Capítulo XLIV

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***Beatriz

- Vocês precisam tomar uma providência, estamos sendo exterminados! - Eu estava totalmente abalada.

Professora Lourdes e doutor Albert se encontravam sentados em suas confortáveis poltronas, enquanto Gabriel estava de pé ao meu lado. Ele se mostrava descrente e seu semblante naquele momento deixava transparecer nojo pelos dois feiticeiros sentados e tranquilos à nossa frente.

- Vocês vão ficar aí, parados? Com essas caras de que nada de grave aconteceu? - Gabriel não conseguia manter a calma. - Dezenas de vampiros acabaram de ser mortos e nossa casa foi queimada. Como conseguem ficar tão calmos?!!!

- Jovem Gabriel... - Começou doutor Albert. - Você ainda tem muito que aprender. Na guerra vale tudo, não pense que estamos satisfeitos com o que aconteceu. Esse ser maligno vai pagar caro por estar perturbando tanto a paz do mundo mágico. Isso eu prometo a você... Seus amigos serão vingados.

- Eu não quero vingança. Eu quero que sejam justos! Eu só não quero que mais nenhum dos nossos morra. Não acho que seja pedir muito. - Gabriel passou a mão pelos cabelos desgrenhados.

- Eu tenho uma pergunta a fazer... - Interrompi a conversa encarando os altíssimos. - Quando pretendem entrar nessa luta? Quando realmente vão tentar nos ajudar? Está mais do que claro que não podemos fazer isso sozinhos, estamos morrendo. E a impressão que eu tenho, é de que pouco estão se importando com isso.

- Cara Beatriz, não diga isso. - Professora Lourdes disse com a voz calma de sempre. - Só porque seus olhos não vêem não significa que não estejamos agindo. A vida de cada ser mágico é de suma importância para nós. Fazemos o nosso melhor para manter o equilíbrio e não deixar que os humanos desconfiem de nossa existência, é por isso que precisamos agir com a maior descrição possível. Uma guerra visível aos olhos dos humanos comuns seria péssimo para nós.

- Vocês não entendem, não é?! - A revolta de Gabriel só fazia por aumentar. - Essa guerra já está visível para que qualquer um veja. Nossa casa foi incendiada, perdi vários dos meus... Isso não vai parar até eles conseguirem o que querem. Eles deixaram bem claro que nos metemos no caminho do mestre deles. Agora as coisas só irão piorar, eles começaram a jogar pesado e não irão parar!

- E o que exatamente vocês querem que façamos? - Doutor Albert quis saber.

- Queremos que convoquem os magos para nos ajudar a enfrentar o que está por vir. A guerra já começou! - Falei olhando diretamente para professora Lourdes, pois eu sabia que, se tínhamos a chance de persuadir alguém ali naquela sala, esse alguém era ela.

Os dois altíssimos se entreolharam. Pareciam estar conversando por pensamentos. Seus semblantes demonstravam preocupação e ao mesmo tempo curiosidade.

- Precisamos conversar sobre isso primeiro. - Disse doutor Albert.

- Em que exatamente vocês precisam pensar? - Quis saber Gabriel. - Precisam saber primeiro quantos outros de nós tem que morrer antes de vocês verem que não há mais jeito de evitar sujarem as mãos de seus feiticeiros?

- Não é isso meu querido. - professora Lourdes permanecia inalterada. - É só que temos que avaliar o estrago que isso vai causar ao mundo humano. Você sabe o perigo que corremos se nossa existência for exposta.

- Eu sei. - Concordou ele. - Mas nós não existiremos mais para sermos expostos se nada for feito para enfrentarmos a alcatéia de licantropos cara a cara.

- Você está certo, meu rapaz. Não dá mais para fugir disso... - Doutor Albert concordou. - Convocarei uma reunião com nossos melhores feiticeiros. Chega! - Completou ele se levantando. - Isso precisa acabar de uma vez por todas.

- Mas... Mas doutor Albert... - Tentou interrompê-lo professora Lourdes.

- Sem mas, minha velha amiga... Nossos planos não tem mais saído exatamente como esperávamos, ele começou a jogar pesado. Vamos mostrá-lo do que também somos capazes.

- Se assim deseja, assim será. - Ela concordou também se levantando.

Os dois já estavam caminhando em direção à porta para abandonarem a sala, foi quando Gabriel chamou doutor Albert uma última vez.

- Senhor...

- Sim, meu jovem? - Perguntou ele se virando para Gabriel.

- E quanto a nossa casa? O que faremos? Não temos para onde ir... Por essa noite o Thales deixou passarmos a noite na casa dele, mas não podemos estender nossa estadia lá. A casa está cheia. - Gabriel estava totalmente preocupado com o que faria com a parte sobrevivente de seu Clã.

- E a mãe de Thales logo estará de volta da viagem, altíssimo. - Completei.

- Como?! - Doutor Albert demonstrou surpresa.

- Isso mesmo, senhor... Suzana logo estará de volta.

- Mas ela não pode voltar agora... Atrapalharia nossos planos!

- Não há o que fazer, o aniversário de Thales está se aproximando. Ela nunca passaria tal data longe do filho. - Expliquei.

- Então temos que agir rápido! E, jovem Gabriel... Pode ficar tranquilo que amanhã mesmo pedirei que alguém resolva esse assunto da casa. Vocês não ficarão sem uma nova sede para seu Clã. Receberão notícias em breve. - Dizendo isso doutor Albert saiu da sala, agora caminhando apressadamente.

Gabriel suspirou aliviado e deu um meio sorriso me olhando de lado. Mas seu sorriso deixava, de certo modo, transparecer uma grande tristeza em seu interior.

- Bem... Algo a mais para fazermos aqui? - Perguntei.

- Acho que isso é tudo. - Respondeu ele.

- Então vamos. O pessoal deve estar ansioso por notícias.

Assim, então, nos demos as mãos e desaparecemos.

***

Horas já haviam se passado desde que chegamos à casa de Thales com as novidades. Eu, ele e Miguel estávamos sentados na varanda da frente conversando.

- Demorou, mas até que enfim os feiticeiros irão nos ajudar né... - Thales parecia mais esperançoso.

- Eu fiz tudo que pude para pressioná-los a agir mais rápido, Thales. - Expliquei. - Mas Gabriel foi a cartada final nessa história toda.

- Como assim?

- Ele sabe usar bem as palavras, na hora certa... Não é tão imbecil no final das contas. - Tive que dar o braço a torcer.

- Hum... - Thales me olhava de lado apertando os olhos.

- Que foi?!

- Nada... Só estou pensando. - Disse ele arqueando a sombrancelha direita.

- Garoto! Você parece que só quer me ver com pessoas erradas! Primeiro falou do Rafael, agora do Gabriel???! Que caralho de amigo é você? - Eu fingi estar brava.

- Calma eu só estava brincando, amiga!

- Sei bem... Tá vendo só, Miguel!? Esse é o tipo de garotos que ele quer empurrar pra cima de mim. E depois diz que é meu amigo. - Provoquei.

- Eu não tenho nada com isso. - Miguel ergueu as mãos em sinal de inocência. - Vocês que têm que se entender.

- Calma... Eu só estava brincando. - Ri.

- Eu sei né. Já estou acostumado com suas brincadeiras.

Um silêncio tomou conta do ambiente naquele momento. Nós três olhamos para o céu. Agora o céu parecia estar totalmente sem nuvens. A lua estava linda e dourada.

Por alguns instantes aquele lindo céu noturno até conseguiu me fazer esquecer de tudo que estávamos passando.
Uma leve brisa fria tocava meu rosto e balançava levemente meus cabelos. Dava vontade que o tempo congelasse ali, naquele momento... Assim não teríamos que lidar com tantos problemas.
No fundo do meu coração, eu sentia uma grande tristeza se aproximando.

O Belo e O Fera [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora