Psicopata: Desespero

LII

Enquanto observava o quadro na parede, me lembrava de quando Labella, anos atrás, havia o pintado e me dado de presente, segundo ela, por eu ser o melhor de todos. Porém, eu não sei o que isso significa, a única coisa que sei é que isso é um elogio vindo da única pessoa que eu amo.

Aquela pintura representava a vez em que Labella havia ficado de castigo pela primeira vez, quando ela contou sobre isso, eu imediatamente me identifiquei. Segundo ela, o pânico tomou conta dela quando se deu conta de que passaria dois dias e duas noites presa ali, no escuro e sem água ou comida. Chorou como a criança de apenas 6 anos que era, até que algo começou a formigar em seu peito. Sentiu que ele queimava, mas não era ruim. Aquela chama a deu o que precisava para escapar dali, então, enganar o guarda gritando que havia um escorpião ali para que ele entrasse e ela pudesse roubar a sua chave, foi um plano que fluiu facilmente, até porque, a pequena Labella já tinha uma aguçada capacidade de observação que a permitiu perceber que a porta não precisava de chave para ser trancada, o que significava que o guarda demoraria para perceber que a mesma havia sido tirada do seu bolso. Enquanto mantenho-me focado nos detalhes do quadro, posso reviver todas as lembranças da primeira vez que conseguiu escapar do inferno. A sensação foi mesma que a descrita por Labella.

A questão é que desde o princípio, conseguimos nos ver um no outro. Vimos que nossas feridas e escuridões sempre se assemelharam. Mas então, depois de tudo, ela volta a estar encarcerada e eu a amo mais do que nunca. Sinto que poderia arrancar meu próprio coração e dar a ela de presente e ainda sim continuaria vivo, porque é ela o meu verdadeiro coração e consequentemente, minha verdadeira fonte de vida. Eu sei que ela está lá porque quer e porque está em ação em mais um de seus planos incríveis. Oh! Alguém estará muito fodido ao final de tudo isso e o melhor de tudo, é que ela estará comigo enquanto assistiremos aos créditos logo que as cortinas se fechassem.

Levou o copo de whisky aos lábios. A bebida ardeu em sua garganta como o fogo ardia no Inferno que estava dentro de si. A inteligência de Labella sempre foi algo estupidamente sexy para ele. Só faltavam algumas horas para que aqueles dois idiotas voltassem para o Hospital e o cerco da polícia fosse fechado. Logo, logo o pior dos demônios seria eliminado. Sua mente voltou a vagar pelo momento em que recebeu o quadro.

Tínhamos os dois 18 anos. Ela chegou por trás de mim e eu só percebi quando ela próxima à minha orelha sussurrou:

--- Está esperando por alguém?

Minha pele nunca havia se arrepiado daquela forma, nem o meu coração ficado tão disparado e embora eu saiba que a sua intenção foi apenas me assustar, eu adoraria que ela sentisse o mesmo. Juntos arderíamos mais que o próprio sol.

--- Talvez.

Ela riu nasalmente.

­­--- Bom, de qualquer forma eu te trouxe algo, porque você é o melhor de todos. -- meu coração saltou do peito quando ela disse isso -- Eu vou descrever e você se vire para descobrir o que é. Se você não descobrir, não ganha.

--- Tudo bem. Comece.

--- Bom, -- ela colocou um sorriso travesso e misterioso no rosto -- é como se ela estivesse presa com suas lindas unhas azul escuro acizentado.

--- O quê?

Ela me olhou e eu já esperava sua expressão de impaciência.

--- Tem moldura e é para dependurar em alguma parede ou na casa do caralho.

--- Entendi. Um quadro.

--- Sim!

Peguei-o e notoei o quanto ela lutou para que aquilo desse certo.

--- Obrigado, mas eu realmente não mereço isto.

--- Isso sou eu quem decido Dian. Para mim você é o melhor de todos.

Lembrar disso sempre fez com que lágrimas escapassem dos seus olhos. Ele preciso dela. Mas tudo bem, espero que ela se saia bem como sempre, porque eu vou estar lá fazendo o possível para que isso aconteça e acabemos com a palhaçada daqueles filhos da puta, aqueles desgraçados já ferraram com gente demais, inclusive com nós dois. E então depois disso talvez ela me aceite e me queira tanto quanto eu a amo e a desejo. Ah, Labella... se você soubesse o quanto eu preciso que esteja comigo.

Nosso plano já está mais do que pronto, não vamos errar. E só para nos deixar com um gostinho, todos os estúpidos estão caindo em nossa rede feito idiotas. Espero muito que o show esteja agradável aos espectadores, todas as marionetes já estão em seus lugares exibindo em seu rostos os seus melhores sorrisos iludidos que vão se desmanchar graciosamente quando perceberem que no final das contas eles não sabem de porra nenhuma

Estou cuidando de tudo de perto, enquanto alguns ingênuos esperam que eu apareça com uma máscara tampando o meu rosto. Ah, meus caros, a melhor das máscaras é aquela que nós mesmos criamos e a cravamos em nossa própria face, máscara essa que quando bem colocada, nunca cai e permanece ali, te deixando no controle de tudo e sempre a centenas de passos de distância de seus oponentes.