Capítulo XXII

4.1K 503 76
                                    

***Thales

- Sobre o que estão conversando? - Perguntou Miguel se sentando ao lado de Beatriz.

- Nada muito importante. - Respondi.

Bia se ajeitou um pouco e começou a revirar a bolsa, de dentro ela tirou um pequeno espelho e um batom. Em seguida ela passou e assim que terminou estalou os lábios dizendo:

- É assunto importante sim.

- Bia... - Ameacei.

- Algum de vocês por acaso conhece aquele garoto? - Ela apontava para o outro lado da rua indicando o rapaz de casaco laranja sentado na mesinha do café.

Os garotos ficaram encarando por algum tempo, suas expressões faciais revelavam curiosidade.

- Não. Nunca o vi antes, e olha que conheço bastante gente. - Rafael respondeu franzindo a testa.

- Muito estranho... - Continuou Miguel. - Se ele fosse daqui com certeza eu saberia. Deve ser de fora da cidade.

- Mas por que a pergunta? - Quis saber Carlos.

- É que Thales o encontrou no banheiro da praia ontem pouco antes do ataque, me parece que eles estavam flertando... - Revelou ela.

- Ei! Eu não flertei com ele!!! - Protestei.

- Me engana que eu gosto, pelo que me contou parecia flerte sim! - Provocou.

- Ai, Bia... Às vezes você me irrita com essa mania de ver coisas onde não tem.

- É só por isso mesmo que queria saber, Bia? - Rafael Interrompeu.

- Só achei estranho o comportamento dele pelo que Thales me contou... Por via das dúvidas, é melhor eu dar uma averiguada. - Dizendo isso ela se levantou pendurando a bolsa de lado.

- Onde você vai? - Perguntei.

- Falar com a professora Lourdes sobre aquele assunto que eu e você conversamos hoje cedo.

- Ah, sim... Boa sorte. Tomara que consiga alguma coisa com isso.

- Meu amor, eu sou Beatriz Jones... Não há nada que eu não consiga. - Dizendo isso ela se virou e saiu andando apressadamente em direção ao prédio.

***

- Me conta essa história direito. - Miguel me trouxe de volta pois eu estava totalmente disperso.

- Hã?!! O quê?!!!

- A história desse garoto do casaco laranja... - Continuou.

- Ah sim... A única coisa que sei é que o nome dele é Kaio... Bem, pelo menos foi o nome com que ele se apresentou. E também tenho a forte impressão que ontem não foi a primeira vez que nos vimos.

- Curioso... Eu realmente não me recordo de tê-lo visto antes, e você sabe que moro aqui a bastante tempo.

- E como sei... Desde o século passado, né?... - Sorri.

- No mínimo suspeito... - Rafael agora nos olhava.

- O que é suspeito? - Perguntei.

- Esse cara estar no local do ataque pouco antes do licantropo aparecer, agora ele está ali no café. Muito esquisito isso... - Ele respondeu balançando a cabeça em negativa.

- Você acha que ele pode ser...? - Nem terminei a frase.

- Temos que desconfiar de qualquer um. - Respondeu sério.

- Tô ficando cada vez mais apavorado com essa história... - Disse me levantando. - Eu vou entrar, logo o sinal toca. E também não aguento mais martelar esses problemas na minha cabeça, tô enlouquecendo!

- Também vou. - Rafael também se levantou. - Vocês vem, caras?

- Agora não. Vamos esperar o sinal. - Respondeu Miguel.

- Até mais então meninos. - Me despedi.

Rafael e eu caminhávamos lado a lado, muitos olhares curiosos nos fitavam, afinal, dias atrás ele nem sequer podia passar perto de mim que a confusão já era certa. Com certeza a principal pergunta na cabeça dos outros alunos era "por quê?". Ele tinha a mania de caminhar com as mãos nos bolsos do uniforme, isso o dava um ar ainda mais sedutor.

- Obrigado por me ajudar com a Beatriz... - Agradeceu. - Ela realmente estava disposta a não me dar uma chance.

- Beatriz é um pouco cabeça dura, mas tem um coração que não cabe no peito. De um jeito ou de outro ela iria te dar um voto de confiança assim que visse que você realmente está disposto a mudar. Só espero de coração que eu não me arrependa disso... De te dar uma chance, de interceder por você com relação a Bia...

- Olha, Thales... - Rafael agora apresentava o tom de voz gentil e sereno. - Eu realmente fui um babaca no início, mas tô vendo que você é um cara legal. Eu deixei meu preconceito e medo falarem mais alto. Eu não queria nenhum tipo de contato com você, mas agora te conhecendo melhor eu quero cada vez mais estar perto de você... Dos nossos amigos... Isso tem me deixado feliz. Sua chegada de certa forma fez um bem enorme a todos nós. Mesmo que estejamos passando por esses problemas, estamos "vivendo" momentos felizes como nunca antes pudemos imaginar. Você mudou tudo, cara!

- Que bom ouvir isso de você... Fico muito feliz em saber que se sente assim: "vivo". - Fiz aspas com os dedos e rimos juntos.

- Palhaço! - Disse ele dando um soquinho no meu braço. - Eu aqui todo meloso fazendo papel de trouxa e você debochando.

- Não é isso, Rafael... - Expliquei. - É que eu quis quebrar esse clima mesmo, se não eu ia começar a chorar no meio do campus. Sou uma manteiga derretida. Achei muito lindo isso tudo que você disse. Nunca imaginaria ouvir algo assim vindo de você.

- Que bom que você gostou. - Ele esboçou um lindo sorriso me encarando com aqueles lindos olhos. - Só quero que sejamos bons amigos, vou tentar não vacilar com você e nem com a Beatriz.

- Se vacilar comigo até pode passar porque sou um banana, agora vacilar com a Bia é assinar sua sentença de morte! Se eu fosse você nem pensaria nisso.

- Tô mais que ferrado então!

- Por que diz isso? - Perguntei ajeitando o cabelo pro lado.

- Ué... Se eu vacilar com você automaticamente tô vacilando com ela porque ela te adora demais! Ela arranca meu couro ou pior: minha cabeça, minha linda cabecinha!

- Não faz piada com essa coisa de arrancar cabeça, Rafael... Tô traumatizado depois do que aconteceu com a Lana.

- Preocupado comigo né? - Ele me olhava com cara de safado.

Mais que depressa dei um jeito de desconversar:

- Muito preocupado com você. Assim como também estou preocupado com o Miguel, o Carlos, a Bia, a Susy... Porque vocês estão colocando suas vidas em perigo por mim. E nem ao menos sabem o real por quê...

- Mas pelo menos agora já temos uma pista mais quente. - Rafael disse levantando a sombrancelha esquerda.

- Que pista? - Perguntei.

- O seu garoto do casaco laranja.

- Você também nessa? Vou ter que fazer o que pra acreditarem que não aconteceu nada naquele banheiro comigo e aquele garoto?!!! - Me alterei.

- Calma, não precisa ficar nervoso.

- Nossa, mas vocês levam tudo pro lado da sacanagem. Eu hein!

Eu saí andando mais depressa na frente, pois estava totalmente irritado com suposições infundadas. Como eu poderia ter algo com um cara que eu nunca havia tido contato na minha vida? Eles estavam ficando loucos!

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora