Psicopata: Desespero

XLVI

Quando o Detetive Zaky Johan atravessou os portões do Hospital Psiquiátrico Grand Sophia, logo avistou o sorriso doce e sincero de Mey que lhe esperava. Eles haviam se conhecido por volta de três décadas atrás, na faculdade, e chegaram a começar um romance que terminou em uma boa amizade que durava até então, e embora não conseguissem se falar com frequência, tinham entre si uma confiança fortemente consolidada e um profissionalismo ímpar, o que fez com que Johan fosse escolhido para trabalhar com a Doutora Mey nesse caso.

--- Doutora Mey Daren. -- cumprimentou-a após sair do seu carro sorrindo.

--- Detetive Zaky Johan. -- ela respondeu o recebendo com um abraço e ele pôde notar a preocupação que não estava muito bem escondida atrás do seu sorriso.

Zaky olhou para ela da maneira mais confiante que pôde e ela assentiu levando-o para a sala do Sr Brandão que ficou visivelmente incomodado com a sua presença.

--- Sr Brandão, bom dia. -- adentraram a sala e o homem com o copo de licor olhou-os de forma questionadora -- Vim lhe apresentar meu ajudante, Zaky Johan. Ele é de minha total confiança e meus superiores já aprovaram sua estadia aqui.

Eles se cumprimentaram apenas com um aceno de cabeça e Mey se despediu indo almoçar com Zaky e logo depois se direcionou aos seus pacientes. Então era esse o plano: o Detetive se passando por ajudante da Doutora a iria ajudar a descobrir o que estava por trás de tudo.

--- Boa tarde! -- cumprimentou Mey assim que adentrou a sala de terapias alternativas, encontrando seus pacientes com o grosso caderno que lhes foi dado para escrever a história em cima do colo -- Esse é Zaky Johan, meu ajudante que estará presente em todos os nossos encontros a partir de hoje.

--- Boa tarde. -- Zaky cumprimentou-os se sentando ao lado de Mey, a maioria dos pacientes olhavam-o curiosos enquanto Labella apenas ignorava tudo que se passava ao seu redor.

--- Bem, vejo que vocês estão com seus escritos e eu já irei recolhê-los. Mas antes, gostaria de saber por vocês como foi a experiência de passar 24 horas sem seus remédios? -- ela havia passado no dia anterior e pela manhã para observá-los e notou que eles ficaram muito mais lúcidos e ativos sem os remédios, mas não ficaram agressivos -- Começando por você, Anabel. Dormiu bem?

--- Bem eu... -- ela ponderou um pouco antes de falar -- Eu me senti melhor e consegui dormir. Mas então comecei a sentir umas coisas estranhas, meu corpo meio que pedia pelos remédios, eu não sei explicar bem.

Ela se calou e fixou o olhar em suas próprias mãos.

--- Não se preocupe, isso é normal, já faz anos que você toma os remédios e todos são bem fortes, o seu organismo se acostumou. E com vocês -- dirigiu o olhar para Lucas, Maria, Alan e Tadeu -- aconteceu o mesmo? -- todos assentiram -- Alguém sentiu mais alguma coisa?

--- Eu. -- Maria falou baixo -- Não tive tantas alucinações e me lembrei de algumas coisas da minha vida antes daqui que pareciam ter se apagado de alguma forma.

--- Comigo aconteceu o mesmo. -- Lucas disse -- Lembrei de coisas importantes. Coisas que...

Ele parou um pouco e engoliu em seco, sendo incentivado a continuar por Mey.

--- Que... -- ela incitou-o

Ele respirou fundo.

--- Coisas que poderiam provar que não sou louco e que sou inocente. -- ele estava visivelmente agitado, nervoso, suas mãos suavam -- Então eu escrevi, não sei se foi o certo, mas ao invés de escrever a história que você pediu eu escrevi o que lembrei, porque sei que logo que voltar o efeito do remédio eu vou esquecer novamente. Não sei se você vai acreditar em mim, mas eu tinha que tentar.

Ele se levantou com cautela e entregou o caderno olhando nos olhos da psiquiatra com toda a esperança que tinha e ela aceitou sem qualquer receio.

--- Não se preocupe, lerei atentamente. -- ela disse e ele apenas assentiu -- Mais alguém teve a mesma ideia?

Tadeu e Maria levantaram as mãos.

--- Eu não iria falar sobre isso, mas já que não fui só eu... -- Tadeu disse.

Ele se levantou e entregou o caderno para a Doutora, seguido por Maria.

--- Alan, Anabel? E vocês, escreveram algo, recobrar amanhã alguma memória ou algo do gênero?

Eles apenas negaram e entregaram os cadernos em branco sem dizer nada. Certo, aqueles dois iriam precisar de uma observação mais profunda e detalhada. Ah, e Labella? Bem, Labella ficou o tempo todo alheia ao que acontecia, apertando com força o caderno em suas mãos, volta e meia sorria sadicamente, outras vezes parecia confusa e deprimida e nada disso passou despercebido aos olhos da Psiquiatra ou do Detetive.

--- Então, Labella, mesmo eu não tendo suspendido nenhum medicamento, sentiu alguma mudança, algo diferente nesses últimos dois dias? -- a Doutora questionou e foi completamente ignorada, o que a fez pigarrear em busca de atenção, mas sem sucesso -- Vejo que trouxe o caderno, escreveu algo?

Percebendo que não seria respondida, Mey se levantou, foi até ela e parou em sua frente, fazendo com que finalmente Labella a olhasse.

--- Vou pegar, okay? -- apontou para o caderno no colo da moça e pegou o de forma calma, não houve resistência.

A Doutora olhou-a por um instante e virou-se para voltar a se sentar. Quando deu dois passos, aquela voz sádica ecoou pela sala.

--- Eu vou te matar, Doutora Mey Daren. Você sabe disso não sabe? -- sua voz saiu amarga e sarcástica enquanto seus lábios eram preenchidos por um sorriso debochado.

Não era como se em seus trinta anos de carreira e com todos os seus diplomas e experiência Mey nunca tivesse passado por algo assim. Labella não era a primeira paciente perigosa que a ameaça e nem seria a última.

--- Certo, e por qual motivo? -- a mulher de postura reta questionou calma e já sentada em sua cadeira, de onde pôde observar o olhar intrigado e levemente assustado de Zaky.

Labella soltou uma gargalhada sombria, seu olhar era diabólico. E ela disse:

--- Eu nunca precisei de motivos para matar.