Capítulo XXXI

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***Thales

- Dá pra acreditar nisso? Como eles querem que a gente fique aqui sem fazer nada enquanto Gabriel está procurando por Miguel?! - Eu estava muito insatisfeito com aquela situação.

Carlos, Bia e Susy estavam sentados no sofá da sala de casa, enquanto eu, caminhava de um lado para o outro do cômodo impaciente. Rafael havia saído para se alimentar, pois até então, ele não havia o feito.

Já era fim de tarde e o frio lá fora se tornava cada vez mais severo.

- Você precisa acalmar seu coração, meu anjo, ou vai acabar tendo um treco. - Beatriz tentava me tranquilizar, porém não estava funcionando muito bem.

- Não adianta, Bia! Não vou conseguir me acalmar enquanto não tivermos notícias de Miguel.

- Eu sei que é difícil, irmãozinho... Mas o que podemos fazer agora? - Perguntou Carlos.

- Sair e procurar por Miguel?! - Repliquei.

- E por onde começaríamos? - Treplicou ele. - Além do mais, nossa prioridade agora é manter você seguro.

- Ah é? E quem manterá vocês seguros? - Coloquei as mãos na cintura.

- Nós somos fortes, Thales... Conseguimos nos cuidar. - Susy se intrometeu.

- Eu não aguento mais essa situação. Eu vou enlouquecer com essa história absurda!

Quando fechei a boca meu celular começou a tocar. Corri até a cozinha que é onde eu havia o deixado logo que chegamos.

Quando peguei o aparelho, consegui ler no visor: mamãe.

Atendi:

- Alô?

- Oi meu filho está tudo bem por aí?

- Sim, mãe. - Eu de modo algum poderia dizer a ela tudo que estava acontecendo. Pareceria loucura.

- Só liguei pra avisar que meu vôo já aterrissou. Estou no aeroporto esperando um táxi.

- Que bom, mamãe...

- Estou te achando um pouco estranho, aconteceu alguma coisa? - Ela realmente me conhecia muito bem.

- Não! Está tudo bem por aqui. Não precisa se preocupar. Trate de focar no trabalho que tem a fazer.

- Tudo bem então... Tenho que desligar agora, meu táxi chegou. Qualquer coisa me ligue.

- Tá bom, mãe. Não se preocupe comigo...

- Até mais, meu filho. Te amo.

- Também te amo, mãe.

Encerrei a chamada em seguida.

Caminhei até o balcão e puxei uma das banquetas e me sentei. Fiquei ali por alguns minutos olhando pro nada.

- O que aconteceu? - Perguntou Bia adentrando a cozinha.

- Era minha mãe. - Respondi enquanto continuava olhando pro vazio. - Ela ligou pra saber se estava tudo bem e avisar que já pousou.

- E o que você disse a ela?

- Menti que está tudo bem... O que mais eu poderia dizer? - Agora eu passava uma de minhas mãos pelos cabelos meio que os puxando.

- Fica tranquilo, anjo. Você fez o certo. Sua mãe tem que ser protegida dessa loucura toda. Essa viagem a trabalho parece ter vindo na hora certa.

Ouvindo Beatriz dizer essas palavras na hora me veio um estalo.

- Doutor Albert faz tudo já premeditado, não é?

- O que quer dizer com isso!? - Minha amiga perguntou confusa.

- Não é óbvio que ele inventou essa viagem a trabalho pra minha mãe justo agora que ele sabia que as coisas iam ficar feias?

- Você tem razão... - Bia agora cobria a boca com uma das mãos enquanto arregalava os olhos. - Mas que filho da mãe!!!

- É inacreditável como ele está manipulando todos como bem acha certo. - Eu me levantei e ia saindo da cozinha. - Mas eu não vou ser mais uma peça nesse jogo do Conselho, disso você pode ter certeza!

- O que vai fazer? - Perguntou Bia.

- Pode ficar tranquila... Por hora, apenas tomar um banho.

***

Era fim de manhã de domingo. Na noite anterior eu sequer havia conseguido pregar os olhos. O tempo não estava a nosso favor.
O prazo para encontrar Miguel estava se esgotando e até então Gabriel ainda não tinha conseguido nenhuma notícia dele.

Meu desespero era visível. Eu não consegui pensar em mais nada a não ser em Kaio cumprindo a ameaça feita no vídeo. Me passava pela cabeça a cena de Lana tendo a cabeça arrancada na noite da festa de Susy, eu imaginava aquilo acontecendo com Miguel... Com meu Miguel.

Eu estava sentado na cadeira da sacada observando a neve que cobria o jardim, as copas das árvores, os telhados das casas aos pés da colina... O vento frio tocava meu rosto sem qualquer piedade, mas eu não conseguia sair dali.

- Thales, vamos entrar. Está muito frio aí fora pra você. - Chamou-me Rafael que acabava de aparecer na porta.

- Tá tudo bem, Rafael... Eu só quero ficar aqui... Pensando...

- Você vai acabar pegando um resfriado. - Insistiu.

- Não precisa se preocupar. Eu estou bem. - Menti. Meu coração estava em pedaços.

Susy agora chegava ao ambiente trazendo consigo uma garrafa de vinho e taças. Ela se sentou do meu lado e enchendo um dos cálices disse:

- Se vai ficar aqui é melhor tomar algo para se manter aquecido.

- Tá brincando? - Olhei descrente para ela. - Como pode pensar em beber numa situação como essa?

- Vai ajudar a nos manter calmos meu querido. Tem certeza que não quer? - Perguntou me estendendo uma das taças.

- Não. Pode ficar a vontade. Não consigo pensar em mais nada que não seja em Miguel!

- Então tá. Você é quem sabe. - Ela agora se dirigia a Rafael. - Me acompanha?

- Claro! - Respondeu ele sem pensar duas vezes.

- Que belos amigos são vocês! Como podem pensar em ficar de porre enquanto o nosso tempo para encontrar Miguel está se esgotando? Estou decepcionado. - Dizendo isso me levantei e saí.

Eu sequer raciocinava direito. Já não conseguia medir minhas palavras, meu pensamento estava em apenas uma pessoa.
Desci as escadas para ir até a cozinha pegar o celular que eu havia deixado lá. Passando pela sala vi que Beatriz e Carlos me encaravam. Só consegui dizer:

- Não entendo como podem estar tão tranquilos.

- Você está bem? - Perguntou Bia.

- Como posso estar bem? Nosso tempo está se esgotando!

Saí rápido dali.
Fui até a cozinha, peguei o celular e voltei para o quarto. Rafael e Susy continuavam na sacada bebendo e conversando.

Eu me joguei na cama e comecei a deslizar o dedo pelo visor do celular navegando entre um aplicativo e outro.
Quando fui perceber, estava com o aplicativo de mensagens aberto na última conversa que eu havia tido com Miguel.

Relendo aquilo, meu coração se partiu em pedaços. Parecia que um elefante estava pisando sobre meu peito, tamanha era a dor que eu estava sentindo. Me entreguei as lágrimas, um choro de dor, amargura, desesperança. Se eu não fizesse algo por minha conta própria, o homem que eu amava seria destruído. Ali, naquela cama quente e entregue as lágrimas eu acabei apagando sem perceber.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora