Capítulo IX

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**Susy

Observei Beatriz sumir de vista arrastando Thales para longe dali. Me virei e encarei o licantropo (esse era o nome que dávamos à humanos que podiam se transformar em lobos), que ousou acabar com minha festa:

- Agora somos nós dois!

Assim que terminei de falar, ouvi passos correndo apressados. Logo percebi que eram Carlos e Miguel que acabavam de chegar e pararam ao meu lado.

- Viemos te ajudar, gatinha. - Sorriu Carlos de lado.

- Já não era sem tempo... Por onde andaram? - Perguntei.

De repente a voz estrondosa e forte do licantropo nos interrompeu. A fera estava enfurecida:

- Eu ainda estou aqui, seus vermes insolentes! Como ousam ignorar minha presença? - Rosnava indignado.

- Esses olhos... - Cochichou Carlos. - Tem alguma coisa errada!

- Também reparei. - Concordei. - Os olhos dos licantropos normalmente não ficam dessa cor... Nem brilham assim.

- Vocês podem sussurrar o quanto quiserem, mesmo assim ainda posso ouví-los. - Interrompeu a criatura.

- Ha me desculpe. Tinha me esquecido disso. - Ri sarcástica. - Como pôde deixar eu me esquecer disso, amorzinho? - Perguntei me voltando a Carlos fazendo voz infantil.

O licantropo já no limite de sua ira, avançou sobre mim. Porém, em uma fração de segundos, Miguel o golpeou com um dos braços o lançando para longe.

- Ninguém machuca meus amigos... - Disse Miguel arregaçando as mangas do casaco.

- Você não devia ter feito isso, meu jovem! - Gritou o lobo pulando sobre Miguel tentando abocanhar sua cabeça enquanto o outro resistia aos avanços segurando o pescoço do animal.

Olhei incrédula para Carlos e perguntei:

- Tá esperando o quê?! Vai ajudá-lo!

Som de ossos se quebrando começaram a se espalhar no ar... Carlos se curvou para a frente e seus caninos começaram a crescer. Suas roupas foram se rasgando como se fossem feitas de papel. Já de joelhos no chão, pêlos começaram a crescer por todo seu corpo em ritmo acelerado... Logo, meu namorado já estava parecido com a fera.

Carlos, em sua forma animal, soltou um uivo e automaticamente se lançou sobre o outro.
Os dois iniciaram um combate feroz e sangrento.
Miguel se pôs de pé e correu até mim:

- Por que esse licantropo está aqui? Pensei que só Carlos tivesse permissão do Conselho Dos Clãs para ficar na cidade... - Perguntava todo confuso.

- Eu também não sei, Miguel. - Respondi. - Mas se quisermos respostas, teremos que imobilizá-lo primeiro.

Concluindo minha resposta, corri para ajudar Carlos na luta contra o lobo. Miguel veio logo atrás com ira estampada em seu rosto. Seus olhos ficaram totalmente negros, sua velocidade aumentou e suas presas vampirescas cresceram. Logo em seguida, foi minha vez:

- Isso é pela Lana! - Falei.

- Isso é pela Lana! - Falei

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***

Após um confronto intenso e sangrento, conseguimos imobilizar a fera. Miguel estava sentado sobre o dorso da criatura, enquanto Carlos já de volta a sua forma humana e totalmente nu, prendia o pescoço do licantropo em uma chave de braço.

Ajoelhei em frente ao mesmo e comecei:

- Agora eu quero respostas...

O outro só soltou uma gargalhada medonha, porém, a dor pelos ferimentos causados em batalha era perceptível em sua voz.

- Você não está em condições de recusar a responder nenhuma pergunta, seu idiota! - Gritou Carlos, apertando mais forte seu pescoço.

- O que você está fazendo aqui? - Perguntei calmamente olhando nos olhos do lobo. - Sabe muito bem que licantropos não têm permissão de entrar em WorldHidden. O Conselho Dos Clãs proibiu a décadas.

- Garotinha tola... Pensa que uma proibição qualquer pode me impedir de realizar meu objetivo? Está muito enganada... Isso é só o começo.

- Cala a boca! - Surgiu Rafael ferido e mancando atrás de mim.

- Ora, ora! Quem temos aqui... Achei que tinha fugido depois da surra que eu te dei. Eu teria vergonha de dar as caras depois daquilo. - Debochou o licantropo.

- Seu filho da pauta! - Avançou Rafael sobre ele o dando um soco na cara.

- Calma, Rafael! - Tentei aliviar seu ódio. - Não faça nada ainda. Primeiro precisamos de respostas.

- Que respostas?! Esse imbecil quebrou as regras e isso é tudo que precisamos saber!

- Não tá vendo nada de diferente nele? - Perguntei calmamente. - Você alguma vez já viu algum licantropo com os olhos assim?

Rafael estático, observava os olhos da criatura:

- Susy... - Começou ele. - Isso não é normal. Tem alguma coisa errada!

- Isso a gente já sabe, espertalhão! - Interrompeu Miguel. - O que a gente tá tentando descobrir é o quê causou isso.

- E então queridinho? - Dirigi-me à criatura. - Vai falar o que quer na cidade ou prefere que eu deixe meu amigo aqui acabar com você? - Ameacei dando três tapinhas no ombro de Rafael que estava ajoelhado ao meu lado.

- Pergunta errada... - Começou a criatura. - A pergunta correta seria: quem eu quero nessa cidadezinha podre e fétida dominada por sanguessugas como vocês.

Nesse momento, eu e os garotos nos entreolhamos. Não esperávamos que um licantropo pudesse vir atrás de alguém na cidade. Arriscar a pele para pegar alguém em WorldHidden era como pedir para o Conselho Dos Clãs exigir a cabeça numa bandeja.

- Quem você quer? E por quê? - Perguntou Rafael.

- Acho que você já sabe muito bem quem eu vim buscar, não se faça de idiota. - Soltou o licantropo.

Rafael arregalou os olhos incrédulo e fez expressão de confuso em seguida. Depois de segundos de silêncio ele continuou:

- Então é por isso que você estava de olho nele a noite toda! Mas por quê? O que você quer daquele garoto sem graça?

- Espera!!! - Gritei. As peças estavam começando a se encaixar na minha cabeça. E Rafael não era de chamar ninguém de sem graça, a não ser... - É do Thales que vocês estão falando?!

- Isso mesmo. - Confirmou o lobo.

- Mas o que ele tem haver com você? - Perguntei confusa. - Até onde sei, ele nem sequer imagina que existam criaturas como nós. Ou não imaginava né? Já que você fez o favor de causar essa confusão toda aqui hoje.

- Ele até então não sabia. - Explicou o licantropo. - Mas creio que a partir de hoje isso vai começar a mudar. E quanto ao que eu quero com ele, não é da conta de vocês. Os planos do meu mestre vai além do que possam imaginar... Adeus. Por enquanto...

Dizendo isso uma forte luz envolveu o licantropo, segundos depois um forte pulso de magia nos arremessou para longe. Senti minha nuca bater com muita força em algo, e antes de apagar totalmente, consegui ver o lobo se levantando com bastante dificuldade e fugindo bosque à dentro, desaparecendo na escuridão.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora