XLII

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**No final desse capítulo se encontra um resumão com os principais acontecimentos do livro, caso alguém precise relembrar.

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Hospital Psiquiátrico Grand Sophia

     A ideia da Doutora Mey de incentivar os internos a escreverem uma história funcionou mais que bem. Mas talvez ela tenha exagerado no estímulo, se esqueceu por um instante de que se tratavam dos pacientes mais graves daquele lugar e de toda a Logóva por algum motivo. Se esqueceu de que se eles estavam na ala 0133, era porque apresentavam risco real à sociedade e à si próprios, mas ela subestimou-os.

Dois dias antes...

--- Doutora, devo lhe alertar de que esses são os pacientes em situação mais severa. -- Iara, a enfermeira mais antiga do HPGS disse em tom de alerta.

--- Não se preocupe, eu tenho experiência. Já são trinta anos lidando com eles. Não sou nenhuma amadora. -- sua pose de superioridade logo irritou Iara, ela sabia que aquilo tinha grandes chances de dar errado.

--- Pois bem, você quem sabe. Aqui está, -- entregou uma prancheta -- esses são seus pacientes.

     Vestida com seu jaleco branco e sua pose de "comigo ninguém pode", Mey escancarou a porta da sala de terapias alternativas, dando de cara com dois guardas e seis pacientes, todos vestidos com uniformes em um tom de amarelo morto, que os deixava com aparência de anêmicos. Adentrou o lugar pisando com força, fazendo seus saltos estalarem contra o chão. Observou os dois guardas ainda na mesma posição e de forma silenciosa ficou grata por eles estarem ali. Em um giro, observou toda a sala, nenhuma janela, havia um velho ar condicionado e apenas sete cadeiras de plástico brancas, assim como as paredes.

--- Bem, -- endireitou ainda mais a postura -- sou a Doutora Mey.

     Da mesma forma desinteressada que a olharam quando entrou na sala, permaneceram.

--- Preciso saber quem é quem. Levantem a mão quando eu disser o nome de vocês. Anabel, Alan, Lucas, Tadeu, Maria e Labella. -- percebendo que todos atenderam, ainda que de forma pouco interessada, considerou aquele um bom começo.

     Ela se sentou numa cadeira junto deles e cruzou as pernas pousando as mãos no colo observando novamente as expressões de seus pacientes, mas pouco havia mudado.

--- Bem, hoje vamos fazer uma experiência de liberdade. -- dessa vez a expressão de alguns deles se modificou para surpresa -- Espero que não estejam esperando um passeio de unicórnio fora do hospital porque isso não vai de nenhuma forma acontecer, sei que vocês tem noção de que são um perigo.

     Uma risada sarcástica soou em alto e bom som pela sala, o olhos de Mey, assim como os dos pacientes, se voltaram para a garota com olheiras e cabelos bagunçados, a médica ponderou e resolveu apenas ignorar o incidente.

--- Como eu dizia, a experiência é a seguinte: quero que escrevam uma história que representaria ou como gostariam que fosse a vida de vocês se estivessem livres. Espero que sejam sinceros.

     Observando a reação das seis pessoas à sua frente, percebeu que todas eram diferentes. Enquanto Lucas demonstrava falta de vontade, Tadeu tinha um olhar de curiosidade. Alan parecia analisar o que foi dito. Maria aparentava estar confusa e Anabel mantinha um leve ar de satisfeita. Mas o que intrigou Mey foi Labella. Ela com suas olheiras e cabelos bagunçados parecia realmente ser a pior dali e isso aliado à seu olhar sarcástico que fitava o chão, sorriso debochado, sobrancelha arqueada e braços cruzados, fez com que um arrepio fizesse a grande Doutora duvidar por um instante de toda a sua experiência com doentes mentais. Mas sua segurança retornou ao se lembrar de que já havia lidado com situações piores, muito piores.

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora