XXXIX

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     O dia amanheceu e novamente  eu percebi que passei a noite em claro. Onde você está, Labella? Droga! A polícia pediu para que eu aguardasse notícias, Fred me pediu que te protegesse, mas eu sou inútil demais para isso. E a Milan? Eu simplesmente não estou dando conta de tudo. Merda, talvez se eu tacasse fogo nesse lugar eu resolveria meus problemas, pelo menos a parte que rege essa cafeteria, mas também, se eu fizesse isso, decepcionaria meu irmão e destruiria todo o seu esforço. Fui para o trabalho, morto de cansaço.

--- Bom dia! -- o primeiro cliente do dia.

--- Bom dia, o que deseja?

--- Dois cafés e três sonhos.

--- Para levar ou para comer aqui?

--- Para levar.

     O celular do homem tocou.

--- "Alô?... Oi, mãe! Bom dia, como a senhora está?... Também estou bem... Não, ainda não encontrei um emprego, e estou preocupado com isso... Okay, entendo. Obrigada mãe, beijo!"

     Tá que oportunidades não caem do céu, mas preciso de ajuda.

--- Desculpa ouvir sua conversa, mas se bem entendi, você está precisando de um emprego, certo?

     Ele me olhou um pouco confuso.

--- Se fosse só um emprego era mais fácil, mas também preciso de um lugar para morar e me estabilizar aqui. Bem, acho que preciso resolver toda a minha vida.

--- Preciso de um garçom e tem uma casa vazia logo aqui do lado. O que acha?

--- Acho ótimo! Mas não tenho como pagar o aluguel agora.

     De fato, não tinha pensado em aluguel, mas até que não é má ideia.

--- Posso descontar de seu salário.

--- Fechado! Posso ver a casa?

--- No momento não, logo isso aqui vai encher, preciso atender.

--- Então eu ajudo, o que acha?

--- Certo!

     De fato, ele deve estar desesperado por um emprego, sequer se preocupou em saber meu nome e eu também, sequer perguntei o dele.

--- Eu sou Arian. -- estendi a mão e após um tempo confuso ele a apertou.

--- Eu sou Dayan Vale.

     Avaliei o seu trabalho e fiquei satisfeito, embora precise de algumas instruções, vai ser um bom funcionário. Na hora do almoço, levei-o para conhecer a casa, tentei ao máximo esquecer que ali era a casa do meu irmão, mas foi quase impossível esquecer disso.

--- Mora alguém aqui?

--- Morava. Era a casa do meu irmão, mas não se preocupe, vou tirar as coisas pessoais dele daqui, o resto, móveis e eletrodomésticos, você pode usar. Só peço que mantenha-os conservados, não deixam de ser dele.

--- Tudo bem. E quando posso me mudar?

--- Quando achar melhor.

--- Certo. Quando acabar o expediente, vou à pensão que estou e pego minhas coisas. Obrigado, cara.

--- Disponha. Apenas faça por merecer.

     Ele assentiu e só então percebi o quanto minha expressão estava fechada. De volta à Milan, o trabalho continuou tranquilo, Dayan sempre me procurava quando tinha dúvidas e se mostrou bem comunicativo, espero muito que permaneça assim, não estou nem um pouco afim de tolerar qualquer tipo de incompetência.

******

     Como é fácil colocar o inimigo ao seu lado, não é mesmo? Pobre Arian. Pobre Victor. Pobre de todos eles, principalmente dos irmãos Oliveira, que estão no hospital, entubados no CTI, entre a vida e a morte. Ah! E boa parte de tudo foi obra do acaso, afinal, quem poderia imaginar que tudo isso poderia acontecer?

     Sangrino dormiu no sofá, fazia tanto tempo que não dormia de verdade que o sofá lhe pareceu o paraíso. O sono foi pesado. Ao acordar, sentiu o cheiro de café e encontrou Labella na cozinha.

--- Hey, moça, está se sentindo melhor?

--- Sim. -- ela se virou e sorriu.

     Aquele sorriso foi como um soco no estômago de Victor, despertando todas as borboletas que ali estavam adormecidas e de fato, eram muitas delas.

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Capítulo pequeno e estranho, mas foi proposital.

Deixa eu falar com vocês, li um livro muito bom, sabe, aquele mistério que prende a atenção e te surpreende com o final? Pois bem, assim é O Cuidador de Órfãos. Leiam, viu? O autor, , vai ficar muito feliz de tê-los por lá. Vamos incentivar os colegas!

    

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora