➵ 3 | Aula

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O toque irritantíssimo do meu despertador quase me faz quebrá-lo toda santa manhã, mas sei que se não fosse isso eu já teria mais faltas que todos os meus colegas. É segunda-feira. Depois de um banho de dez minutos, vou me aprontar para a aula.

Coloco uma blusa em estilo corset de bojo coração e alcinhas amarelo-clarinho com flores rosas, calça de cintura alta e botas de cano curto num estilo anos sessenta. É meu estilo comum, e basicamente o que visto para a faculdade quase todo santo dia — substituindo as peças, claro. Me maquio com um pouco de base, rímel, delineador e gloss. No pescoço, minha correntinha com um crucifixo dourado. Dou uma passada generosa no perfume. Rachel e Olívia tomam café-da-manhã na cozinha. Como Ol ajeitou a matrícula de Ryven antes dele vir, o veremos em minutos. Não comento sobre o quão me sinto ansiosa para chegar na Lodge pela primeira vez em muito tempo.

Estaciono numa das vagas livres. Por coincidência, Michael chega junto conosco em seu carro.

— Estava me perseguindo? — brinco com meu amigo, batendo a porta atrás de mim.

— Pode ter certeza que sim.

Troco um abraço com ele e aperto a mão de Carter. O último a descer é Ryven. Ele está novamente com sua jaqueta de couro e a camiseta tem uma estampa parecida com a do meu corset.

— Olhe só, até parecemos irmãos. — Aponto para o meu peito.

Ryven umidece os lábios.

— Ainda bem que só parecemos. Seria uma pena ser seu parente.

Abro a boca. Isso foi um flerte?

— Por quê? — arqueiro uma sobrancelha de volta, esperando a resposta sair de sua própria boca.

Ele apenas continua rindo em resposta. Juntos, atravessamos o campus.

— Ela gosta dele, não é? — Blackthorn muda de assunto, o olhar voltado à irmã e Michael.

— Sim, gosta muito, só não admite. Não vejo a hora de assumirem o namoro de uma vez por todas.

Ryven pigarreia.

— Gosta muito mesmo, porque nem cumprimentou direito o irmão que ela não vê a anos! — essa última parte é dita em som alto e claro.

Olívia cora e volta-se correndo. Mesmo sendo um pouco alta, tem de se esticar para beijá-lo repetidamente no rosto.

— Oi, irmão! Como você está? Como foi a noite? Tá com frio na barriga por que é sua primeira aula na faculdade hoje? Já encontrou alguém conhecido? Já achou uma...

— Acho que era melhor antes de você perceber que eu estou aqui. — Interrompe. — Pode voltar a conversar com Michael agora.

Olívia o beija rapidamente na bochecha, sorri e volta para Michael. Me pego rindo da situação. Com Ryven para me entreter, não vou segurar vela de novo tão cedo. Essa é a melhor parte da vinda dele pros Estados Unidos — uma delas.

Nossa primeira aula é a de Teoria da Comunicação, que eu a faço junto de Rachel, Carter e agora Ryven. Olívia cursa moda no prédio ao lado e Michael química.

— Alunos, eu quero que façam dupla com o colega ao lado e juntos escrevam um resumo de tudo que aprenderam no semestre passado. — O professor Jordan diz lá de sua mesa. Ele é novo. O antigo professor, senhor Fitz'Alam, se mudou na semana passada pra Michigan. A turma toda resmunga. — Ah, deixem disso, pessoal. Preciso ver o que aprenderam. Vocês têm até o fim da aula de hoje.

Eu me viro para Ryven, já que do meu outro lado Rachel e o namorado obviamente farão parceiria.

— Alunos novos se safam desse resumo? —  Blackthorn tenta.

— Provavelmente não. Ainda bem que ele colocou o trabalho em duplas. E olha só: você pode fazer comigo. Sinceramente, você é tão sortudo!

Novamente, seu sorriso contagia.

— Pois é. O que eu faria se não fosse você?

Quando o sinal bate, já terminamos. Fiz tudo sozinha, logicamente. Deixo a folha em cima da mesa do professor e saio da sala, Ryven no meu encalço.

— Bev, você quer sair mais tarde? Sabe, para agradecer o negócio do trabalho.

Mordo o lábio.

— Não posso. Tenho que trabalhar.

Ele fica surpreso.

— Você trabalha?

— Em um bar chamado Rockye's. Por que você não vai lá mais tarde?

— Boa ideia. Vou pedir Ol para me mostrar onde é.

— Está marcado, garotão.

— Marcado — repete ele, afastando-se para sua próxima aula.

Fico parada no corredor por alguns segundos. Ah, por que ele tem que ser tão lindo, Deus? E com esse pensamento, sigo minha vida pelas próximas horas sem uma resposta divina. 

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