Capítulo X

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***Thales

Ouvi o cantar dos pássaros ao longe, aos poucos fui abrindo meus olhos e com bastante dificuldade pude enxergar que minha mãe e Beatriz se encontravam de pé ao lado da minha cama:

- O que aconteceu? - Perguntei meio confuso colocando as mãos no meu rosto.

- Tá se sentindo melhor? - Perguntou minha mãe toda preocupada.

- Bem eu... Eu... - Eu tentava me lembrar de algo que pudesse me refrescar a memória, porém nada em mente. - Acho que bebi um pouco demais. - Concluí.

- Bastante. - Confirmou Beatriz toda sem jeito.

- Você dormiu aqui, Bia? - Perguntei.

- Sim. Fiquei preocupada com você e não quis te deixar sozinho, já que sua mãe estava de plantão ontem a noite. - Respondeu ela se sentando à beira da minha cama.

Eu peguei em sua mão e disse:

- Obrigado... E desculpe por ter te dado trabalho. Devo ter ficado maior chato bêbado, né?

- Você não deu trabalho nenhum. - Tranquilizou-me.

- Mas que isso não volte a acontecer. - Interrompeu minha mãe. - Não quero um filho alcoólatra! Sabe muito bem os riscos que pode correr.

- Me desculpe, mãe... - Disse cabisbaixo. - Eu não bebi tanto, só não sou acostumado.

- Tudo bem... Acabei de chagar da clínica, vou preparar o café da manhã pra vocês. - Começou ela se dirigindo em direção à porta do quarto, antes de sair intimou. - Trate de tomar um banho e se recompor. Está fazendo um dia lindo lá fora.

- Okay, mamãe!

Assim que ela saiu do quarto me sentei na cama apoiando minhas costas na cabeceira. Beatriz me olhou curiosa e perguntou:

- O que se lembra de ontem a noite?

- Me lembro de tudo, exceto depois que me encontrei com Rafael da segunda vez que fui fazer xixi... - Forçava minha memória tentando me lembrar de mais alguma coisa, porém, sem muito sucesso. - Lembro que na primeira vez que nos encontramos vimos um animal... Um lobo, eu acho...

- Eu acho que você bebeu demais e viu coisa, isso sim! - Disse ela rindo.

- E Rafael, viu coisa também? - Questionei.

- Vai saber... Não é novidade pra ninguém que aquele lá adora exagerar na bebida...

- Mas, Bia... - Interrompi confuso. - Como viemos embora? Não consigo me lembrar de como chegamos aqui... Não consigo me lembrar da gente deixando a festa... A Susy deve estar decepcionada, deve estar pensando que sou um fracote pra bebida.

- Fica tranquilo... - Tentou me acalmar. - Com certeza Susy não está pensando nada disso.

- Será?... - Duvidei.

- Você vai ver.

Um breve silêncio pairou no ar... Ouvimos a campainha de casa tocar. Poucos minutos depois minha mãe apareceu na porta do quarto:

- Bia, tem um garoto te esperando lá embaixo. Ele parece estar bem preocupado.

- Ué... Ele disse o nome? - Perguntou Bia curiosa.

- Não. Só perguntou se você estava aqui e disse que o assunto é urgente! - Respondeu minha mãe.

- Obrigada. Diz a ele que já estou descendo.

- Tudo bem. - Disse minha mãe dando meia volta.

- Quem será? - Perguntei curioso.

- Só vou saber depois que eu descer, seu curioso. - Brincou.

- Tá okay, vai lá então, sua chata! - Lhe joguei um travesseiro rindo.

- Vou aproveitar e ir pra casa... - Disse levantando e prendendo os cabelos. - Eu estava esperando pra você acordar e ver se estava bem. Agora que vi que está ótimo, tenho que ir. Minha mãe deve estar preocupada, avisei que ia dormir aqui, mas você sabe como são as mães...

- E como sei. - Sorri.

Ela se aproximou de mim uma última vez, me deu um abraço e em seguida caminhou em direção à porta dizendo:

- Qualquer coisa me liga. Talvez hoje mais tarde ou amanhã volto pra te ver. Tchau!

- Tchau, amiga!

  ***

Logo depois que Bia se foi, levantei, tomei um bom banho quente e vesti uma roupa bem confortável e que me mantivesse aquecido.
Caminhei até a sacada e vi que o dia estava lindo, não fazia sol, as nuvens em vários tons de cinza encobriam o céu. O vento frio que vinha da costa tocava meu rosto e trazia junto consigo o cheiro do mar.

Fiquei ali de pé na sacada sem sequer ter noção do tempo. Não pensava em mais nada a não ser àquela bela imagem do oceano se perdendo de vista no horizonte... Sentia uma paz enorme.

- Filho... - Minha mãe tirou-me de meus devaneios. - Eu estou batendo na porta ao maior tempão e você não responde... Entrei assim mesmo.

- Ha mãe, me desculpe. Eu estava tão distraído. Olha só que vista linda, que dia lindo... Tem como a mente não viajar para longe vendo uma coisa assim?

- Verdade. - Concordou dando um meio sorriso e se aproximando do parapeito. - Realmente essa cidade tem muitos encantos.

- Mamãe...

- O que, filho?

Eu parei por uns segundos procurando as palavras certas e continuei:

- Como era o garoto que veio aqui em casa mais cedo atrás de Bia?

- Era um rapaz bonito, mas meio desleixado... - explicava ela. - cabelos curtos e escuros, fortinho... E também não é do tipo que fala muito.

- Estranho. - Concluí.

- O que é estranho, meu filho? - Perguntou minha mãe curiosa.

- É que parece que a senhora acabou de me descrever o Miguel... E até onde sei ele e Bia não são próximos.

- Pode ser algum outro garoto, meu anjo. - Disse ela apoiando a mão em meu ombro.

- É. - Concordei. - Deve ser algum outro garoto que não conheço. Não teria porque Miguel vir até aqui atrás da Bia. Devo estar ficando maluco.

Minha mãe sorriu pegou na minha mão e começou a me puxar para dentro dizendo:

- Okay, agora vamos! Maluco ou não o senhor tem que comer alguma coisa. Fiz um café da manhã delicioso.

- Não tô com fome, mãe. - Eu tentava resistir.

- Vamos logo que saco vazio não para de pé! E quem mandou encher a cara ontem? Se não se alimentar direito não vou mais deixar você sair com suas amigas!

- Tá bom, eu vou... Por livre e espontânea pressão! - Concordei. - Que coisa feia, dona Suzana! Isso é chantagem! - Ri.

- Entenda como quiser, senhor Paris! Sou sua mãe e o senhor tem que me obedecer! - Ameaçava ela em tom cômico dando tapinhas na minha bunda.

  - Tá bom, dona mandona. - Concordei rindo segurando sua mão e a acompanhando para fora do quarto.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora