➵ 45 | Um monstro entre nós

152 16 11
                                    

— Beverly?

Pisco as pálpebras até abri-las por completo e me deparo com meu pai encarando-me de pertinho.

— Joseph? Que horas são?

— Oito da manhã.

— Aconteceu alguma coisa?

— Os jornalistas estão na porta do hospital. Hora de dar a entrevista. — Comunica docemente, então aponta para a poltrona. — Comprei algo pra você usar. Vou te esperar lá fora, certo?

Faço que sim. Joseph me beija, sorri e se vai.  Não estou com tanta dor felizmente. No banheiro, escovo os dentes e tento dar um jeito nos fios rebeldes. Acabo por prender a franja para trás com uma presilha e o restante faço um coque. Substituo a camisola por um vestido florido de manguinhas e corrijo um pouco das olheiras com a maquiagem que Rachel trouxe escondida. Meu pai está no corredor do lado de fora esperando por mim.

— Beverly, por que está de pé? — mamãe intervém. — Deveria estar descansando.

— Eu estou bem, mãe. Vou fazer uma coisa com Joseph.

— O quê?

— Só vamos dar uma entrevista, Hermione. Não é nada demais. Será do lado de fora do hospital.

— Eu quero ir, ok? — tento acalmá-la.

Meu pai estende um dos braços para mim.

— Vamos?

O aceito.

— Vamos.

Do lado de fora se vê um aglomerado de jornalistas segurando câmeras, microfones, gravadores e coisas do tipo. Assim que nos veem passar pela porta as perguntas aparecem como uma enxurrada. Me sinto exposta e acuada. Tenho vontade de dar meia volta e correr para meu quarto.

— Acalmem-se, responderei a todas as perguntas. — Papai anuncia. — Você, pode perguntar.

A mulher com um minigravador não perde tempo.

— Como descobriu que tinha uma filha, senhor Byers?

— Vi uma foto dela e da mãe na internet. Achei que se parecia comigo, então comecei tive curiosidade e contratei um investigador particular. Foi a melhor decisão que já tomei.

Um investigador particular? Ele não mencionou isso pra mim?

— Por que você decidiu vir atrás dela só agora? Por que não esteve presente antes?

— Porque a mãe dela não me informou sobre a gravidez e depois que terminamos eu me mudei para o Brasil. Perdemos o contato. Próxima.

— Senhor Byers, como foi a reação da sua mulher ao descobrir uma enteada? Ela é infértil, correto? 

— Joyce ficou contente porque sempre soube que meu grande sonho é ser pai. Foi ela quem mais me incentivou a vir atrás da minha filha depois de todos esses anos.

— O senhor pretende ficar aqui ou vai voltar para o Brasil?

— Bem, ainda não sei. Logo descobriremos o que fazer juntos. — Ele repousa uma mão no meu ombro.

— Eu tenho uma pergunta para sua filha. Beverly, não é? — arregalo os olhos. A ruiva em minha frente aguarda. Assinto, meio perdida nesse caos. — Beverly, como é ter um pai depois de tantos anos? — ela põe o microfone diante meus lábios.

Arranho a garganta.

— Foi um choque pra mim... Também uma alegria, eu acho. Joseph, digo meu pai, vai me ajudar muito nessa jornada que enfrento atualmente.

Tudo Por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora