XXVI

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---Senhor Sangrino?

     A voz me era desinteressante.

---Senhor Sangrino?

     Abri os olhos e me deparei com um médico que me olhava com uma cara de tédio, e fazia anotações em sua prancheta.

---Por que estou aqui?

---Facadas. Sete delas. Pancada na cabeça. Há cerca de uma semana.

     As lembranças retornaram. Naquele dia, ao retornar do enterro, fui para a delegacia e deixei minha moto no estacionamento, como sempre. À noite, quando fui buscá-la, fui apunhalado pelas costas, nem sequer senti que alguém se aproximava: estava perdido, pensando em Labella. Dei-me conta do que acontecia quando senti minhas costas serem rasgadas. Não senti as sete facadas, senti apenas minha pele se abrir e logo após fui derrubado com um chute, caí de cara no chão. E então ouvi uma voz dizer "Pedras devem ser tiradas do caminho, principalmente as que se intrometem no meu. Labella é minha, infeliz!", de forma sombria e raivosa, mas controlada. Victor não viu o rosto do homem, mas já tinha ouvido aquela voz antes. Foi golpeado na cabeça e apagou.

--Quando terei alta?

---Não em menos de duas semanas. Seus pulmões foram  atingidos em cheio. --o médico respondeu.

---Não interessa. Sairei daqui hoje. Tenho que investigar o que aconteceu com o Lab... com os vários casos que devem estar pendentes.

     O médico respirou fundo.

---Você pode até levantar, mas no estado em que se encontram seus pulmões, esse simples ato traria dor e um cansaço imenso. Além disso, poderia estourar os pontos e culminar uma hemorragia interna que se não causar sua morte imediata por perda de sangue, causará uma infecção generalizada. Mas sem pressão, fica a seu critério.

     Victor ficou furioso, mas sabia que o médico tinha razão. Mas Labella, ele precisava saber dela o quanto antes e sua intuição já avisava que seu estado de inutilidade traria problemas. O médico saiu do quarto e logo após uma enfermeira veio trocar os curativos, ele pediu que ela trouxesse seu celular e um carregador.

---Alô, Kira? É o Delegado Sangrino. Como está tudo?

---Delegado, como está? --a voz de Kira tinha naturalmente um toque de ironia.

---Estou esfaqueado. Como anda o caso de Labella Jazin? --sua impaciência estava explícita e Kira ajudou com um momento de silêncio.

---Sem evoluções, Delegado.

---A quem ela prestou depoimento?

---Depoimento?

---Sim, Kira. Um dia após o enterro ela deveria ter comparecido à delegacia para prestar depoimento. Droga! Esqueci de avisar. Bom, ela não deve ter me encontrado e ido embora.

     Kira estava confusa.

---Não, Victor. Labella não apareceu na delegacia durante essa semana em que você ficou no hospital.

     O coração do grande Victor Sangrino disparou de forma violenta.

---Kira, entre em contato com ela imediatamente e se for preciso, desloque uma viatura até o prédio dela. Quero notícias em cinco minutos.

---Te ligo em cinco minutos. --Kira disparou.

---Ligar? Não, Kira. Quero você aqui em cinco minutos.

***

     Colocou todo o departamento atrás da Jazin, sem sucesso. Não atendeu o celular e não tinham notícias dela na Milan. A viatura mais próxima se deslocou até o apartamento.

---Doby? --o táxi era rápido e a ligação não estava tão boa quanto esperava-- O corpo de Labella Jazin está na autópsia?

---O que? É claro que não! 

---Bom, menos mal. Victor acordou e me pediu para colocar o mundo atrás dela. Pode ajudar?

---Bom, eu não sou o mundo, mas posso tentar.

---O meu você é sim.

     Os irmãos Oliveira silenciaram-se. Não era comum momentos como aquele acontecerem. Sempre foram o apoio um do outro.

---Okay, vou fazer o possível.

---Tudo bem, obrigada.

---Kira?

---Diga.

---Você também é o meu mundo.

***

---Victor? --Kira bate na porta.

---Entre Kira.

     Entrei e contemplei seu estado deplorável e pálido, além do rosto com hematomas.

---E então? --Victor estava mais que ansioso.

---Não conseguimos contato com ela, nem a localização. Os agentes da viatura ficaram de mandar notícias o mais rápido possível.

     Victor baixou a cabeça como nunca o vi fazer.

---Sabe, espero estar errado. --olhou para mim-- Mas suspeito que ele esteja com ela.

---Ele? --de fato, estava confuso demais.

---Kira, quem me atacou no estacionamento, só o fez porque queria a Labella.

---Como?

---Ele disse que eu era uma pedra em seu caminho que deveria ser eliminada.

     Meu celular tocou, coloquei no viva-voz.

---Detetive Oliveira? Aqui é o Cabo Simon. Infelizmente não temos notícias boas. Aparentemente Labella saiu do apartamento bem cedo e foi vista pela última vez na Grand Sophia. Vamos ver as imagens das câmeras de segurança, para ver se descobrimos algo.

---Cabo Simon, aqui é Victor Sangrino, o Delegado responsável pelo caso. Quero que todas as unidades se concentrem em fazer uma busca por toda a cidade. Coloquem três policiais à paisana próximos ao prédio em que Labella mora. Quero notícias o mais rápido possível e me atualize a cada três minutos.

     Respirei fundo. Isso está além de um simples interesse. Se Labella conseguiu fazer Victor Sangrino mobilizar todas as unidades para encontrá-la, o que mais ela consegue fazer?


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Capítulo pequeno, mas logo a bagaceira vai começar a pegar fogo meu povoooo.

Desculpa, me empolguei. Mas obrigada por estarem lendo, votando e comentando. Vocês são demais!




Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora