu estivesse namorando. Aquele ciúme doentio dele ainda não tinha dado trégua. Não tinha conseguido apresentar nenhum candidato a namorado para eles e eles estavam confortáveis com isso. Só não queriam se incomodar.

E o mais incrível é que todos eram contra eu namorar: ele, minha mãe e meus irmãos. Quando minha mãe percebeu que eu estava demorando a chegar do colégio, à noite, ela começou a me perseguir. Ia atrás de mim pelas ruas para saber onde eu estava. Mexia nas minhas coisas para achar um indício de quem seria a pessoa que eu estaria namorando. Lembrava um cão perdigueiro, farejando tudo.

Depois de aproximadamente um mês que estávamos namorando, ele me deu um cartão, escrito: "Acho que ... te amo. Davi" Fiquei muito feliz. Dei também um cartão pra ele dizendo como eu me sentia.

Não tinha sido amor à primeira vista, mas eu estava me apaixonando. Isso era certo. E ele me confessou mais tarde que tinha se apaixonado por mim, desde que me vira subir ao palco do colégio para me apresentar. Nossos três anos de diferença de idade,  sendo ele mais jovem, não afetava nosso relacionamento, exceto que eu não poderia esperar muita madureza da parte dele.

Aquele cartãozinho que recebi dele deu o que falar. Minha mãe o encontrou e foi investigar nos livros de chamada quem era esse   Davi. Mas, ela encontrou outro Davi e começou a tentar descobrir quem ele era, sem falar comigo. Estava desvairada.

Aí, ela saiu com essa:

____ Esse cara é um banana, senão ele viria conversar conosco.

Nessa época havia uma música que lembrava muito minha mãe. Acho que quem foi das décadas de oitenta e noventa vai lembrar.

IsadoraOnde histórias criam vida. Descubra agora