XXXI

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     Depois de comerem, Dian mais uma vez tornou a encarar Labella.

---Sabe de uma coisa? --ela disse ele moveu a cabeça negando --Se você bobear vou arrancar sua máscara com um soco.

     Ele inclinou a cabeça para analisá-la.

---Se sente à vontade a ponto de me ameaçar assim?

---Olha, --ela respirou fundo --a última coisa que estou me sentindo é a vontade. Mas não é culpa minha se você me dá essa liberdade. Além disso, o que eu disse é verdade, então se eu fosse você, tomava cuidado.

     Três. Sinceridade. As cortinas estão quase se abrindo. O show está prestes a começar e a plateia, ah! Ela não podia ser melhor. 

---Oh, querida! --seu tom era dramático-- Se tivessem nos apresentado antes, talvez tudo isso não fosse necessário, mas escolheram o jeito mais difícil, não é nossa culpa. É culpa do monstro, é tudo culpa dele.

---Monstro? --estava confusa.

---Sim, amor. Monstro.

---Quem é ele?

     Batidas repetidas na porta.

---Merda! --sua voz sombria voltou em sussurros, ele foi até a pia e tirou um revólver de algum lugar debaixo dela --Fica aí. --apontou para ela.

     Foi até a porta e olhou pelo olho mágico, soltando uma gargalhada baixa em seguida.  Voltou até Labella.

---Faça-o ir embora, sem suspeitar de nada.

     Ele se posicionou atrás da porta e fez sinal para que ela a abrisse. Uma enorme mistura de sensações tomou o interior dela ao ver um policial.

---Está tudo bem, Senhorita...?

---Diana. --Labella e sua mania.

     Dian sorriu.

---Bom, Diana, passo sempre por essa estrada e durante essa semana em que não o fiz, encontrei uma casa e uma moradora. Por isso pergunto.

---Está tudo bem sim.

---Você mora aqui sozinha?

---Não, moro com meu marido, foi ele quem mandou construir a casa.

     O coração de Dian disparou. Em uma semana usou de todas suas forças para erguer aquele lugar, sem quase nunca dormir. E Labella, ela funcionava como uma carga elétrica que dava choque e mandava energia à cada átomo de seu corpo.

---Não vejo aliança em seu dedo. --soltou desconfiado.

     Labella leu em em sua farda,  Soldado João. Ela arqueou a sobrancelha.

---Soldado João, creio que não faz parte da sua profissão xeretar a forma de relacionamento alheia, mas em respeito à sua farda, vou explicar. Tenho um problema de excesso de iodo na pele, o que faz com que qualquer metal e o local do meu corpo onde ele ficar por muito tempo oxidem. Guardei para não estragar. Mais alguma dúvida?

---Sim. Onde está seu marido?

---Trabalhando.

---Posso saber onde?

---Desculpa, soldado, mas tenho mais o que fazer.

     O policial ainda suspeitava.

---Não sei se você sabe, mas início de gravidez é difícil. --ela passou a mão na barriga. Dian já mordia os lábios, sentiu-os sangrar, sentiu sua alma em chamas imaginando como seria se tudo o que Labella disse fosse verdade --Estou muito enjoada e ainda tenho que arrumar a casa, então, volto a perguntar, precisa de mais alguma coisa?

     Enfim parecia convencido, mas Labella não queria apenas convencê-lo, queria que o policial pensasse que ela caiu em sua armadilha, que ela não desconfiava de seus planos. Pobre deles.

---Não, só... tome cuidado. Essa região é bastante isolada. Tenha uma boa tarde.

---Obrigada, igualmente.

     Soldado João deu as costas e seus olhos seguiram para o carro,  quando ia questionar, Labella se prontificou.

---Temos uma moto.

     Ele assentiu e seguiu pela estrada que formava uma curva, curva essa onde o plano da polícia deslizou: segundo o soldado, sempre que passava pela estrada podia ver o lugar onde estava a casa, o que não era possível pois a porteira do lugar estava uns bons metros após a curva, antes de adentrar o terreno e virar a curva era impossível de se ver a casa.

     Ela fechou a porta e Dian estava encostado na parede imóvel, imóvel demais para uma pessoa normal. Mas ele não é o que se possa chamar de normal.  Ela se aproximou.

---Hey, você está bem?

     Ele inclinou a cabeça assentindo.

---Eu só estava... --tocou o rosto de Labella-- Só estava imaginando nós dois casados e esperando um filho. --fez uma pausa e ela engoliu a saliva que juntou em sua boca --Mas eu nunca te deixaria sozinha, nem ao meu filho.

     A respiração de Labella tornou-se acelerada e pesada,  seu coração desandou em batidas fortes.

---Acho que não daria para fazer nenhuma das duas coisas com essa máscara.

---Sei que não, amor. Mas falta muito pouco para você conseguir tirá-la.

     A tentação de descobrir tudo sobre ele já havia dominado Labella e sem ela sequer notar, já havia decidido ir até o fim com tudo aquilo.

--Você ouviu que o policial disse? Eles sabem que estamos aqui. O que vamos fazer?

     Ela não viu mas os olhos dele brilharam intensamente ao vê-la incluí-lo em algo, ao perceber que estavam juntos, e só eles, em algo. Talvez Dian seja quem tem a menor nação dos resultados de seus planos mirabolantes. Sua corrida para ter Labella o tornou insensível até a seus próprios ferimentos.

---Sim, eles sabem. O que sugere? --ele queria ver aquela mente estrategista agir novamente depois de tanto tempo.

---Melhor eu não fazer isso. --o medo de voltar a ser o que era antes tomou seu coração fazendo seu olhar morrer.

     Dian a abraçou ela não o evitou.

---Amor, sua inteligência faz parte de você e não deles; é uma de suas tantas e incríveis qualidades! Eles são apenas uma porcaria de guerra que você destruiu.

     Labella respirou fundo, queria seguir com todo o seu plano de fuga, mas mais uma vez, a tentação falou mais alto, mais uma vez sentiu suas veias descontroladas, mais uma vez voltaria aos confins de sua existência: traçar planos para enganar, sem falhas, sem surpresas. Prendeu o ar e seus pensamentos simplesmente montaram um plano. Simples assim. Quando ela sabia que estava fazendo algo que não era certo, as ideias brotavam com fartura. Ela havia sido treinada para isso. 

---Já sei o que vamos fazer.

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Mooores, demorei 80 séculos mas postei. Eu não estou me sentindo bem ultimamente, por isso a demora. Mas muito obrigada, chuchus, por estarem acompanhando. Vocês são demais! Que Deus ilumine vocês!

Ou, leiam os livros delas, são muito bons! ❤

AnabelKira

Trish_m_

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora