XXXVIII

2.5K 281 103
                                    

No final das contas, a vida prefere sempre não se importar com o que você quer, até porque, não é você quem a rege. Tudo gira em torno de um eixo implícito, porém não indiferente à tudo.

A contragosto, Victor interrompeu seus planos, Doby e Kira eram indispensáveis para que tudo desse certo. O dia amanheceu e lá estava ele se empenhando o máximo que podia para descobrir algo, mais tarde, Pietra retornou à delegacia e pôs-se a ajudá-lo, sem muito sucesso. O estado dos irmãos Oliveira era grave, e Victor pouco se importava com eles, tudo o que conseguia pensar era em como encontraria Labella. Além disso, Sangrino se culpava: ele devia ter imaginado que tudo isso aconteceria, afinal, ele sabia o que poderia acontecer, senão, por quê diabos merecia o título de delegado? A dor que sentia em suas costas se tornava cada vez mais forte e irritante, mas droga! Se ele voltasse para o hospital, quem ficaria responsável pela delegacia? Ele estava pálido, não comia desde que soube do desaparecimento de Labella, já passava das tantas xícaras de café extra-amargo e tudo parecia ser inútil. O dia seguiu assim, o tempo passou rápido demais, ele não queria cogitar a ideia de Labella estar morta, mas sua mente fazia questão de lembrá-lo dessa hipótese. Sangrino sem perceber, estava chorando. Foi quando, lá por volta da meia-noite, houve um escarcéu e uma Labella adentrou sua sala em estado deplorável, suja, de roupas rasgadas e descabelada; chorando.

--- Labella! -- ele, pela primeira vez, não ficou estático, abraçou-a.

Atriz. Boa atriz, amigos. Ela começou a tentar explicar o que havia acontecido, mas seu choro digno de Óscar não deixava. Intencional.

--- Shhh... Se acalme, agora está tudo bem. -- mas ele também chorava, e a compostura já havia deixado de ser um problema, até porque, nem mesmo importava.

Hipocrisia seria dizer que ela não se sentiu mal, principalmente depois que viu suas mãos manchadas de sangue.

--- O que houve com você? -- ela perguntou.

--- Bem, acredito que o mesmo alucinado que te levou me deu umas facadas no estacionamento.

--- Me deixe cuidar disso.

--- Na verdade os médicos tentaram, mas meio que fugi do hospital para procurar alguém.

O delegado não tinha mais o rosto empedrado, parecia ter sentimentos e se deixou receber os cuidados de Labella. Não questionou ou reagiu quando ela lavou as mãos e tirou sua camisa e usou um kit de socorros, encontrados em um lugar que ele nem se preocupou em saber qual era, para limpar os ferimentos e fazer novos curativos. Se concentrou nas sensações que trazia receber os cuidados dela. Estava de olhos fechados, procurando não perder sequer nenhum detalhe do que acontecia.

--- Victor, eu perguntei se você não tem outra camisa por aqui.

--- Na verdade tenho. No armário atrás de você tem uma bolsa, tem roupas dentro dela.

Ela pegou a camisa e ajudou-o a vestir.

--- E você, também não acha que precisa de cuidados? -- se aproximou preocupado.

--- Preciso. -- ela olhou para os arranhões em seus braços -- Mas isso não é nada, nem sequer dói. O que dói é meus pés, devem estar horríveis.

--- Vou te levar a um hospital, vem. -- puxou-a pela mão e entraram em uma viatura.

Não, não foi Victor quem dirigiu, foi um policial. No hospital, Victor usou sua influência de delegado para conseguir acompanhar toda a consulta, inclusive, viu quando o médico cuidou de seus pés, cheio de calos, ferimentos e inchados. Ao final de tudo, foi levada para casa.

--- Nossa, eu tenho casa! -- ela riu sem humor.

Se sentou no sofá e Victor fez o mesmo.

--- Bem, desculpe pressionar, mas você consegue me contar um pouco do que aconteceu? -- sua voz soava terna, cuidadosa.

Psicopata: DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora