➵ 2 | A Sedutora (e manca) Beverly

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Raios solares agressivos incomodam minhas pálpebras. Me vejo obrigada a abri-las. Minha cabeça lateja e pisco os olhos para me acostumar com o excesso de claridade. As lembranças estão embaçadas em minha mente — devo ter dançado demais ou bebido demais... Ou os dois.

Ao mover o rosto, noto Jeremiah Pratt roncando do meu lado. Ele ainda usa calças, então presumo que não transamos. Rolo para fora da cama com cuidado e me infiltro pela porta que dá no banheiro particular. Procuro algo que possa me ajudar detrás do espelho e um vidrinho de analgésicos me salva. Meu reflexo não é um dos melhores. Cabelos rebeldes, olhos fundos e um batom apagado. Pergunto-me onde minhas roupas foram parar. Cuidadosamente, saio para o corredor. Há pessoas caídas no chão. Vou na ponta dos pés sem pisar em nenhuns braços ou pernas estiradas. Meu objetivo é chegar ao meu carro e ir para casa tomar uma boa ducha. Isso se não tiverem roubado, já que eu deixei a chave na ignição — pelo menos disso eu lembro. Felizmente Skarye Fall é uma cidade bem pacífica. Roubos são raros e... Aí! Reprimo o grito quando afundo o peito do pé numa tampinha de garrafa. Ótimo. Agora, além de estar sem roupas, estou manca. É um belo jeito de começar o dia, penso comigo mesma.

— Bevs? — alguém chama. Viro-me no mesmo momento em que Olívia Black entra pela porta da frente. Ela franze a sobrancelha. — Por que você está sem roupas? E por que você está mancando? Ah, quer saber? Deixe para lá. Eu prefiro não saber.

— Oi, Ol. — Manco até ela. — O que faz aqui?

— Rachel me disse que você tinha ficado para dormir aqui, e como você ainda não apareceu lá em casa, vim conferir se estava tudo bem.

Não dou bola a ela porque estou muito ocupada encarando o homem que a acompanha. Mesmo atrás, se sobressai. É alto. Deve ter mais de um metro e noventa. Usa uma jaqueta de couro preta e jeans. Seu rosto é peculiarmente bonito, másculo. Ele não tem uma beleza de ator de cinema, mas é lindo mesmo assim. O nariz em estilo grego, lábios finos e olhos castanhos. Só de vê-lo sei que me deixaria molhada em tempo recorde se quisesse. Numa segunda análise minuciosa reparo no rosto mais perto. Espere, não pode ser. Esse não é Ryven Blackthorn, é? Não. Impossível. Desde quando ele deixou de ser o menino espinhento e magricelo pra um gostosão nível cento e dez?

— Ryven? Ryven! — minha surpresa é tão notável que minha voz saí meio estrangulada. Não me importo se ele quer ou não; me jogo em cima de seu corpo pra um abraço. — Meu Deus, quanto tempo!

— Faz mesmo um tempinho, Bev. — Blackthorn acaricia minhas costas nuas. Tem braços fortes embaixo de todo o couro.

Não foi só a aparência que mudou. A voz está grave e tem um rouco meio sensual. Quando nos afastamos, me checa dos pés à cabeça. Não sinto que esteja me desrespeitando. Ele parece... surpreso. Claro, ainda estou seminua.

— Eu sei que eu sou linda de qualquer jeito, mas eu tenho que ir em casa me vestir pra não receber uma multa de atentado ao pudor. — Aponto para meu corpo. — Você vai para casa agora, Ol?

— Não. Eu vou dar uma volta pela cidade com Ryven.

— Então até daqui a pouco.

— Até breve, Beverly.

Me despeço dando um beijo no rosto de cada um antes de sair. Por sorte encontro meu carro ainda estacionado onde deixei na noite anterior. Apresso em entrar pela porta do passageiro e sair dirigindo pelas ruas de Skarye Fall. No caminho me pego em pensando em como Ryven Blackthorn me fez perder o fôlego. Ele definitivamente não é mais só o irmão mais velho da minha melhor amiga.

Rachel não está no apartamento quando chego. Banho, troco de roupas e envio uma mensagem para ela.

Onde você tá?

Ela responde minutos depois.

Na casa do Carter. Volto mais tarde.

Deixo o celular cair de lado e agarro o controle da TV. Seleciono um canal de esportes que reprisa jogos do Philips. Uma hora mais tarde os irmãos Blackthorn passam pela porta. Embora eu esteja vestida somente com um blusão que vai até metade das coxas, não me incomodo. É melhor que lingerie.

— Eaí, Ryven. Como vão as coisas?

— Bem. — Ele desaba no sofá. — É o Philips?

— O próprio.

— Bom gosto. — Sorri. Um sorriso branco, largo e de tirar o fôlego de qualquer uma.

Olívia diz algo sobre estar sobrando e saí pra cozinha. Abraço uma almofada.

— Você vai morar aqui?

Ryven nega.

— Não. Carter e Michael me deixaram passar um tempo com eles.

Com certeza deixaram. Carter jamais permitiria Rachel sozinha com um cara tão quente assim. Ainda mais debaixo do mesmo teto.

— Que pena. Seria legal se você morasse aqui. — Digo casualmente. Ele ri. — Você vai fazer faculdade?

— Mudei meu curso de jornalismo investigativo pra cá.

— Vai estudar na Lodge?

— Isso mesmo.

— Seremos colegas. Legal, né?

— Pode crer.

Isso quer dizer que estaremos perto um do outro por pelo menos um semestre. Um semestre que pode ser muito, muito interessante. Isso me dá o presságio de que algo bom está por vir... Bom e muito, muito caótico. 

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