***Thales
Ouvi o cantar dos pássaros ao longe, aos poucos fui abrindo meus olhos e com bastante dificuldade pude enxergar que minha mãe e Beatriz se encontravam de pé ao lado da minha cama:
- O que aconteceu? - Perguntei meio confuso colocando as mãos no meu rosto.
- Tá se sentindo melhor? - Perguntou minha mãe toda preocupada.
- Bem eu... Eu... - Eu tentava me lembrar de algo que pudesse me refrescar a memória, porém nada em mente. - Acho que bebi um pouco demais. - Concluí.
- Bastante. - Confirmou Beatriz toda sem jeito.
- Você dormiu aqui, Bia? - Perguntei.
- Sim. Fiquei preocupada com você e não quis te deixar sozinho, já que sua mãe estava de plantão ontem a noite. - Respondeu ela se sentando à beira da minha cama.
Eu peguei em sua mão e disse:
- Obrigado... E desculpe por ter te dado trabalho. Devo ter ficado maior chato bêbado, né?
- Você não deu trabalho nenhum. - Tranquilizou-me.
- Mas que isso não volte a acontecer. - Interrompeu minha mãe. - Não quero um filho alcoólatra! Sabe muito bem os riscos que pode correr.
- Me desculpe, mãe... - Disse cabisbaixo. - Eu não bebi tanto, só não sou acostumado.
- Tudo bem... Acabei de chagar da clínica, vou preparar o café da manhã pra vocês. - Começou ela se dirigindo em direção à porta do quarto, antes de sair intimou. - Trate de tomar um banho e se recompor. Está fazendo um dia lindo lá fora.
- Okay, mamãe!
Assim que ela saiu do quarto me sentei na cama apoiando minhas costas na cabeceira. Beatriz me olhou curiosa e perguntou:
- O que se lembra de ontem a noite?
- Me lembro de tudo, exceto depois que me encontrei com Rafael da segunda vez que fui fazer xixi... - Forçava minha memória tentando me lembrar de mais alguma coisa, porém, sem muito sucesso. - Lembro que na primeira vez que nos encontramos vimos um animal... Um lobo, eu acho...
- Eu acho que você bebeu demais e viu coisa, isso sim! - Disse ela rindo.
- E Rafael, viu coisa também? - Questionei.
- Vai saber... Não é novidade pra ninguém que aquele lá adora exagerar na bebida...
- Mas, Bia... - Interrompi confuso. - Como viemos embora? Não consigo me lembrar de como chegamos aqui... Não consigo me lembrar da gente deixando a festa... A Susy deve estar decepcionada, deve estar pensando que sou um fracote pra bebida.
- Fica tranquilo... - Tentou me acalmar. - Com certeza Susy não está pensando nada disso.
- Será?... - Duvidei.
- Você vai ver.
Um breve silêncio pairou no ar... Ouvimos a campainha de casa tocar. Poucos minutos depois minha mãe apareceu na porta do quarto:
- Bia, tem um garoto te esperando lá embaixo. Ele parece estar bem preocupado.
- Ué... Ele disse o nome? - Perguntou Bia curiosa.
- Não. Só perguntou se você estava aqui e disse que o assunto é urgente! - Respondeu minha mãe.
- Obrigada. Diz a ele que já estou descendo.
- Tudo bem. - Disse minha mãe dando meia volta.
- Quem será? - Perguntei curioso.
- Só vou saber depois que eu descer, seu curioso. - Brincou.
- Tá okay, vai lá então, sua chata! - Lhe joguei um travesseiro rindo.
- Vou aproveitar e ir pra casa... - Disse levantando e prendendo os cabelos. - Eu estava esperando pra você acordar e ver se estava bem. Agora que vi que está ótimo, tenho que ir. Minha mãe deve estar preocupada, avisei que ia dormir aqui, mas você sabe como são as mães...
- E como sei. - Sorri.
Ela se aproximou de mim uma última vez, me deu um abraço e em seguida caminhou em direção à porta dizendo:
- Qualquer coisa me liga. Talvez hoje mais tarde ou amanhã volto pra te ver. Tchau!
- Tchau, amiga!
***
Logo depois que Bia se foi, levantei, tomei um bom banho quente e vesti uma roupa bem confortável e que me mantivesse aquecido.
Caminhei até a sacada e vi que o dia estava lindo, não fazia sol, as nuvens em vários tons de cinza encobriam o céu. O vento frio que vinha da costa tocava meu rosto e trazia junto consigo o cheiro do mar.Fiquei ali de pé na sacada sem sequer ter noção do tempo. Não pensava em mais nada a não ser àquela bela imagem do oceano se perdendo de vista no horizonte... Sentia uma paz enorme.
- Filho... - Minha mãe tirou-me de meus devaneios. - Eu estou batendo na porta ao maior tempão e você não responde... Entrei assim mesmo.
- Ha mãe, me desculpe. Eu estava tão distraído. Olha só que vista linda, que dia lindo... Tem como a mente não viajar para longe vendo uma coisa assim?
- Verdade. - Concordou dando um meio sorriso e se aproximando do parapeito. - Realmente essa cidade tem muitos encantos.
- Mamãe...
- O que, filho?
Eu parei por uns segundos procurando as palavras certas e continuei:
- Como era o garoto que veio aqui em casa mais cedo atrás de Bia?
- Era um rapaz bonito, mas meio desleixado... - explicava ela. - cabelos curtos e escuros, fortinho... E também não é do tipo que fala muito.
- Estranho. - Concluí.
- O que é estranho, meu filho? - Perguntou minha mãe curiosa.
- É que parece que a senhora acabou de me descrever o Miguel... E até onde sei ele e Bia não são próximos.
- Pode ser algum outro garoto, meu anjo. - Disse ela apoiando a mão em meu ombro.
- É. - Concordei. - Deve ser algum outro garoto que não conheço. Não teria porque Miguel vir até aqui atrás da Bia. Devo estar ficando maluco.
Minha mãe sorriu pegou na minha mão e começou a me puxar para dentro dizendo:
- Okay, agora vamos! Maluco ou não o senhor tem que comer alguma coisa. Fiz um café da manhã delicioso.
- Não tô com fome, mãe. - Eu tentava resistir.
- Vamos logo que saco vazio não para de pé! E quem mandou encher a cara ontem? Se não se alimentar direito não vou mais deixar você sair com suas amigas!
- Tá bom, eu vou... Por livre e espontânea pressão! - Concordei. - Que coisa feia, dona Suzana! Isso é chantagem! - Ri.
- Entenda como quiser, senhor Paris! Sou sua mãe e o senhor tem que me obedecer! - Ameaçava ela em tom cômico dando tapinhas na minha bunda.
- Tá bom, dona mandona. - Concordei rindo segurando sua mão e a acompanhando para fora do quarto.
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O Belo e O Fera [Livro 1]
Teen FictionA vida é assim, uma caixinha de surpresas. Mas nessas reviravoltas, altos e baixos de um mundo cruel, misterioso e frio será que existe esperança? Será que o bem realmente sempre prevalece no final das contas? Embarque na história de Thales e venh...