Capítulo XXVII

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***Rafael

Eu nunca sequer havia imaginado que minha vida e de meus amigos pudesse se tornar tão conturbada e perigosa.
Éramos, de certo modo, apenas jovens que só se preocupavam em levar nossas vidas tranquilamente. Só pensávamos em manter nossas verdadeiras identidades em segredo e nos divertir.
Mas então Thales apareceu... E junto com ele vieram novas descobertas, novos tipos de sentimentos... Perigos.

  Eu sempre fui do tipo de cara que pouco me preocupava com os outros. Mas ele, com o passar do tempo e com a convivência, foi mostrado que a nossa existência não era beseada em apenas "nossas vidas"... Era muito mais do que isso: envolvia amizade verdadeira e também sentimentos que pra mim, eram desconhecidos antes de conhecê-lo melhor.

Era agora início de tarde. Eu nem sequer havia feito minha refeição matinal, estava de pé próximo à grande janela da sala olhando o jardim. A neve continuava a cair intensamente lá fora, agora, aquele carpete branco e gelado já cobria tudo o que tocava.

Eu não conseguia parar de pensar no que Thales havia confessado pouco mais cedo no quarto. De certo modo, eu já até desconfiava dos reais sentimentos dele por Miguel.
Mas o que eu não conseguia entender, era o por quê de ouvir aquelas palavras saindo da boca dele me causaram um certo desconforto.

- Rafael... - Beatriz chegou sorrateiramente me chamando a atenção.

- O que você quer? - Perguntei seco sem olhar para ela. Mantive meu olhar fixo a nevasca lá fora.

- Eu quero me desculpar... Talvez eu tenha sido muito rude com você lá encima... - Ela agora estava mais perto.

- Já tô acostumado a ser mal tratado pelas pessoas. Não foi a primeira e nem será a última vez se eu bem te conheço, não é mesmo?

- Não seja tão vitimista! Isso não combina com você.

- Mas o Thales, está mais calmo? - Mudei de assunto enquanto descruzava os braços e enfiava as mãos nos bolsos da calça.

- Não sei se podemos dizer calmo... Ele realmente está muito arrasado. Nunca pensei que pudesse vê-lo tão triste assim um dia! - Respondeu ela enquanto se sentava no braço de uma poltrona próxima.

- O que vamos fazer agora, hein? Por mais que eu tente pensar em algo, não consigo ter nenhuma idéia. - Confessei em tom lamentoso.

- Tenho certeza que vamos pensar em um bom plano.

- O Thales tem toda a razão. Nós não vamos conseguir fazer isso sozinhos. O Conselho precisa nos ajudar. Isso não é um problema só nosso, envolve o mundo mágico inteiro! Eles precisam tomar alguma providência.

A nevasca densa agora dava uma trégua lá fora. Apenas alguns flocos pairavam espaços pelo ar, era como se estivessem dançando uma valsa embalados pelo vento.

- A feiticeira-mor havia me dito que eles estavam esperando o momento certo de agir, Rafael. Eu não entendi direito o que ela quis dizer com isso. Mas tudo que ela me pediu, foi que por hora tentássemos conter a situação.

- Ela lhe disse isso na última visita que você a fez no Conselho? - Perguntei agora a olhando e ela apenas assentiu. - Eu não aguento mais isso, Beatriz. Vou pedir ajuda a Gabriel! - Disparei.

Ela muito surpresa, só ergueu a cabeça me encarando de olhos arregalados. Parecia estar paralisada.
Vendo a sua reação eu apenas perguntei:

- O que foi?

- Você?! Pedir ajuda à Gabriel???!!! Vocês nunca se deram muito bem.

- Isso é verdade. - Concordei. - Mas ele é o líder do Clã Dos Vampiros, precisa ajudar quando um dos seus passa por dificuldades. E eu tenho certeza que ele sabe de tudo que está acontecendo. Com certeza todos os líderes de Clã já estão cientes.

- Nesse ponto você tem razão. - Concordou ela se levantando. - Então vamos avisar aos outros. Isso já é um ótimo plano inicial.

***

Chegamos ao quarto onde os outros estavam. Thales continuava abatido sentado na cama de Miguel, Susy estava ao seu lado segurando uma de suas mãos, Carlos estava de pé olhando através da janela.

- Rafael teve uma idéia. - Comunicou Beatriz.

- Somos todos ouvidos. - Disse Carlos voltando-se para nós.

- Vamos ao Clã Dos Vampiros pedir ajuda a Gabriel. - Fui direito.

- Êpa... Tem certeza disso irmãozinho? Você sabe como aquele branquelo é arrogante. - Carlos me lembrou.

- Eu sei, cara... Mas que outro plano nós temos? Estamos sem saída. E além do mais, Miguel é um dos nossos. É dever dos líderes proteger os seus. Ele não pode simplesmente dar as costas para essa situação.

- Ele está certo, Carlos. - Beatriz interveio. - E como já comentamos lá embaixo, com certeza todos os líderes de Clã já estão cientes da situação. Sem dúvida alguma eles já sabem de tudo que está acontecendo.

- Eu só quero que o Miguel saia bem dessa confusão toda, gente... Não importa de quem venha a ajuda, nós só precisamos pensar no bem estar dele agora. - Thales disse erguendo a cabeça. Seus olhos pareciam brasas incandescentes, seu rosto estava avermelhado. Seu semblante transmitia dor e amargura.

Todos nós nos olhamos. Então, um por um fomos assentindo com a cabeça.

Beatriz logo estendeu uma de suas mãos e disse:

- Então vamos, pessoal... Quanto mais rápido fizermos isso, mais rápido teremos o Miguel de volta.

  Assim fizemos como ela havia pedido. Nos demos as mãos e fizemos um meio círculo.

- Esperem! - A voz fraca de Thales desviou nossa atenção. - Não seria ruim eu ir com vocês? Tipo... Sou um humano. Acho melhor me deixarem em casa primeiro.

- De jeito nenhum! - Protestei. - Você vai com a gente. Agora mais do que nunca não podemos te deixar sequer um minuto sozinho.

- Eu só não quero atrair ainda mais problemas pra vocês. Já estão com tantos. - Explicou ele. - Vocês me levarem pode acabar irritando seu líder. Ele pode acabar se negando a ajudar por conta disso.

- Não pense muito sobre isso, Thales. - Carlos o encarou. - Gabriel pode ser um branquelinho, playboy, mimado... Mas ele não é burro. Ele sabe dos deveres dele como líder de Clã.

- Talvez sua presença até ajude a amolecer um pouco aquele coração de gelo que ele carrega no peito. - Susy agora palpitava. - Você é tão encantador.

- Verdade. - Concordou Beatriz. - Talvez quando ele ver o ser humano amável que estamos lutando para proteger ele se convença a sair das sombras e se juntar a causa para nos ajudar a vencer quem está por trás de tudo isso.

Thales apenas deu de ombros e mais uma vez abaixou a cabeça.

- Então, vamos nessa! - Falei.

- Vamos. - Beatriz disse fechando os olhos. - Ah, Rafael, Carlos e Susy... Se concentrem no lugar pra onde temos que ir. Eu nunca estive no Clã Dos Vampiros antes, então essa parte é com vocês.

- Pode deixar com a gente! - Respondemos em uníssono.

Assim que fechamos nossas bocas, Beatriz estalou seus dedos fazendo sua mágica que nos desmaterializava no ar.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora