XVIII

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morceguinhoS2 e AnabelKira

---Kira? --Doby chamou ao bater na porta da casa de sua irmã de forma insistente.

     Pouco tempo depois ela abriu a porta, sem a menor empolgação, fitando os olhos do Doby ansioso à sua frente.

---Entra. --disse seca-- Você me acordou, agora aguenta meu humor.

     Doby simplesmente ignorou-a e entrou, observando as três garrafas de vinho na mesa, todas vazias, e a caixa de pizza do mesmo modo.

---Fala.

---Então, --ele procura as palavras certas-- você estava certa, 80% de probabilidade de Victor estar realmente apaixonado pela tal Labella.

     Kira olhou-o incrédula.

---E você veio aqui, me acordou, para me dizer isso? Deixa de rodeios. Eu te conheço desde antes de você nascer. Desembucha.

     Estavam sentados no sofá da sala, um em cada ponta, como sempre fizeram. Sempre ficando um espaço vago entre eles que ainda perdura. Kira sabia muito bem porque irmão estava ali e ela odiava o motivo.

---É hoje, não é? --soltou um sopro rápido.

---Sim. --ela respirou fundo-- E eu continuo sem conseguir me conformar.

---Vamos sair? Ir à uma lanchonete? Sei lá! --ele sugeriu jeito.

     Ela assentiu. Sabia muito bem que se ficasse ali sozinha, provavelmente iria secar a sua adega que com muito custo foi montada. E ela tinha que trabalhar no próximo dia, sábado, e aproveitar o feriado com seu irmão é uma das poucas coisas que a tiram de suas lembranças. Apenas se trocou e saíram. No carro, enquanto procuravam um estabelecimento aberto naquela manhã, o silêncio não durou.

---Como vão as investigações? --Doby perguntou.

     Kira respirou fundo.

---Na mesma. Seja quem for o assassino, ele sabe muito bem que está fazendo. Mas eu tenho quase certeza que não foi a moça, Labella. Tudo que aconteceu antes, desde a música e a carta que ela citou depoimento que prestou a Victor, não são meras bobagens.

---Ela pode muito bem ter inventado. --Doby soltou.

----Com provas tão concretas e testemunhas, Doby? Creio que não. Gostaria de ter assistido ao interrogatório, mas não pude, estava na cena do crime. Apenas Luma assistiu, não há como duvidar de um psicólogo, principalmente quando sua melhor área de análise é a comportamental.

---É, realmente. Dela não podemos duvidar. E você tem razão, muita coisa não bate. Ela trabalha como garçonete e faz faculdade de Artes, pouco provável que teria conhecimentos são aprofundadas em Química. Me surpreendi com os compostos usados. São de fabricação caseira, mas uma substância ainda é incógnita, ela pode multiplicar vezes sem o efeito da substância normal. Mesmo sintetizando não consegui identificar. Ela não deixa sequer um resíduo, entende? Não é uma pessoa qualquer.

---Sim. E os seus vizinhos a caracterizaram como tranquila,  generosa e adjetivos deste tipo. Nunca apresentou comportamento estranho ou agressivo, e sabe o que é pior? Não havia nenhum objeto no apartamento do suposto vizinho. Então, de onde vinha a música o prédio inteiro pôde ouvir, mesmo que não tão alto, e os moradores dos apartamentos que ficam acima e abaixo do apartamento "desocupado" --fez aspas com as mãos-- relataram ter ouvido em volume mais alto. Ou seja, era lá.

---Será que não foi o morador de rua? A vítima?

---Doby, onde um morador de rua conseguiria um rádio com potência suficiente para perturbar o prédio inteiro? E por quê? Alguém bem mais perigoso está por trás de tudo isso e pressinto muita dor de cabeça por vir. --soltou um suspiro pesado e Doby estacionou o carro.

---Droga! --soltou Doby-- Victor estava certo e eu o desafiei, vou ter que aguentar a crise de convencimento dele.

     Kira abriu a porta do carro e gargalhou, esquecendo por um instante o motivo de estar ali. Ela fitou o estabelecimento à sua frente, "Arquitetura interessante." pensou. Eles entraram e se sentaram, como sempre, o mais distante possível das pessoas. A garçonete logo alcançou-os.

---Bem-vindos à Milan, fiquem à vontade. --ela sorriu e entregou os cardápios-- Quando escolherem, levantem a mão e eu virei atendê-los. Com licença.

     Os irmãos a encaravam de forma indiscreta. Então se entre olharam.

---De onde a conhecemos? --Kirá indagou.

     Doby pensou por um instante.

---Por mais que eu tente não consigo lembrar. Já vim aqui outra vez e tive a mesma impressão. Tenho total certeza que agi como um louco, mas o pior foi que ela respondeu à altura. Não consigo tirar ela da cabeça desde esse dia. Kira, não sei o que está acontecendo comigo.

---Ninguém é normal em Logóva.  Já sabe o que vai pedir?

---O mesmo que você.

     Doby sentiu a falta de sensibilidade da sua irmã, mas o que ele estava sentindo não era comum. Nunca se sentiu assim. E sabia que provavelmente agiria como ela. Marca registrada dos irmãos Oliveira.

---Chato! --Kira resmungou.

---Nós dois.

     Kira levantou a mão e a garçonete veio.

---Pois não?

---Bom, toda parte de café da manhã em dose dupla.

     A moça olhou sem conseguir controlar o olhar e a voz carregando-os com o seu habitual deboche.

---Algo mais? --perguntou levantando a sobrancelha.

---Bom, já que você perguntou --Doby disse calmo, estranhamente calmo-- o seu nome, senhorita. Qual o seu nome?

     Ela olhou-o nos olhos e reconheceu aquele olhar desafiador, não conseguindo novamente evitar devolver igual. Ela abriu a boca para responder novamente Ariana, mas ele não lhe despertava essa vontade. Apenas olhou demoradamente aqueles olhos que de alguma forma chamaram sua atenção de um jeito fora do normal. Ela Estalou a língua e respondeu:

---Labella. Labella Jazin. E o de vocês?

     Um momento de silêncio dominou o local e foi interrompido de forma abrupta.

---Kira e Doby Oliveira, chefes do departamento de investigação e perícia da polícia de Logóva. --respondeu uma voz atrás de Labella, que não pôde evitar de admirar a cara de espanto daquele de ilustres clientes.

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Então tá.

Mordidas 😏

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora