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     Labella. Bella, para quase todos. Uma jovem de 21 anos, completamente fora dos padrões.
Estudante de Artes, órfã ou quase isso.
     Se mudou aos 19 anos para o Braviou's, um prédio na área residencial de Logóva, cidade grande mas com poucas pessoas amigáveis. A universidade em que estuda, Grand Sophia, tinha em sua maioria alunos de famílias ricas, enquanto poucas vagas eram destinadas a bolsistas.
     Labella não tinha a melhor das condições financeiras e também não era o que se pode chamar de aluna aplicada. Ela fez a prova para conseguir a bolsa no chute, e conseguiu. Talvez ou não, sorte.
     Agora, Labella está na sala de aula, avoada, mas pelo menos está lá.

---Labella Jazin? --chamou o professor.

     Labella nada respondeu, na verdade, nem ao menos ouviu.

---Labella Jazin! Retire-se!

     Ao despertar de seus pensamentos, a moça apenas se levantou e saiu. Para falar a verdade ela nem ligava. Ser expulsa já era rotina. Ela então, se dirigiu à Milan, a lanchonete do seu único e melhor amigo, Fred. Ao chegar, encontrou o rapaz servindo aos clientes.

---Oi, Fred! Quer ajuda?

---Claro!

     Labella ajudou Fred até as 23:00, quando a Milan fecha.

---Obrigado, Bella. Te devo uma.

---Deve nada, é para isso que servem os amigos.

---Bem, já é tarde. Quer carona? --Fred perguntou.

     Labella aceitou. Quando chegaram ao Braviou's, Fred pediu:

---Posso subir com você?

     A jovem estranhou o pedido.

---Pode sim. Quer ir ao banheiro?

---Nossa. Super discreta você. --ele respondeu rindo-- Mas não, preciso conversar com você.

---Tudo bem então.

     Subiram até o apartamento de Labella. Quatro cômodos e uma varanda. Ela o ofereceu algo para beber. Os dois se sentaram no sofá e Fred enfim disse:

---Bella, você já conseguiu um emprego?

---Bom, no momento isso está meio difícil de conseguir.

---Principalmente quando não se corre atrás, não é?

---Não é que eu não procure. --suspirou-- Lembra que eu recebo uma pensão de uma tia? Mas por que você quer saber?

---É que eu queria saber se você aceita a vaga de garçonete. Afinal, é perfeito para você: pode começar depois que a sua aula acabar, durante a manhã o movimento é menor, dou conta. Além do mais, prefiro você a qualquer outra pessoa. E aí, o que me diz?

---Eu aceito!

     Fred jantou com Labella e foi embora. Naquele ar havia cheiro de algo mais, muitas coisas mais.

*********
     No outro dia, Labella foi, como de costume, para a faculdade, e depois para o seu novo emprego. Fred a esperava ansioso. Ansioso até demais, parecia uma criança prestes a subir numa montanha-russa. O dia foi cansativo, muitos clientes e ao fim do expediente, às onze horas da noite, Labella se sentou ao lado de Fred que havia acabado de fechar a Milan.

---E então, como foi o seu primeiro dia de trabalho? --Fred perguntou.

---Queria dizer outra coisa, mas o único adjetivo que consigo encontrar é 'cansativo'. E além do mais, você foi muito mandão. --respondeu Labella rindo.

---Como? Mandão? Cuidado senhorita, sou seu chefe. --Fred soltou fingindo estar bravo mas sem conseguir conter o riso.

---Desculpa, chefe. Não está mais aqui quem falou. --a moça riu.

     Depois de um pequeno momento de silêncio, Fred perguntou:

---Quer jantar comigo?

---Claro! Aqui?

---Algum problema?

---Não, até porque vou comer bem e de graça. Não tinha como ser melhor. E aí, o que você vai fazer para o jantar? --perguntou empolgada.

---Nada. Tem uma lasanha no forno.

     Labella sorriu. Ela se perguntava como era possível existir uma pessoa como Fred.
     Enquanto comiam, conversaram sobre o trabalho, cachorro, infância; enfim, tudo que veio na cabeça. E novamente, Fred levou Labella para casa e entre sorrisos e abraços se despediram, mas alguém não gostou de vê-los chegar juntos de novo. O hábito dos dois era a tortura de alguém. E esse alguém planejava algo grande, e a sua maior vantagem era a sua quase inexistência. Todos se esqueceram dele. Erro grave.

     Um sorriso macabro brotou no rosto daquele ser.

~~~✴~~~

     Após ser deixada por Fred em seu apartamento, Labella foi direto para o banho. Ela foi então, se olhar no espelho, o que não pôde fazer durante todo o dia. E foi por ele, o espelho, que ela viu. Ela viu bem atrás dela, um desenho esculpido cuidadosamente no azulejo branco daquele banheiro. Era um coração.

---Você sempre esteve aí? --perguntou curiosa-- Não gosto de corações, são delicados e vulneráveis demais. Todos esses anos morando aqui e não notei que havia algo tão tosco no meu banheiro... Como posso ser tão distraída?

     Ele ouvia tudo, ali, bem atrás da porta. E sorriu, sorriu ao perceber que ela se parecia com ele. Foi um coração feito de coração, e ela partiu o dele que há tanto tempo estava adormecido. Ele adorou a sensação. Seu nível de masoquismo o fazia louco, e de todas as dores, o amor é para ele, a mais rara, a melhor de todas.
     Ele mordeu o lábio inferior para conter-se, mas o que sentia era tamanho, que sua carne sem rasgou, e agora, tinha a boca embebida em sangue, para ele, o melhor sabor.
     Labella saiu do banho e se dirigiu ao quarto. Não parou um instante de pensar naquele coração esquisito. Se vestiu e retornou ao banheiro para buscar uma escova de cabelo, e como era mais fácil, ficou por ali mesmo.

---O que é isso? --soltou intrigada.

     Pelo espelho, novamente, ela viu uma imagem no mínimo assustadora. Ao lado do coração perfeitamente esculpido estava escrito com sangue "Perdoa-me".

---Devo estar ficando louca! Acho melhor tirar uma foto para mostrar para o Fred.

---Desgraçado! --ele sussurrou no seu esconderijo.

     Labella foi ao quarto buscar o celular, porém quando voltou não havia nada além do delicado e inocente coração.

---Okay. O cansaço está me fazendo mal. --disse confusa.

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Oie! Os próximos capítulos vão começar a animar....

Até lá!

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora