Capítulo LII

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***Thales

Eu estava tonto. Havia acabado de recobrar minha consciência e aos poucos fui percebendo o ambiente em que eu estava. Era uma sala gigantesca, com o teto alto e decorado com pinturas e detalhes dourados. Era um lugar muito bonito.
Eu teria conseguido reparar melhor em tudo se logo depois não tivesse notado que eu estava preso a uma enorme mesa de pedra. Meus pés e mãos estavam amarrados por cordas que incomodavam muito. Eu podia sentir uma forte ardência em meus pulsos e tornozelos.

- Ai... - Foi o único som que consegui emitir.

Comecei a me debater e sentia como se as cordas ficassem cada vez mais apertadas. Com certeza eu me machucaria ainda mais se continuasse me sacudindo daquele jeito.

Meus pensamentos começaram a voltar no tempo. Me lembrei do que havia acontecido naquela manhã. Agora minha ficha caía. Me dei conta de que estava refém daquele tal mago Pavel.

- Ora, ora! Nosso convidado de honra acordou. - Ouvi uma voz familiar se aproximando.

Quando olhei para o lado, vi que era Kaio quem caminhava lentamente em minha direção. Ele chegou perto e tocou seu dedo indicador no meu queixo. Seu semblante era vazio e ao mesmo tempo sarcástico.

- Por favor, me solta! - Implorei já com lágrimas nos olhos.

- Seu choro não vai funcionar comigo, portanto, poupe suas lágrimas. - Disse ele cruzando os braços sem desviar seu olhar.

- O que vocês querem de mim? O que eu fiz pra vocês?! Não consigo entender o que está acontecendo!

- Não precisa chorar, garoto... Logo tudo estará terminado. E enfim, o mundo como todos conhecem não existirá mais. - Disse ele se virando para sair.

- Kaio! - Gritei. - Por favor, me tira daqui! Eu sei que você não é assim. Você só está sendo usado.

- Todos nós somos usados durante nossas vidas, Thales... Uns para alguns propósitos maiores, outros para coisas insignificantes... Eu estou sendo usado para algo grandioso! - Disse ele sem olhar para trás.

- Kaio! Volte aqui!

Porém o rapaz não me dava ouvidos, apenas foi se retirando da sala andando calmamente assim como entrou.

Não consegui mais controlar minhas lágrimas. O medo do que poderia acontecer comigo começou a me sufocar. As dores e ardência nos pulsos e tornozelos pioraram ainda mais e eu já não tinha mais nenhuma idéia do que fazer para escapar dali.

Alguns minutos se passaram, logo Pavel adentrou a grande sala. Ele estava sério e eu não conseguia parar de sentir arrepios com a presença dele. Eu estava apavorado.
O mago se aproximou de mim e começou a falar assim que colocou sua mão sobre meu peito:

- Fique tranquilo, meu pequeno... Logo tudo estará terminado e você não sentirá mais dor ou sofrimento. Eu esperei muito por esse momento.

- Tira essa mão de mim! - Gritei em um momento de fúria.

- Por que tanto ódio nesse coraçãozinho, meu jovem? Isso não te faz bem. - Ele sorriu de canto de boca.

- Você é um monstro! Asqueroso!

- Você não devia se referir de maneira tão grosseira a quem te deu a vida, meu filho. - Ele agora acariciava meus cabelos e eu bruscamente tentei me esquivar.

Um choque percorreu todo o meu corpo naquele momento... Meu ódio só fez por aumentar. Eu não conseguia sequer assimilar as coisas direito.

- Quem você pensa que é pra me chamar assim?! - Gritei.

- Eu sou seu pai e você me deve obediência! - Ele falou rispidamente.

- Nunca! Você nunca foi e nunca será meu pai. Eu nem sequer sabia se você estava vivo, pai não abandona filho. Pai ajuda a cuidar, dar amor... Você é só um desconhecido pra mim. Um homem asqueroso e doente! - Soltei.

- Você pode negar o quanto quiser... Mas isso não muda o fato de que meu sangue corre por suas veias... E isso é tudo que eu preciso.

- De que merda você tá falando? - Perguntei totalmente revoltado.

- Você é uma tentativa com sucesso depois de muitas outras tentativas falhas... Eu por muito tempo tentei gerar um filho, mas todas as minhas investidas foram em vão. Só com sua mãe eu consegui... E eu não queria de fato um filho, só queria e quero o que de fato você pode me proporcionar: poder!

- Eu nunca vou deixar que você me use para seu plano sórdido... Seja lá ele qual for... - Eu o encarava com repulsa.

- Você não tem querer... Já está tudo acertado, meu querido... Essa noite, quando a lua cheia estiver no céu, o grande ritual será feito. Eu te tornarei um mago e por fim, te sacrificarei derramando seu sangue, drenando assim seus poderes e sua habilidade única de conseguir encantar seres mágicos sem uso de feitiços.

- O quê?!!! - Eu engoli em seco.

- Isso mesmo... Você tem uma habilidade única sobre os seres mágicos... Pena que você não terá realmente tempo de ascendê-la. Pois logo todo seu poder e sua força vital serão meus... Me tornando assim, imortal e jovem eternamente... E também o mago mais poderoso já visto!

- E você vai tirar a vida do seu próprio filho por imortalidade? - Perguntei frio.

- Não é só por isso... Com sua habilidade eu poderei ter o controle sobre toda e qualquer criatura mágica que existe no mundo. Está na hora de sairmos das sombras e mostrar aos humanos quem realmente manda aqui. Chega de vivermos como fugitivos. - Ele agora passava uma das mãos na nuca.

- Você é nojento. - Falei entre os dentes. - Eu nunca vou deixar esse seu plano dar certo. Nem que eu tenha que me matar pra isso.

- Olha pra você, filho... Está de pés e mãos atadas, literalmente. - Ele soltou uma gargalhada. - Como acha que pode me impedir? E agora faltam poucas horas para enfim eu poder fazer o ritual. Só cabe a você e seus amigos aceitarem que eu venci. Nada mais poderá me parar!

- Eu tenho certeza que o Conselho tem algum plano para te deter... Papai. - A última palavra eu disse em tom de sarcasmo fazendo cara de nojo.

- Ah meu filhinho... É uma pena não haver uma outra maneira de eu conseguir o que eu tanto quero... Seríamos ótimos juntos como pai e filho. Você puxou a beleza de sua mãe. É realmente uma pena tirar a vida de alguém tão lindo e tão jovem... Mas não se preocupe... Papai vai cuidar da sua mãe e de todos os seus amigos quando você não estiver mais entre nós, okay? Principalmente aquele sanguessuga nojento... Miguel o nome dele não é?! - Pavel me provocou.

- Se você tocar em um fio de cabelo do Miguel, eu...

- Você o que?!!! - Ele levantou o tom de voz. - Vai fazer o que, Thales?! Mortos não podem fazer nada contra ninguém!

- Seu desgraçado!

- Pode me chamar do que quiser! O futuro já está traçado. O mundo vai começar a pertencer a quem realmente merece: as criaturas mágicas! E nesse futuro, não há espaço para perdedores como seus amigos e seu namoradinho!

- Cala a boca! - Eu chorava copiosamente ao ouvir aquelas palavras tão duras e frias.

Eu não conseguia acreditar que o sangue de um homem tão vil era o mesmo que corria em minhas veias. Eu não conseguia acreditar que minha mãe, sendo uma mulher tão maravilhosa, havia algum dia no passado, se deitado com alguém igual a Pavel. Eu sentia asco.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora