Psicopata: Desespero

XLVIII

Surpresa? Não, não. Mey ficou em choque por um breve momento após terminar de ler o escrito de Labella e sem que percebesse esvaíram-se horas. Já era quase meia noite e ela ainda estava no HPGS, um receio tomou seu peito enquanto ela absorvia a caminhada que faria até sua cabana àquela hora. Via guardas e eles pareciam atentos, mas em nada isso diminuía a agonia e o medo que se fizeram presentes. A Doutora havia ficado levemente transtornada com o que leu, ela tinha certeza de que Labella era uma paciente perigosa, mas, se tudo o que ela escreveu era baseado em algum tipo de fato, quem é Heary Jazin? Seria ele o responsável por tudo que acontecia nas sombras do Hospital Psiquiátrico Grand Sophia? Será que a venda de ectasy seria uma metáfora para o que realmente acontecia? Quem eram Victor Sangrino e Sr. Maconi? Dian Jazin? Sua mente fervilhava sem conseguir juntar as informações. Suas mãos suavam enquanto uma leve taquicardia as fazia tremer. Eram informações em forma de enigmas, e Mey conseguia sentir que ao desvendar a história escrita por Labella, desvendaria também a paciente mais perigosa daquele lugar. E sentia com ainda mais força que ao conseguir desvendar Labella, conseguiria desvendar os segredos do grande e caótico hospital.

Caminhou rumo à sua cabana, mas o caminho foi relativamente normal. Levava consigo o caderno e o segurava com tamanha força que ele se entortou de forma leve, marcando uma linha na capa e deixando algumas "orelhas de burro" pelas folhas. Logo que chegou na porta, uma mão tocou seu ombro a fazendo tomar um susto e se virar numa posição defensiva, mas seu corpo relaxou parcialmente ao perceber que era Zaky.

--- Quer me matar de susto, Zak?

--- Perdão, não foi essa a intenção. -- ele terminou de rodar a chave que Mey havia abandonado na fechadura ao se assustar -- Fico feliz por ouvir você me chamando pelo meu apelido da nossa época de faculdade.

--- Foi involuntário. -- ela respondeu entrando na cabana e então Zaky pode perceber o quanto ela estava nervosa. Ele a seguiu e fechou a porta.

--- O que houve, querida? -- sua voz era preocupada.

--- Eu li o que Labella escreveu. -- respondeu sem titubear -- Encontrei a resposta para tudo, o único problema é que a minha tão querida paciente resolveu fazer tudo se tornar uma terrível incógnita.

--- Mey, se ela passou essas informações, mesmo que através de enigmas, significa que ela também deseja que tudo seja descoberto.

--- Concordo. Então, agora, preciso considerá-la nos papéis de vilã e de vítima. -- suspirou de forma pesada e caminhou rumo ao quarto sendo seguida sem questionamentos por Zaky que já estava a par das condições da cabana.

A porta foi fechada, assim como as janelas, afinal, existem olhos para ver em todo lugar. Mey se sentou na cama enquanto o agitado Detetive puxou uma cadeira e se sentou próximo a ela. Seu semblante era impaciente e ansioso.

--- Bom, acho que agora é a minha vez de contar o que descobri. -- a Doutora assentiu -- Certo, sem registros de Labella Jazin ou qualquer um dos pacientes ou funcionários do HPGS na delegacia da cidade, mas conversei com alguns moradores da cidade, como vendedores e senhoras que passam o dia inteiro na varanda observando a rua, segundo eles, Labella foi presa com 15 anos porque era um monstro porque ela assassinou mais de seis pessoas e permaneceu com os corpos em uma casa abandonada até que a polícia descobriu e a prendeu. Além disso, relataram que ela fez outras vítimas e teve cúmplices nesses crimes que foram encontrados em cenas com os corpos, as armas dos crimes e sob o efeito de drogas e todos foram presos. Mas eles negavam a participação mesmo com as provas dizendo o contrário e Labella confessando. Como eles haviam sido diagnosticados com doenças mentais e como os crimes haviam sido brutais e sórdidos, foram levados para a ala de segurança máxima do HPGS. Porém... -- fez uma pausa apenas para observar a feição atenciosa de Mey -- Porém descobri na delegacia que durante o período ao qual questionei, o sistema da polícia estava em "pane" e houve um apagão que deu um curto circuito em toda a rede elétrica da cidade, fazendo com que todos os aparelhos eletrônicos queimassem, a cidade ficasse por um tempo isolada do mundo e obrigando os policiais a fazerem anotações à mão. E como se não bastasse tanta coincidência, a delegacia pegou fogo e todos os arquivos que estavam em papel foram queimados.

--- Que porra aconteceu aqui?! -- Mey soltou exasperada.

-- Eu não sei. Mas acho que juntando o que o povo sabe e o que Labella e os demais pacientes escreveu, vamos conseguir descobrir.

A Doutora se levantou de forma repentina, seu rosto assumiu a face confiante que ela sempre assumia quando ligava pontos importantes.

--- Anabel e Alan. Eles me trarão as respostas que eu preciso. Contaram uma história similar na consulta individual, mas que se identificava com as dos demais. Além disso, não é coincidência que apenas e específicamente os dois não tenham escrito nada. Eles fazem parte de tudo isso, Zak, eles sabem o que está acontecendo aqui. E antes de tudo isso, meu querido companheiro, vamos dar uma passadinha na sala da Enfermeira Iara, na sala do Sr Brandão e no quarto dos dois. Vamos descobrir quem são eles.

Um sorriso orgulhoso surgiu nos lábios do Detetive Zaky Johan, aquilo tudo seria tão excitante quanto os primeiros casos que resolveu junto de sua amada Mey Daren. Se havia um espetáculo de horrores ali, os monstros deveriam se apressar se quisessem escapar, porque estavam sendo encurralados pelos dois melhores caçadores de coisas horrendas e eles não são acostumados a deixar algo para trás ou perder. Mas pobre deles, não são os únicos com tais costumes e a fraqueza de Mey e Zaky mora exatamente em um pequeno fato de suma importância: eles não jogam de forma suja e sádica contra os adversários que eles sequer fazem ideia de quem são.